62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
Violência na escola, novas configurações familiares e amor: escutando mães e/ou outras responsáveis.
Enjy Riad Danif 1
1. Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT/Cuiabá.
INTRODUÇÃO:

A pesquisa estava ligada ao projeto maior "Violência nas escolas: escutando todos os atores envolvidos - alunos, professores, funcionários e família". Seu objetivo foi verificar o discurso de pais e/ou outros responsáveis por estudantes matriculados em uma escola pública de Cuiabá/MT do sexo feminino, sobre violência, relações familiares e amor, e de como estas interferem na dinâmica que gera a violência no âmbito escolar. A violência tem sido muito enfocada atualmente, principalmente pela mídia. Parafraseando Endo (2005), a TV e outras formas de mídia transformam a violência em um espetáculo sem conseqüências, tornando-se, "em ritmo crescente um dispositivo que pode atingir qualquer um e do qual qualquer um pode dispor" (p. 48).  Ouvimos também no discurso social que o incremento da violência deve-se, entre outras coisas, à falta de uma estrutura familiar e de amor. De fato, como diz Sayão (2006), as relações estão mudando: "Os relacionamentos no mundo contemporâneo provocam uma insegurança absoluta. [...] As pessoas casam-se sabendo que as relações conjugais têm prazo determinado, só não sabem exatamente quando expira a data de validade". Segundo Paixão (2006), para lidar com a violência presente no discurso da mídia, dos profissionais da escola e de autoridades responsáveis pela avaliação e por propostas de políticas de educação, há a necessidade de se ampliar a relação entre escola e família.

 
METODOLOGIA:

Neste estudo, buscou-se compreender a violência, a família e o amor, com a teoria psicanalítica, através de seus conceitos de inconsciente, desejo e pulsão, e a partir de sua visão de homem como sujeito faltante, desejoso, a partir da castração. Nas palavras de Pereira (2003, p. 27), Freud propõe o sujeito do inconsciente que se manifesta antes da certeza, que está lá onde não se pensa, dividido, quebrado, descentrado, o sujeito definindo-se num inevitável embate com o outro que o habita, permanentemente em busca ilusória de completude.

A metodologia escolhida foi grupo focal e entrevistas semi-estruturadas que foram gravadas, e posteriormente transcritas, permitindo aproveitar maior parte do material fornecido pelos participantes.

Foram definidas 08 categorias com base nas respostas dadas nos grupos focais e nas entrevistas a respeito de violência na escola, configurações familiares atuais e amor, a saber: 1) definição de violência; 2) tipos de manifestação de violência na escola; 3) sugestões para diminuir a violência na escola; 4) definição de família estruturada; 5) avaliação dos novos arranjos familiares: Pai, mãe e filhos; pai e filhos; mãe e filhos; pai, nova esposa, filhos dele e dela; mãe, novo marido, filhos dela e dele; avós e netos; cônjuges de mesmo sexo; 6) influência da família para aumentar ou diminuir a violência na escola; 7) definição de amor; 8) a influência do amor para aumentar ou diminuir a violência na escola.

 
RESULTADOS:

Para as mães e/ou outras responsáveis, a violência resulta da falta de amor, da falta de Deus, do desemprego, da falta de limites, do uso de drogas e bebidas alcoólicas. Foi comum a mãe e/ou outra responsável identificar a manifestação da violência na escola com a não aceitação do outro como ele é [o diferente], o desrespeito ao professor pelo aluno, brigas entre alunos e a não intervenção da escola nessas brigas. Na terceira categoria, sugestões para diminuir o aparecimento da violência na escola, as mães e/ou outras responsáveis responderam que os gestores devem administrar a escola com maior rigor e aumentar a fiscalização nos arredores da escola, com o intuito de identificar a presença de traficantes. Devem ainda cuidar da disciplina e fornecer orientações aos alunos sobre a questão das drogas. Isso não exclui o fato de que os pais devem estar mais presentes na escola, devem participar de reuniões e encontros.

Algumas mães definem família estruturada, em contraste com a própria situação, como aquela formada pelo pai e mãe e que tem dinheiro, emprego e condição para que os filhos estudem em escola particular.

Na avaliação dos novos arranjos familiares elas afirmam que a formação familiar pai, mãe e filhos é a configuração familiar mais adequada para se criar um filho e, portanto mais indicada para diminuir a violência na escola; na de pai e filhos declaram que o pai sozinho não tem estrutura moral e emocional para criar os filhos; em relação a mãe e filhos, respondem que também não é forma ideal já que a mãe fica sobrecarregada com as finanças; em pai, nova esposa, filhos dele e dela, e mãe, novo marido, filhos dela e dele dizem que esse arranjo é complicado, e só terá sucesso se houver carinho, consideração e respeito por todas as partes; na formação avós e netos as mães ou responsáveis acharam normal que as avós criassem os netos, talvez porque algumas fossem avós, outras tinham filhos criados pela mãe ou haviam sido criadas pelas avós ; em cônjuges de mesmo sexo, a maioria declarou que estranha esse tipo de união, sendo que alguns se declaram contra e outros neutros quanto a esse tipo de acordo familiar.

Destacou-se a unanimidade da influência da família e do amor para diminuir a violência na escola, mesmo que não soubessem definir claramente o que é amor.

 
CONCLUSÃO:
A presença de contradições sobre o que as mães pensam sobre a violência, família estruturada e amor, em relação à experiência delas foi inegável. Anunciam que a violência deve-se à falta de estrutura familiar tradicional, e são de família com configuração diferente. Também chama a atenção que anunciem que família estruturada deva ter dinheiro, principalmente para matricularem os filhos em escola particular, já que as entrevistadas têm baixo poder aquisitivo e seus filhos estudam em escola pública. Assim, em seus discursos mostram ideais para diminuir a violência, distantes de sua realidade, portanto, incluindo suas vidas como causadoras de violência. A análise indica que as mães repetem o discurso social, sem perceberem as conseqüências lógicas do que dizem e de certa forma reafirmando os preconceitos e estereótipos sociais que apontam como causas suas maneiras de viver.
 
sociais que apontam como causas suas maneiras de viver.
 
Instituição de Fomento: CAPES
Palavras-chave: Violência, Configurações Familiares, Amor.