A dor torácica ou "dor no peito" é a queixa mais comum de pacientes atendidos em serviços de emergência levando freqüentemente a internação, dado a complexidade clínica. A variedade e possível gravidade das condições clínicas manifestadas pela dor torácica fazem com que seja primordial um diagnóstico rápido e preciso das suas causas. Esta diferenciação entre as doenças que oferecem risco de vida, como as de origem cardiovascular, ou não, é um ponto crítico na tomada de decisão para definir sobre a liberação ou admissão do paciente ao hospital e de iniciar o tratamento ou não. Desse modo, a avaliação e a mensuração deste tipo de dor constituem-se um desafio, pois deve-se considerar a subjetividade, complexidade e multidimensionalidade da experiência dolorosa para direcionar o raciocínio clínico para o diagnóstico em tempo hábil. Esta pesquisa teve como objetivo geral avaliar a dor torácica em pacientes atendidos em serviço de emergência cardiopulmonar de referência da macrorregião de Fortaleza-CE. Os objetivos específicos buscaram identificar as características da dor destes pacientes e relacionar a percepção e a intensidade com a localização relatadas durante a entrada na emergência e após o atendimento.

Pesquisa quantitativa e transversal, do tipo descritiva e exploratória, realizada durante o período de maio de 2008 à agosto de 2009 em uma amostra de 430 pacientes com queixas de dor torácica, atendidos em uma unidade de urgência cardiopulmonar de um hospital de referência do Estado do Ceará. Aplicou-se formulário após assinatura do termo de consentimento contendo questões fechadas sobre certas características da dor torácica (intensidade, percepção, localização e experiências anteriores relatadas) e a relação da percepção e localização relatadas durante a entrada na emergência e após o atendimento. Parecer favorável do CONEP/BR (nº431/07). Os dados obtidos foram tabulados em software Excell e organizados em quadros e tabelas para analise descritiva dos dados correlacionados, sendo discutidos segundo literatura pertinente ao tema.

Encontrou-se que a maioria da amostra é proveniente do município de Fortaleza (56,98%), com idade entre 61 a 70 anos (22,79%), do sexo feminino (50,70%) e com baixo índice de escolaridade (73,19%). Com relação às características da dor, obteve-se que a maioria dos pacientes ao dar entrada no serviço de urgência, relatou como sendo intensa o nível de intensidade da dor (27,16%; n=243), predominantemente localizada na região precordial (60,90%, n=243). Quanto à percepção da dor obteve-se que a dor em pontada foi a mais relatada pelos usuários (25,75%, n=396). Depois do atendimento, percebeu-se que a maioria dos entrevistados não relatava dor (67,65%, n=269) e daqueles que apresentavam dor, a maioria a referiu na região precordial (18,21%, n=269) com predomínio da percepção da dor em pontada (8,55%, n=269). Ao relacionar a localização e a percepção da dor antes e depois do atendimento obteve-se que prevaleceu a dor em pontada na região precordial (Antes: 15,9%, n= 396; Depois: 6,31%, n=269). Essas características da dor são comuns em pacientes que dão entrada no serviço de emergência e nem sempre se traduzem em internações regulares. Houve diferença entre as evidências clínicas da dor antes e depois.

Conclui-se com o estudo que as características da dor relatadas pelos pacientes foram divergentes, o que demonstra a subjetividade e a complexidade da experiência dolorosa, e a diversidade das doenças apresentadas pelos usuários do serviço. Pode-se observar com o estudo a singularidade de cada paciente, pois mesmo aqueles que apresentavam a mesma patologia relataram características diferentes como intensidade, local e percepção para a dor que estavam sentindo. Percebeu-se também que a localização e a percepção da dor mais referida representam um dos principais indícios de adoecimento cardíaco, o que caracteriza a escolha correta pelos pacientes que buscaram o serviço especializado.