A deficiência visual, de etiologia congênita ou adquirida, é uma condição grave que dificulta a vivência dos acometidos em várias facetas da vida. No Brasil, as Pessoas com Deficiência Visual-PcDV enfrentam dificuldades para obter instrução, qualificação profissional e inserção no mercado de trabalho, bem como dificuldades no convívio social devido as barreiras arquitetônicas e atitudinais. A maioria desses indivíduos vive com baixa renda e, consequentemente, saúde e qualidade de vida prejudicadas. Apesar do Estado brasileiro ter sancionado políticas de proteção às PcDV, os dados referentes a essa demanda são insuficientes no concernente às causas da deficiência e às condições sociais, demográficas e econômicas, as quais, estão submetidos. Nessa perspectiva, o estudo é relevante pelo importante problema de saúde pública que se apresenta, e porque poderá contribuir com o preenchimento das lacunas supracitadas. Espera-se que os resultados possam subsidiar análises mais amplas sobre as questões inerentes ao desenvolvimento humano deste segmento social. Os objetivos da pesquisa foram investigar o perfil sócio-demográfico de PcDV residentes em Campina Grande-PB e identificar os fatores etiológicos da condição de deficiência visual.

Foi realizado estudo transversal e quantitativo, no período de agosto de 2008 a agosto de 2009, em 62 Unidades de Saúde da Família distribuídas nos seis distritos sanitários existentes no município campinense. A população alvo da pesquisa foram todas as PcDV adscritas na Estratégia Saúde da Família e a amostra foi composta por 108 sujeitos. Os critérios de inclusão foram: ser PcDV severa, adulto (≥ 18 anos), residir em zona urbana e aceitar participar. O critério de exclusão foi: apresentar função cognitiva prejudicada. Para a coleta de dados utilizou-se um questionário, o qual, foi preenchido pelo pesquisador mediante as respostas dos participantes. As questões versaram sobre variáveis sócio-demográficas e de investigação das etiologias que evoluíram para deficiência visual. Para a análise dos dados utilizou-se o software Epi Info versão 3.5.1. Todos participantes foram informados sobre os propósitos da pesquisa e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Verificou-se na amostra: 44,5% de homens e 55,5% de mulheres; Alta amplitude de idade (min=18; max=105 anos), destacando-se o intervalo 18-37 anos para homens (16,7%) e 68-87 anos para mulheres (13%). Quanto ao estado civil: casado (29,6%), solteiro (29,6%), divorciado (28,7%), viúvo (6,5%) e união estável (5,6%). No tocante a escolaridade, constatou-se: nenhuma escolaridade (33,3%), alfabetização (33,3%), fundamental (9,3%), médio (15,7%), graduação (7,4%) e pós-graduação (1%). A maioria vive com até dois salários mínimos (75,9%). Identificou-se 18 etiologias: conjuntivite (1%), úlcera de córnea (1%), acidente de gravidez (1%), acidente automobilístico (1%), distrofia hereditária (2,7%), rubéola na gravidez (2,7%), atrofia do nervo óptico (4,6%), diabetes mellitus (4,6%), acidente doméstico (1,8%), arma de fogo/branca (1,8%), degeneração retiniana/macular (1,8%), acidente vascular encefálico (6,5%), acidente de trabalho (6,5%), miopia (6,5%), glaucoma (23,1%), catarata (13%), descolamento da retina (10,2%) e causa desconhecida (10,2%). Tais dados são preocupantes, pois condições sócio-demográficas desfavoráveis podem influenciar negativamente a saúde e a qualidade de vida das pessoas.

O estudo permitiu uma compreensão sobre as condições sócio-demográficas de PcDV, ficando evidente a precariedade deste segmento social no concernente ao grau de instrução e renda mensal. Conclui-se que a deficiência visual pode ser causada por várias condições, fato que pode dificultar o processo de prevenção. Sugere-se o desenvolvimento de políticas públicas que considerem as questões das PcDV de modo a contribuir com uma melhor qualidade de vida e saúde para esses indivíduos.