62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 8. História Regional do Brasil
RELATOS DE VIDAS SERINGUEIRAS: FALAS E MEMÓRIAS DOS SERINGUEIROS E SERINGUEIRAS DE TEFÉ E CIRCUNVIZINHANÇAS
Robson Freitas da Silva 1
Maria Lucimeiry da Silva Barbosa 1
Mara Lucia Ferreira da Silva 1
Eunice Cezário da Silva 1
Elionaia Batista de Lima 1
Yomarley Lopes de Holanda 1
1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS - UEA
INTRODUÇÃO:
A exploração da borracha na região amazônica, por alguns anos foi a base da economia brasileira. E trouxe para a região uma série de transformações tecnológicas, econômicas, e culturais, atraindo trabalhadores de diversas regiões do Brasil, principalmente os nordestinos, que influenciaram significativamente no modo de vida amazônico. A civilização da borracha, como ficou conhecida, é tema de importantes estudos. Porém nossa pesquisa é centralizada numa região que pouco chamou a atenção dos pesquisadores. Os estudos existentes sobre o tema em destaque se concentram nas principais regiões de exploração: Xingu e Tapajós no Pará, nos rios Madeira, Purus no Acre e no alto e médio Juruá, no amazonas, no período de maior extração, conhecido como primeiro ciclo da borracha. Assim buscamos desenvolver um trabalho em regiões que receberam até o momento pouca atenção das pesquisas históricas. Nosso objetivo foi analisar as relações estabelecidas pela sociedade da borracha nas décadas de quarenta e cinqüenta nas localidades em que hoje se encontram os municípios de Japurá, Juruá, e Jutaí, tendo como base os relatos dos próprios seringueiros, possibilitando assim o surgimento de novas perspectivas para a interpretação da vida nos seringais amazônicos.
METODOLOGIA:
O trabalho foi desenvolvido em várias etapas. O primeiro passo foi à definição do tema, seguido de uma discussão sobre a forma que abordaríamos o assunto, para que pudéssemos contextualizar-nos no tema, produzindo o vínculo necessário entre os participantes do grupo. Após a definição do tema, e com uma lista dos nomes de ex-seringueiras e ex-seringueiros a serem entrevistadas passamos contatar e a agendar as entrevistas com aqueles que concordassem em dar seu depoimento. O contato foi efetuado pessoalmente, quando informamos o entrevistado sobre a finalidade do trabalho e a importância de seu depoimento para a realização da pesquisa. Entrevistamos um grupo de dez pessoas, três mulheres e sete homens. As entrevistas foram feitas através de perguntas abertas e fechadas o que possibilitou uma maior participação dos entrevistados, deixamos à escolha dos colaboradores o local para a realização das entrevistas individuais. Para finalizarmos as entrevistas, realizamos um encontro com todos os entrevistados para que os mesmos pudessem trocar experiências de vidas. Outro ponto importante foi à utilização de imagens que os fizessem relembrar os detalhes e pontos relevantes de suas vidas e experiências no seringal. E na ultima etapa foram feitas às transcrições e analise das entrevistas.
RESULTADOS:
Pôde-se detectar que algumas relações se estabeleciam de maneiras distintas de acordo com a região. E muito do que se apresenta nas principais pesquisas não se detecta nas regiões pesquisadas ou se apresenta de caráter diferente. Neste sentido, observamos que, dentre outras coisas, o relacionamento entre patrão e empregado ou até mesmo a figura do patrão que se diferenciava, considerando-se em alguns casos, como no de Japurá, o seringalista sendo nada mais que um arrendador de suas terras, e os proprietários das embarcações conhecidas como regatões, exercendo a função de patrão. Também a função da mulher na sociedade da borracha, o tempo anual destinado à extração, a relação com os nativos, as formas de beneficiamento do látex, todas estas relações, ao contrario do que sugerem os estudos mais convencionais, se modificam de região para região e portanto não se pode considerar as relações estabelecidas pela sociedade da borracha como homogêneas. Mas é necessário atentar-se as particularidades de cada região. Um outro fator que podemos detectar e que muito chamou atenção foi a valorização que os seringueiros atribuíam a educação de seus filhos. Apontado de forma unânime como um dos motivos do abandono da vida ribeirinha e busca pelas cidades.
CONCLUSÃO:
Ao termino da pesquisa, pôde-se afirmar sobre a incipiência de estudos, que existe uma carência de pesquisas históricas voltadas para o resgate da memória dos seringueiros e seringueiras que muito contribuíram para o desenvolvimento da região. E que ainda assim ficaram esquecidos, tanto pela sociedade quanto pelos pesquisadores que pouco valorizaram suas memórias e concepções de vida. E, considerando a escassez de documentos referente ao tema em destaque, a memória desses homens e mulheres e de suma importância para compreensão das relações de troca comercial, convencia social, de adaptação à floresta principalmente daqueles que vinham de outras regiões, como os nordestinos. Enfim, as memórias destes indivíduos, serão imprescindíveis para o desenvolvimento de pesquisas futuras sob a história local e regional.
Palavras-chave: Memória, Ciclo da Borracha, Seringais Amazônicos.