62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 8. Psicologia do Trabalho e Organizacional
BEM-ESTAR E MAL-ESTAR NO TRABALHO EM PROFESSORES DE UMA REDE PÚBLICA MUNICIPAL
Mário César Ferreira 1, 3
Neuzani das Graças Soares Branquinho 2, 1
Tânia Gomes Figueira 4, 1
1. Universidade de Brasília (UnB)
2. Mestranda em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações
3. Prof. Dr. Orientador/Pós-Doutorado, Universidade Paris1 Sorbonne
4. Doutoranda em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações
INTRODUÇÃO:

O absenteísmo e o adoecimento no trabalho docente constituem um problema bem conhecido por pesquisadores e gestores do setor educacional. Isto, a rigor, é tão-somente a '"ponta do iceberg", pois esses indicadores críticos presentes nas estatísticas de diversos municípios são difusos e raramente abordam a questão com profundidade. Investigar os fatores que podem estar na origem dos indicadores críticos do trabalho docente é um desafio científico relevante. O objetivo da pesquisa consistiu em identificar as representações de professores de uma rede pública municipal de ensino sobre as vivências de bem-estar e o mal-estar no trabalho. O enfoque teórico-metodológico adotado se inscreve no campo da "Ergonomia da Atividade Aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho (EAA_QVT) de viés preventivo e de natureza contra-hegemônica às práticas dominantes de QVT em organizações públicas e privadas. Tais práticas se caracterizam pela natureza assistencial ("cardápio" de atividades anti-estresse) e pela função paliativa (não atuam nas causas, mas nos efeitos dos desgastes vivenciados pelos trabalhadores).

METODOLOGIA:

Participaram da pesquisa qualitativa 472 professores efetivos e contratados, correspondendo a 89,2% dos professores de uma rede municipal de ensino em Minas Gerais (N=529), distribuídos em 24 unidades de ensino que oferecem Educação Infantil e Ensino Fundamental. O perfil dos participantes da pesquisa se caracteriza por: sexo feminino 90,7%; faixa etária predominante entre 30 a 44 anos 53,9%; casados 63,5%; pós-graduados 40,1%; atuam na área urbana, 62,0%; com até 5 anos de serviço como professor, 41,8%. Foram garantidas a livre participação e confidencialidade no tratamento e divulgação dos dados. Os participantes responderam, formato impresso, duas questões abertas da parte qualitativa do Inventário de Avaliação de Qualidade de Vida no Trabalho (Inventário de Avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho (IA_QVT): "Quando penso no meu trabalho na escola, o que me causa mais bem-estar é..." e  "Quando penso no meu trabalho na escola, o que me causa mais mal-estar é...". Os dados foram tratados com o auxílio do programa francês Alceste, que permite a análise estatística de dados textuais, e gerou os Núcleos Temáticos Estruturadores (NTEs) do discurso dos professores concernentes às vivências de bem-estar e mal-estar no trabalho.

RESULTADOS:

Os resultados indicaram que a percepção dos professores sobre o bem-estar no trabalho está relacionado a sete NTEs, denominados: a) senso de utilidade do Trabalho (UCEs 24,53%); b) relações socioprofissionais entre os pares (UCEs 19.25%); c) desenvolvimento dos alunos (UCEs 14.91%); d) ensinar e aprender (UCEs 13.98%); e) contribuir para a formação do cidadão (UCEs 10.87%); f) interesse dos alunos e participação em sala de aula (UCEs 8.39%); e g) vínculo afetivo com os alunos (UCEs 8.07%). Nesse caso, cabe destacar que a percepção da importância e do senso de utilidade do trabalho, bem como, a relação com os colegas são as mais significativas fontes de bem-estar no trabalho dos professores.  Com relação às percepções de mal-estar no trabalho se evidenciaram quatro NTEs, denominados: a) relações socioprofissionais com usuários (47.72%); b) falta de reconhecimento e cobranças no trabalho (UCEs 35.92%); c) acesso à escola (UCEs 8.31%); e d) condições de Trabalho, espaço físico (UCEs 8.04%). Os resultados mostram, principalmente, que os aspectos como "falta de reconhecimento" e "cobranças exageradas", "indisciplina e desinteresse dos alunos" e "descompromisso dos pais" são os indicadores críticos que mais contribuem para o mal-estar no trabalho dos professores.              

CONCLUSÃO:

Os resultados encontrados pela pesquisa fornecem uma visão panorâmica das principais fontes de bem-estar e de mal-estar no trabalho dos professores que nascem da experiência com o contexto de trabalho no qual estão envolvidos. Os aportes da pesquisa permitiram fornecer subsídios importantes para os gestores públicos municipais da rede municipal de ensino, visando o enfrentamento dos problemas constatados. Do ponto de vista acadêmico, a pesquisa possibilitou tanto avançar na consolidação da abordagem da Ergonomia da Atividade Aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho (EAA_QVT) quanto estabelecer novas pistas para investigações futuras.

Instituição de Fomento: CNPq; Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais
Palavras-chave: Qualidade de Vida no Trabalho, Ergonomia, Rede Municipal de Ensino.