62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana
MOVIMENTO HIP HOP NA PERIFERIA: PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADES E O ENGENDRAMENTO DA MICROPOLÍTICA
Julimar da Silva Gonçalves 1
Norma Takeuti 2, 1
1. Depto. Ciências Sociais/PPGCS, Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ UFRN
2. Profa. Dra./Orientadora
INTRODUÇÃO:
A problemática em questão envolve o segmento juvenil pertencente às camadas menos favorecidas da nossa sociedade e aglutina abordagens que abarcam a exclusão social e todos os desdobramentos inerentes a esta condição. Construí-la e decifra-la a partir das significações individuais expressas pelos jovens representa a questão central que instiga a nossa investigação. As diversas manifestações apresentadas pelos jovens vêm, desde então suscitando um olhar mais aguçado e, ao mesmo tempo, mais sensível aos seus movimentos cotidianos. A nossa inquietação inicial sobre a percepção destes jovens, compreendidos por nós como relegados da nossa sociedade ganham novos contornos e interfaces, uma vez que o nosso olhar busca aprofundá-las no sentido de captar algo ainda mais subjetivo, além do que foi apresentado pelos jovens, no tocante à produção de sentido na vida cotidiana, isto é o que percebemos no movimento hip hop na periferia a partir da arte, da afetividade e da solidariedade, sobretudo na elaboração de um movimento micropolítico sinalizados na construção de vida grupal.
METODOLOGIA:
Em termos metodológicos, a nossa pesquisa tratará de alavancar os elementos indispensáveis para realização da análise qualitativa. Ao optarmos pelo universo dos jovens de bairros periféricos é relevante obtermos o relato de suas vivências: de suas conquistas, de suas perdas, de seus conflitos, de suas carências materiais, sobretudo nos planos afetivo e simbólico. Conseqüentemente, a partir das experiências cotidianas desses atores-sujeitos sociais, apreenderemos a maneira como eles buscam ressignificar suas práticas individuais e coletivas, bem como a relação destas com o sistema social dominante que vem, geralmente, determinar a sua conduta social. Os trechos das músicas de hip hop retratam a realidade social vivenciada na periferia expressando as condições urbanas precárias, tanto no plano material quanto subjetivo, que bloqueiam a realização de um lugar social menos sofrido, dotado de dificuldades e perdas. Este cenário social suscita a reflexão acerca da produção de subjetividades de jovens inscritos em movimentos do hip hop da periferia.
RESULTADOS:
O crescente progresso tecnológico transformou completamente a economia. A partir dele produzimos novas formas de relações sociais: mantemos contato pela internet. Estas transformações também abrangem e interferem no cenário político: predominam governos democráticos e participativos com discursos voltados para questões sociais e direitos humanos. Paradoxalmente temos, tanto mais qualidade de vida quanto persistência da pobreza e miséria, além de perseguições políticas e violações dos direitos humanos. Estas nítidas transformações no âmbito global dinamizam e interferem em múltiplos espaços sociais. As letras do hip hop espelham estas crescentes transformações? Residem nestas experiências, movimentos, ritmos, que não se resumem a momentos estanques e pontuais. Construímos a hipótese inspirados em Deleuze na qual este "mapa ou retrato periférico" comporta o sentido próprio da periferia no que diz respeito a sentimentos, crenças, valores e maneiras de agir. Acreditamos que esta realidade social representa o que é definido por Deleuze como exercícios de singularização nos quais se busca extrair o único no múltiplo, na linguagem deleuziana escrever (n-1).
CONCLUSÃO:
É no conceito de devir que reside a possibilidade de capturar as singularidades dos movimentos culturais destes jovens periféricos enquanto processo, nunca como início, meio e fim de uma experiência, mas um processo, uma resistência, uma criação a partir dos seus próprios meios: uma insurreição nas palavras deleuzianas na qual o sujeito evoca novos poderes e novos saberes que ao ocorrerem escapam tanto dos saberes constituídos quanto dos saberes dominantes (Vargas, 1990). E quanto aos efeitos, dito de outra maneira, às repercussões causadas por estes movimentos juvenis, em particular o hip hop, tanto no nível micro circunscrito à relação jovem-periferia, quanto no nível macro, jovem-sociedade-periferia, sugerem, na esteira de Foucalt (1979) possibilidades de novas formas disruptoras de relacionamento consigo e com os outros. É um movimento micropolítico de construção e reconstrução do sujeito? Nas pistas fornecidas por Foucault e Deleuze reside, acreditamos, a compreensão destes novos fazeres cotidianos periféricos no tocante à afetação, captura e devolução, para a construção e reconstrução dos sujeitos. Esta problemática se situa no nível da produção de subjetividades, se refere aos modos de expressão, modos de viver, modos de pensar, específicos e singulares.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Jovens, Inventividade social, Micropolítica.