62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 2. Literatura Comparada
entre as fraturas do sujeito: UM ESTUDO DE PERSONAGENS BAR/ROSIANAS EM TUTAMÉIA E NO LIVRO SOBRE NADA
Robeilza de Oliveira Lima 1
1. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte/IFRN
INTRODUÇÃO:

O presente estudo está vinculado à linha de pesquisa Poéticas da Modernidade e da Pós-Modernidade, do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, na área de Literatura Comparada - CCHLA/UFRN. Seu objetivo principal é observar a fragmentação das personagens em Tutaméia, de Guimarães Rosa (1908-1967), e no Livro sobre nada, de Manoel de Barros (1916). A pesquisa é relevante, tendo em vista que desvela alguns dos importantes artifícios linguísticos utilizados pelos dois autores na construção de suas personagens.

METODOLOGIA:
Tomamos como base a concepção do filósofo alemão Walter Benjamin (1984) sobre a alegoria barroca, a qual se vale do "fragmento amorfo" e se constitui numa expressão dialética, em que "cada pessoa, cada coisa, cada relação, pode significar qualquer outra" (1984, p. 196). Durante o estudo, observamos os recursos estilísticos usados tanto por Guimarães Rosa quanto por Manoel de Barros na construção de personagens como seres fragmentários e ambíguos.
RESULTADOS:

Estudando as personagens Livíria (chamada também de Rivília, Irlívia e Vilíria) e Drá (denominada ainda como Pintaxa e Nhemaria), ambas personagens de Tutaméia, percebemos que a plurinomeação tem uma estreita relação com o caráter multifacetado, no caso da primeira, e com as sucessivas metamorfoses, no caso da segunda. Com relação às personagens Jó Joaquim e Romão (também de Tutaméia), notamos que são seres impulsionados por suas defeituosas emoções, capazes de usar a imaginação para transfigurar a realidade à sua volta e sempre sujeitos a mudanças. Já no tocante às personagens Bernardo, Mano Preto e Catre Velho, presentes no Livro sobre nada, observamos que o primeiro, como um duplo do poeta mato-grossense, é um típico homem moderno que perdeu as grandes unidades. O segundo, com sua busca pela infância da linguagem, traz à cena uma linguagem repleta de ilogismo e ainda consegue revelar o mutilamento perpetrado pela linguagem automatizada e pela visão de mundo a ela atrelada. Já o último traz à tona a existência do rejeitado, do marginalizado.

CONCLUSÃO:
Diante do exposto, podemos dizer que as personagens rosianas estudadas são indivíduos fraturados, em virtude de serem ambíguos, móveis (sujeitos sempre a novas mudanças), metamórficos, multifacetados, contraditórios em sua trajetória e capazes de reinventar a realidade à sua volta. Já as personagens barreanas são também fraturadas, porque não têm unidade, são repletos de ilogismo, ambivalentes, humanos no limiar do inumano, civilizados no limiar do primitivo, seres "ardentes de resto", mas perfazendo-se novos. Tudo isso nos motiva a afirmar que ambas são de caráter fragmentário e, por isso mesmo, barroco/modernas.
Palavras-chave: Fragmentação, barroco, modernidade.