62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
NARRATIVAS DE PROFESSORAS EM MEMORIAIS: PISTAS SOBRE PROCESSOS DE FORMAÇÃO DOCENTE
Jacqueline de Fátima dos Santos Morais 1, 2
Daniela Bruno Quintanilha 1
Deylla Wiviane de Araujo Batista Caetano 1
Camila Albuquerque da Cruz Mira 1
1. Faculdade de Formação de Professores da UERJ
2. CAp-UERJ
INTRODUÇÃO:

Este pôster é resultado de um trabalho que envolve alunos de graduação e pós-graduação, todos da Faculdade de Formação de Professores da UERJ. Tem como objetivo a produção e análise de memoriais tanto como parte do processo de formação docente, quanto de formação destes sujeitos como pesquisadores. Temos defendido a importância dos relatos de vida como um lugar privilegiado de produção de conhecimento sobre si e sobre a profissão docente num processo de pesquisa-formação (Josso,2006). A produção da escrita autobiográfica, narrativa que traz memórias e histórias de vida, escolares e da própria formação docente, tem contribuído para que cada estudante-pesquisador tome consciência das escolhas não apenas pessoais mas também profissionais e, em especial, pela docência. Revisitar a história individual a partir de quem somos no momento presente, possibilita encontrar pistas acerca das concepções que permeiam e embasam nossas práticas pedagógicas. Na  escrita de memoriais encontramos reflexões sobre fazeres docentes, tanto quanto a problematização de experiências (LARROSA, 2002) vividas no cotidiano. A escrita de si é vivida, portanto, como um processo reflexivo de auto-formação.

METODOLOGIA:

Nas últimas décadas têm sido desenvolvidos estudos nos quais as narrativas têm figurado como um importante instrumento de pesquisa no campo da educação. A escrita de memoriais tem permitido a produção de inúmeras reflexões (CONNELLY & CLANDININ, 1995). Nesse sentido, o estudo dos memoriais implica a compreensão dos praticantes do cotidiano (ALVES, 2001) como produtores de conhecimentos e saberes, motivo pelo qual, em nossa pesquisa, buscamos  romper com a forma hegemônica de se praticar ciência, calcada no controle, na neutralidade e na padronização (CHIZZOTTI, 2006). Buscamos uma ação investigativa na qual a professora-autora tenha a voz garantida (SUÁREZ, 2007), em um movimento de (com)partilhamentos e alargamento de olhares. Temos problematizado a forma como lidamos com os conhecimentos produzidos pelas professoras em suas práticas cotidianas e que lugar temos reservado para as narrativas escritas das professoras - geralmente negligenciadas. As narrativas autobiográficas são fonte de múltiplas experiências, memórias e histórias (BENJAMIN, 1985) e permitem afirmar que a narrativa escrita das professoras pode ser entendida como um processo de construção da autoria e, igualmente, possibilidade de movimentos emancipatórios (LACERDA, 2009).

RESULTADOS:

Todo o movimento desencadeado pela rememoração das histórias de vida e de formação se constitui como um momento não só de compreensão do passado mas ressignificação do passado. É neste sentido que se dá a importância de experiências como esta, posto que a vida passa a ser vista como lugar de memória e de história. Assim sendo, a memória é por nós entendida como um fenômeno construído coletivamente, isto é, um fenômeno coletivo e social. Portanto, as narrativas escritas das histórias de vida se constituem na fronteira entre o que éramos e o que somos. Desta forma, o trabalho de produção de narrativa de si abre-se não só como possibilidade de compreensão dos percursos formativos mas torna-se em si uma experiência formadora. Esse resgate tem possibilitado perceber o percurso de vida como permeado por tensões, conflitos, encontros, desencontros, avanços e recuos. A história precisa ser narrada para não ser esquecida, como diria Walter Benjamin. Consideramos que os conhecimentos se produzem coletivamente, em permanente processo de interação e interlocução, por fios de muitos tecidos que também nos tecem. A experiência da escrita de si, evidenciou a complexidade das relações pessoais e educativas e possibilitou a ressignificação da identidade docente.

CONCLUSÃO:

Neste pôster compartilhamos uma experiência onde cada uma pôs em jogo suas histórias e narrativas, oferecendo-se a ler (Larrosa, 2007), possibilitando, desta forma, saltos de qualidade tanto no texto escrito quanto nas reflexões sobre pesquisar em educação e nos processos educativos que vive ou viverá como docente. São as muitas trajetórias e reflexões epistemológicas deste rico e produtivo movimento que projetos de investigação desta natureza potencializam e fortalecem, pois permite a elaboração do conhecimento sobre si e sobre as suas escolhas profissionais. Ao narrarem sob forma de texto escrito suas trajetórias, as autoras (com)partilham saberes e reflexões acerca das concepções que permeiam e embasam suas práticas pedagógicas, problematizando e ressignificando as experiências (LARROSA, 2002) vividas. O resgate das memórias, e portanto das histórias dos sujeitos da escola, cria um movimento de reconhecimento destes como principais narradores da própria história. A busca pela rememoração do vivido pelos sujeitos através da narrativa, tem permitido a reflexão sobre a própria história e sobre a importância e necessidade de registrar e organizar os registros da história vivida e narrada.

Palavras-chave: narrativas docentes, memoriais, formação de professores.