62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
MEMÓRIA E IDENTIDADE OPERÁRIA NA VILA DE FERNÃO VELHO
Ivo dos Santos Farias 1
1. Universidade Federal de Alagoas/UFAL
INTRODUÇÃO:
Apesar de ter surgido em meados do século XIX, o sistema "fábrica com vila operária" (Leite, 1988) só teve seu êxito econômico no Brasil entre o início do século XX e as décadas de 1960-70. Assim, tomamos a antiga vila operária da indústria de fiação e tecelagem Fábrica Carmen de Fernão Velho (atualmente situada na malha urbana da cidade de Maceió-AL) como objeto de estudo à nossa pesquisa de mestrado em Sociologia, a fim de analisar as relações de resistência operária dentro de um sistema de dominação patronal, que criou um território fechado para abrigar sua força de trabalho, recrutando-a e aliciando-a, mantendo-a "presa" e "controlada" através da moradia, da água, das festas e de diversos outros elementos que uma vez bancados pela fábrica, cria um ar de orfandade após sua saída. Entretanto, para a construção de nosso trabalho, partiremos de uma análise bibliográfica e de um estudo sobre a memória e a identidade dos antigos operários diretamente construtores desta história, através de entrevistas semi-estruturadas sobre o grupo escolhido a fim de perceber a relação de sua identidade com a resistência a este sistema fabril de dominação.

 

METODOLOGIA:
A pesquisa consta de entrevistas semi-estruturadas entre 15 a 20 ex-operários, atores diretos do sistema fábrica-vila operária, com idades acima de 60 anos, sendo ainda não realizadas diretamente as entrevistas, mas tendo-se alguns contatos já pré-estabelecidos ao campo de pesquisa, devido o autor ser morador da comunidade. A escolha por este grupo tem como intuito perceber a "interiorização da dominação" e a "resistência à dominação" (BOURDIEU, 1980) desses sujeitos no sistema por eles vivenciados. Além disso, usaremos a coleta de dados documentais escritos na própria fábrica, no Sindicato dos Trabalhadores de Fernão Velho e no Arquivo Público do Estado de Alagoas e recursos fotográficos e audiovisuais disponíveis tanto nestes institutos, como possivelmente com filhos ou familiares ou com os próprios atores diretos deste sistema. Portanto, nossa pesquisa se constitui numa análise de caráter qualitativo, sendo realizada pesquisa de campo na antiga vila operária de Fernão Velho, situada no município de Maceió-AL, onde serão realizadas entrevistas já citadas anteriormente. A participação destas pessoas será de forma voluntária, através de um convite feito antecipadamente, sendo todas as informações sobre o projeto explicitadas e as possíveis dúvidas esclarecidas.

 

RESULTADOS:
Com este estudo sobre a vila operária de Fernão Velho, pretendemos deslocar a perspectiva uníssona e dominante da história da sociedade alagoana do eixo da cana-de-açúcar para abrir margem a outros focos, tais como a industrialização, iniciada na segunda metade do século XIX e que tem fundamental importância econômica e cultural para o Estado, pois contribuiu significativamente para a modernização e urbanização de suas regiões (LESSA, 2009), principalmente entre início do século XX até as décadas de 1960/70, período de seu auge econômico. Com isso, nosso trabalho servirá como referência para estudos similares, através de levantamentos de dados e discussões teóricas e práticas para o estudo sobre a construção e/ou desconstrução de uma identidade operária no estado de Alagoas, e assim contribuir para formação de um terreno propício ao entendimento histórico e social da própria comunidade, a qual hoje se encontra em situação de abandono político e administrativo.
CONCLUSÃO:

Há uma grande lacuna no que diz respeito ao estudo das fábricas com vila operária no estado de Alagoas, onde predomina uma constante busca de controle do patronato sobre sua classe operária, num tipo de relação consolidada através do investimento nas mais variadas festas, desfiles e nos "espaços de encontro e/ou lazer" (FARIAS, 2008), que além de servirem como dominação, eram também usados como propaganda de um suposto "bem-estar" de sua classe trabalhadora, os quais continuam presentes nos patrimônios materiais, tais como a Igreja São José, recreio operário, sede Othon, estação ferroviária, "senado", a fábrica, entre outros, que se mantém vulneráveis a destruições. Sobretudo, este estudo visa analisar as diversas formas de resistência e autonomia operária que se davam no cotidiano da comunidade de Fernão Velho (antiga vila operária), situada no município de Maceió-AL, como caso-limite ao estudo do sistema fábrica com vila operária, tratando-se da primeira indústria têxtil instalada em Alagoas (em 1857).

Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas/FAPEAL
Palavras-chave: Memória, Identidade de Classe, Fernão Velho (AL).