62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 2. Comportamento Animal
ESCOLHA A FLOR DA PELE: ABORDAGEM EVOLUTIVA DA PERCEPÇÃO DE COR DE PELE OU RAÇA NA SELEÇÃO DE PARCEIROS ROMÃNTICOS
Felipe Nalon Castro 1
Wallisen Tadashi Hattori 1
Maria Emilia Yamamoto 1
Fívia de Araújo Lopes 1
1. Depto. de Fisiologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
INTRODUÇÃO:
Nossa espécie é extremante social e o sucesso das atividades que exigem a cooperação entre dois ou mais indivíduos depende diretamente das qualidades das pessoas com as quais interagimos. Quando tratamos de relacionamentos românticos, a seleção dos parceiros é mais delicada, uma vez que o envolvimento romântico exige maior comprometimento, convívio intenso e apresenta finalidades reprodutivas. Sabe-se que a seleção de um determinado parceiro romântico pode afetar o sucesso reprodutivo do indivíduo e que a escolha de um parceiro com alta qualidade pode representar maiores benefícios e menores custos para quem a realiza. Todavia, a seleção também depende da disponibilidade dos parceiros no ambiente, bem como das características que os indivíduos possuem e das que buscam nos parceiros. Diversos estudos indicam que as pessoas escolhem seus parceiros com base na avaliação de características físicas, habilidade de convívio social e traços relacionados à capacidade de aquisição e posse de recursos. Entretanto, estes estudos não investigaram a importância da percepção da cor de pele ou raça nas escolhas românticas. O presente trabalho investigou a existência de uma associação entre o sexo e a cor de pele ou raça dos sujeitos com a cor de pele ou raça de seus parceiros românticos.
METODOLOGIA:
Participaram da pesquisa, 312 estudantes universitários, sendo 194 mulheres (média de idade ± DP = 21,56 ± 2,27 anos) e 118 homens (média de idade ± DP = 21,61 ± 2,50 anos). A coleta de dados foi conduzida na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, RN. No estudo, os sujeitos responderam individualmente um questionário anônimo, no qual foi questionada a percepção que apresentam de sua cor de pele ou raça e da cor de pele ou raça de seus parceiros românticos, utilizando as categorias definidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): Amarela, Branca, Indígena, Parda e Preta. Para averiguar se a distribuição da percepção de cor de pele ou raça da amostra representa a distribuição observada em Natal, realizamos um levantamento junto ao banco de dados do IBGE (Censo 2000). Na análise inicial, separamos os sujeitos em grupos, de acordo com a cor de pele ou raça auto-relatada, e investigamos, para cada grupo, a existência de associação entre o sexo dos sujeitos (masculino e feminino) e a cor de pele ou raça dos parceiros. Nestas análises utilizamos testes qui-quadrado (α = 0,05). Para verificar a associação entre a cor de pele dos sujeitos e a de seus parceiros realizamos uma Análise de Correspondência (ANACOR) (α = 0,05).
RESULTADOS:
Os resultados indicam que não existem preferências sexuais para cor ou raça. A proporção de parceiros das diversas cores de pele ou raças foi similar entre homens e mulheres com cor ou raça amarela (χ²(3)=2,76, P=0,43, N=24), indígena (χ²(1)=1,88, P=0,17, N=5), parda (χ²(4)=3,30, P=0,51, N=121) e preta (χ²(2)=0,48, P=0,78, N=12). A associação para o grupo com cor ou raça branca (χ²(4)=11,70, P=0,02, N=150) foi desconsiderada devido ao elevado número de valores esperados abaixo de 5. Por outro lado, a ANACOR indicou uma associação entre a cor ou raça dos sujeitos e a dos parceiros (χ²(16)=71,27, P<0,01, N=312). Os indivíduos com cor ou raça amarela, branca e parda (independente do sexo) apresentaram maior associação com parceiros de mesma cor ou raça. Indivíduos com cor ou raça preta e indígena possuem maior associação com parceiros de cor ou raça branca. Acreditamos que as minorias tendem a selecionar parceiros com cor ou raça mais freqüente na população. No entanto, apesar de minoritário, os sujeitos de cor ou raça amarela apresentaram maior associação com parceiros da mesma cor ou raça, que pode ser devida a fatores culturais.
CONCLUSÃO:
Acreditamos que o convívio com indivíduos de determinada cor de pele ou raça afeta as escolhas realizadas, uma vez que os indivíduos com cor de pele ou raça mais freqüente na população escolhem parceiros com cor de pele ou raça similar. No caso das minorias, acreditamos que as escolhas são realizadas em função da cor de pele e raça mais freqüente na população, exceto para os indivíduos que se auto-avaliaram com cor de pele ou raça amarela. Destacamos que não foram verificadas diferenças sexuais quanto às escolhas realizadas e a cor de pele ou raça dos parceiros, o que pode ser explicado devido ao fato de que as características pessoais, habilidades de convívio social e disposição para conquistar recursos independem da cor de pele ou raça das pessoas.
Instituição de Fomento: Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e Coordenação de Aperfeiçoame
Palavras-chave: Psicologia evolucionista, Cor de pele ou raça, Escolha de parceiros.