62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 2. Enfermagem de Saúde Pública
UM OLHAR SOBRE A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM HANSENÍASE NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
Arieli Rodrigues Nóbrega Videres 1
Antônio Edson Olegário Sobreira Júnior 1
Maria Mônica Paulino do Nascimento 2
Tarciana Sampaio Costa 1
Raionara Cristina Araújo dos Santos 1
Clélia Albino Simpson 1
1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN
2. Universidade Federal de Campina Grande - UFCG
INTRODUÇÃO:

Atualmente, a hanseníase constitui um sério problema de saúde pública para o Brasil e para outros países, devido à sua magnitude e alto poder incapacitante, uma vez que atinge de forma mais prevalente, de um lado, a faixa etária economicamente ativa e, do outro o de baixo nível sócio-econômico. Nesse âmbito, reconhece-se a necessidade do profissional enfermeiro possuir um olhar epidemiológico efetivo para operacionalizar as ações de prevenção e controle da doença, bem como, uma atitude de vigilância em relação ao seu potencial incapacitante. Assim, objetiva-se conhecer a assistência de enfermagem voltada ao portador de hanseníase na Estratégia Saúde da Família (ESF). O estudo apresenta-se com relevância social, pois oferece ao enfermeiro, um entendimento acerca de suas atribuições decorrentes do processo de cuidar em hanseníase no âmbito da atenção básica de saúde. Credita-se aos cuidados prestados uma assistência integral, qualificada e humanizada, voltada ao atendimento das necessidades bio-psico-sócio-espirituais dos usuários. Torna-se mister salientar a escassez de publicações sobre as ações desenvolvidas pelo enfermeiro na atenção básica em hanseníase dificultando o aprofundamento das discussões e, conseqüentemente, da reflexão da prática e dos saberes envolvidos.

METODOLOGIA:

Trata-se de um estudo quantitativo, do tipo exploratório-descritivo, desenvolvido nas ESF sediadas no município de Cajazeiras, localizado no interior do estado da Paraíba. A população foi formada por todos os enfermeiros que atuam nas ESF do município, perfazendo um universo de 14 profissionais. Deste, foram escolhidos através de uma amostragem não-probabilística intencional 11 enfermeiros para compor a amostra do estudo. Como critérios de inclusão foram selecionados profissionais com mais de seis meses de atuação nas ESF da zona urbana e, com pelo menos um portador de hanseníase cadastrado na unidade. Os dados coletados no período de abril e maio de 2008 através de um questionário semi-estruturado foram analisados de forma descritiva, sendo as questões fechadas analisadas quantitativamente, com cálculos de estatística descritiva. As questões abertas foram analisadas levando-se em consideração os relatos dos participantes, para elaboração de categorias e contabilizadas as freqüências. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade Santa Maria (FSM-PB) sob protocolo de n° 00503008, com o intuito de atender aos aspectos éticos descritos pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/MS que dispõe sobre pesquisas que envolvem seres humanos.

RESULTADOS:

Em relação ao perfil sócio-demográfico, 91% dos enfermeiros eram do gênero feminino; 45,4% tinham entre 20 a 30 anos de idade; 73% cursaram uma pós-graduação Lato Senso; 63,6% apresentaram menos de 10 anos de formação acadêmica; e, 82% realizaram cursos de capacitação na área de hanseníase. Ainda, 54,5% dos enfermeiros assistiam de seis a 10 portadores na unidade. Verificou-se a preocupação dos enfermeiros em desenvolver ações preconizadas pelo Programa Nacional de Controle da Hanseníase (PNCH), no entanto, acabam direcionando sua assistência para uma prática individual, biológica e curativa, elucidando, sobretudo a administração da dose supervisionada (25%), orientação ao doente (20%), prevenção de incapacidades físicas (10%), acompanhamento dos contatos domiciliares (10%), avaliação das reações hansênicas (10%), realização da busca ativa de novos casos (5%), avaliação do grau das incapacidades físicas (5%), avaliação neurológica (5%), avaliação clínica dos portadores conforme a necessidade (5%), e, atuação na cura da doença (5%). Com isso, o enfermeiro deve transcender o aspecto clínico da doença e focalizar sua assistência em ações educativas de prevenção e, trabalhos em grupo com vistas na diminuição do estigma e na melhora da qualidade de vida do indivíduo e sua família.

CONCLUSÃO:

Percebe-se que os enfermeiros da atenção básica voltam sua prática para o aspecto clínico da hanseníase, focalizando o tratamento e os sintomas da doença, estando essa práxis diretamente relacionada ao modelo positivista, ainda fortemente presente na saúde, o que contraria os princípios do Sistema Único de Saúde, na perspectiva do modelo epidemiológico e da descentralização proposta pelo PNCH. Dessa forma, perpetua-se o modelo clínico centrado na doença em detrimento aos mecanismos de ajustamento psicossociais e afetivos do portador e familiar através da ESF. Assim, vê-se a necessidade de um esforço organizado de toda a rede básica de saúde, principalmente dos enfermeiros, no sentido de atuarem de forma criativa e coletiva sobre essa problemática, inserindo em sua consciência crítica o elemento integralidade, para que, partindo de um contexto complexo e com o qual está em constante interação, possibilite ações transformadoras, integralizadas e mútuas.

Palavras-chave: Assistência de Enfermagem, Atenção Básica, Hanseníase.