No decorrer do ensino a maioria dos educadores se depara com algumas barreiras que dificultam o processo de aprendizagem. Na área das ciências biológicas é muito comum que os alunos tenham dificuldade em imaginar e abstrair alguns processos biológicos, principalmente aqueles que acontecem em escala microscópica e não podem ser visualizados pelos alunos. Desta maneira o educador deve ter em mãos algumas estratégias que facilitem a compreensão do aluno. As ferramentas que podem ser utilizadas pelos professores dessa área são as aulas práticas, recursos áudio-visuais e modelos didáticos. No entanto, ocorre uma grande carência de bons laboratórios didáticos nas instituições públicas brasileiras e mesmo em instituições que possuem laboratórios adequados, alguns processos não são facilmente observados em aulas práticas. Os recursos áudio-visuais são bons facilitadores de aprendizagem, no entanto não permitem que os alunos vivenciem os processos biológicos. Neste contexto surge o teatro como uma importante ferramenta que pode ser aplicada ao ensino de biologia e outras áreas do conhecimento. O presente trabalho teve como objetivos elaborar uma apresentação teatral para ser utilizada no ensino da meiose e analisar os resultados da utilização deste recurso.

Foi formado um grupo composto por cinco alunos do curso de teatro da Universidade Federal de Uberlândia, uma professora do curso de teatro da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e um professor de Biologia Celular da Universidade Estadual de Goiás (UnU-Ipameri). Foi elaborada uma apresentação teatral com quatro protagonistas. Cada ator faz o papel de uma cromátide inserida em uma célula, que é representada por um bambolê delimitando a membrana celular. Os atores usam um figurino próprio e desenvolveram expressões corporais que facilitam o entendimento de termos biológicos como cromossomos homólogos e cromátides-irmãs. Na peça os alunos simulam todo o processo meiótico, bem como os possíveis erros que podem ocorrer durante o processo meiótico. A peça foi aplicada a uma turma do primeiro período do curso de biomedicina da UFU. Antes e depois da apresentação foi distribuído um questionário sobre o tema abordado para que os alunos respondessem nos dois momentos distintos, verificando assim se houve um melhor entendimento do processo após a encenação. Ao final da apresentação teatral também foi levantado um debate sobre as percepções e opiniões dos alunos em relação à utilização do teatro aplicado ao ensino.

A análise dos questionários revelou que houve uma melhora na compreensão da meiose após os alunos assistirem a encenação, aumentando 20% da pontuação no questionário.  A discussão feita após a apresentação levantou alguns aspectos interessantes a serem considerados. Os alunos alegaram estar habituados a uma aula expositiva tradicional e a utilização do teatro traz a interação com o aprendizado, sendo que o aluno se envolve com o processo de ensino e se diverte, o que torna o aprendizado dinâmico e espontâneo.  Os alunos também comentaram que diferentemente das explicações no quadro, imagens de livros e transparências, o teatro traz o movimento e uma dimensão diferente dos processos biológicos para a sala de aula, pois o teatro faz com que aquilo que eles vêem nos livros ocupe um espaço similar ao que eles mesmo ocupam, facilitando a visualização e o aprendizado. Os alunos comentaram que foi o primeiro contato com uma metodologia alternativa de ensino e que é importante investir na utilização de modelos alternativos nas atividades de prática de ensino e nas aulas de didática geral. Também foi ressaltada a importância da interdisciplinaridade na formação profissional e pessoal, uma vez que cada área do conhecimento pode trazer formas diferentes de visualizar um mesmo processo.

A utilização do teatro como uma metodologia alternativa para o ensino obteve uma ótima aceitação pelos alunos do primeiro período de biomedicina da UFU, obtendo bons resultados na construção do conhecimento. O uso do teatro se mostrou uma metodologia facilitadora na construção do saber, pois aumentou o interesse dos alunos, fazendo que os mesmos participassem mais ativamente no processo da aprendizagem, despertando seu instinto crítico.