62ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 4. Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca - 1. Aqüicultura
ANALISE DA UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS DO ESTUARIO VAZA-BARRIS, SERGIPE, PARA A PRÁTICA DA AQUICULTURA
José Danilo Matos Boaventura dos santos 1
Ana Carolina Souto Muhlert 1
Joffeson Santos Silva 1
Herbert Luiz Medeiros Soares 1
Juliana Schober Gonçalves Lima 1
Ricardo Azevedo Evangelista 1
1. Núcleo de Engenharia de pesca, Universidade Federal de Sergipe / UFS
INTRODUÇÃO:

A produção pesqueira do estuário Vaza-Barris (SE) é oriunda de atividades extrativistas, pesca artesanal e aqüicultura. Parcela expressiva da população depende direta ou indiretamente dos recursos pesqueiros locais para alimentação e geração de renda.

A aqüicultura estuarina extensiva é uma prática histórica local realizada por famílias de baixa renda desde os tempos coloniais através do confinamento de espécies de peixes estuarinos. A utilização dos viveiros locais para a criação de espécies aquáticas de maior valor econômico tem sido cada vez mais freqüente. Neste cenário, é notória a expansão da carcinicultura marinha na região, através do cultivo da espécie exótica Penaeus vannamei. Apesar dos benefícios sócio-econômicos, vários estudos apontam que a atividade é geradora de impactos sociais e ambientais negativos.

Neste estudo foi realizado um diagnóstico das práticas da aqüicultura estuarina locais. Considerando que a aqüicultura estuarina pode ter impactos sócio-ambientais negativos e que os viveiros de aqüicultura estuarina localizados no estuário Vaza-Barris, SE, estão inseridos em Áreas de Preservação Permanente (APP), a discussão e análise das práticas de aqüicultura estuarina locais com vistas a adoção de manejos sustentáveis torna-se de grande relevância.

METODOLOGIA:

A caracterização sócio ambiental e do manejo utilizado nos empreendimentos de carcinicultura estuarina foi focada em viveiros localizados no estuário Vaza Barris, SE. Os empreendimentos são localizados no município de São Cristovão, em Áreas de Proteção Permanente. A identificação espacial geográfica dos viveiros foi realizada através de georeferenciamento. Os pontos georeferenciados foram inseridos em cartas de uso do espaço por outras atividades antrópicas e fotos aéreas datadas de 2004. Foram coletados dados relativos aos manejos dos viveiros locais (tipo de alimentação, numero de ciclos por ano, espécies cultivadas, utilização de insumos, densidade de povoamento, peso do camarão na despesca, produtividade) através de observações diretas e entrevistas semi-estruturadas. Foram realizadas observações etnográficas das práticas produtivas e dos saberes e condições de existência dos grupos comunitários locais.

RESULTADOS:

Foram observados 40 empreendimentos de carcinicultura marinha, dos quais 36 são ativos. Além da prática da carcinicultura também foi observado o cultivo extensivo de peixes estuarinos com níveis variados de controle sobre o manejo. Os peixes do gênero Mugil sp. foram observados com freqüência nos viveiros locais destinados a criação extensiva de peixes. A prática de policultivos entre espécies de peixes estuarinos e o camarão Penaeus vannamei foi observada com baixa freqüência.

As carciniculturas apresentaram um numero médio de 2 viveiros por propriedade com áreas que variam de 1 a 3,5 ha. Os viveiros são estocados em média com 7,5 camarões/m². A maioria dos carcinicultores locais pratica um manejo de baixo impacto ambiental caracterizado pela baixa utilização de insumos externos e utilização total ou parcial de alimento natural durante o manejo.

Os viveiros destinados ao cultivo de peixes estuarinos são caracterizados pela utilização exclusiva de recursos do estuário, como alevinos e nutrientes. Apesar do cultivo extensivo de peixes causar menores danos ambientais ao estuário Vaza-Barris, os ganhos econômicos alcançados com a carcinicultura influenciam as escolhas dos produtores locais no momento de utilização dos viveiros para a geração de renda.

 

CONCLUSÃO:

Foi observada grande diversidade de manejos utilizados pelas carciniculturas e pisciculturas estuarinas localizadas em Vaza-Barris, SE. A aqüicultura se mostra como uma alternativa para a geração de renda e segurança alimentar para parcela da população local, entretanto, pelo fato dos empreendimentos de aqüicultura locais estarem localizados em Área de Preservação Permanente, o desenvolvimento efetivo da aqüicultura estuarina enfrenta barreiras como o licenciamento das propriedades e a adoção de modelos de produção diferenciados que possam atuar em APPs. Tais modelos devem ser guiados pelo paradigma da sustentabilidade sócio-ambiental e não somente pelo paradigma da eficiência econômica. Estes resultados também apontam a necessidade das políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da aqüicultura estuarina em considerar a diversidade de formas de produção encontradas nessas áreas, fato que se contrapõe a adoção de modelos únicos de utilização dos recursos estuarinos pelos empreendimentos de aqüicultura. A otimização social e ambiental da aqüicultura estuarina em APPs depende diretamente de processos participativos que considerem as práticas de manejo desenvolvidas pela população local, bem como o conhecimento tradicional das mesmas.

Instituição de Fomento: Universidade Federal de Sergipe
Palavras-chave: aqüicultura, Penaeus vannamei, carcinicultura.