62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
PERSPECTIVAS ECONÔMICAS E SOCIAIS DO MUNICÍPIO DE NOVA MUTUM - MATO GROSSO
Carlos André da Silva 1
Rafaelly Yasmine da Silva 1
Gilson Guimarães Sousa 2
Eduardo Paulon Girardi 3
1. Departamento de Geografia, Bolsista do PET GEOGRAFIA - UFMT
2. Depto.de Geografia, UFMT, Cuiabá/ MT.
3. Professor Dr./Orientador - Depto. de Geografia - UFMT
INTRODUÇÃO:

O município de Nova Mutum está localizado na região central de Mato Grosso, há 260 km de Cuiabá. O relevo plano permite alto grau de mecanização da agricultura, que tem importância econômica determinante para o município. Nova Mutum foi fundado em 1988 como resultado de um projeto de colonização privada, cujas terras parceladas foram vendidas para migrantes do Sul. O município se destaca pela produção e processamento de soja, em médias e grandes propriedades, e pela atividade frigorífica de suínos e aves, configurando uma cadeia do agronegócio. Contudo, resistem no município pequenas propriedades voltadas à policultura ou "integradas" às empresas frigoríficas. Neste trabalho objetivamos apresentar, a partir de dados e observações feitas em campo, breves análises de elementos como: a diferença entre a grande e a pequena propriedade/produção; a influência da monocultura; o sistema de "integração" na produção de aves e suínos; o nível de concentração da terra e os tipos de relações de trabalho. Com isso, demonstramos o intenso desenvolvimento econômico do município e as desigualdades inerentes a este processo, sobretudo aquelas que afetam os pequenos produtores.

METODOLOGIA:

Para a realização dessa pesquisa foram realizadas leituras dos seguintes trabalhos Lênin (1889), Chayanov (1974), Shanin (2005), Abramovay (1992), Kautsky (1889) e Girardi (2008). Através dessas obras pudemos compreender temas e conceitos da questão agrária como: campesinato; diferenciação, desintegração e recriação do campesinato; produção capitalista; agronegócio e renda da terra. Além das leituras, foram utilizadas informações coletadas em um trabalho de campo por meio de entrevistas qualitativas com vários sujeitos: um sojicultor médio (520 ha); um camponês policultor que cria bovinos de corte e leite, porcos e galinhas e produz soja, mandioca, hortaliças e cachaça (40 ha); gerente da ADM. Também foi realizada uma visita ao assentamento Ribeirão Grande, em Nova Mutum, onde foram entrevistados assentados e lideranças, inclusive um representante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde - MT, ao qual uma associação do assentamento está vinculada.

 

 

RESULTADOS:

Nas análises foi possível constatar que a produção de soja é uma atividade voltada para médios e grandes estabelecimentos, sendo viável a partir de 1.000 ha. Das 60 sacas colhidas pelo agricultor, 50 são destinadas ao pagamento dos custos da produção (insumos e implementos comprados de grandes empresas multinacionais). Por isso, em geral os camponeses (menos de 200 ha) não produzem soja e estão envolvidos em duas atividades principais: a "integração" ao setor de produção de suínos e aves ou a policultura direcionada ao mercado da cidade. No primeiro caso, a atividade implica em uma série de restrições e condicionamentos quanto a utilização da propriedade camponesa, bem como está vinculada a um financiamento adquirido pelo próprio camponês para financiar a infraestrutura dos barracões de criação, sendo notável o  baixo ganho obtido pela atividade, o que denota uma situação de subordinação. No segundo caso, a liberdade do produtor é maior, contudo, ele sofre com a falta de incentivos do Estado e com a instabilidade da produção e do mercado local. A produção do Assentamento Ribeirão Grande está direcionada à policultura, com iniciativas de produção de mel e óleo de copaíba. O assentamento possui uma associação de economia solidária, que conta inclusive com recursos Holandeses.

CONCLUSÃO:

A produção de grãos que caracteriza o centro de Mato Grosso é seletiva, direcionada ao grande estabelecimento e determinada pelo sistema do agronegócio através do capital internacional, representado pelas empresas (insumos, implementos, comercialização e processamento) e pelo mercado de commodities. O camponês não tem condições de produzir e competir no sistema do agronegócio. Neste estudo, o camponês busca formas diversificadas de resistência, como a policultura para o mercado local que, no caso de Nova Mutum, é propício, já que o número de estabelecimentos voltados a produção de hortifrutigranjeiros é pequena. O mesmo capital que exclui o camponês da produção de grãos o utiliza para sua reprodução contraditória através da "integração" na produção de aves e suínos para grandes empresas. Neste sistema, o trabalho e a terra camponeses são utilizados pelo capital por serem indispensáveis na atividade granjeira. No caso dos assentados, são camponeses recriados pela própria luta e que tentam, após conseguirem a terra, resistir nela, assim como os outros camponeses. A falta de incentivo aos camponeses foi verificada em diversos momentos. Contudo, a maior parte dos entrevistados se mostrou resistente e sem objetivos de abandonar o campo.

Palavras-chave: Nova Mutum - MT, Campesinato, Agronegócio.