62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
ANÁLISE DO DESEMPENHO DE UMA EQUIPE AMPLIADA COM BASE NA VIGILÂNCIA EM SAÚDE DE CRIANÇAS NO PRIMEIRO ANO DE VIDA.
Ana Carolina Lima Cirino 1
Carla Cristiane Freire Corrêa 1
1. Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul/ESP-RS
INTRODUÇÃO:
Adotar medidas para o crescimento e o desenvolvimento saudáveis, como recomendado na Reunião de Cúpula em Favor da Infância (Nova York, 1990) e na Conferência Internacional de Nutrição (Roma, 1992), significa garantir um direito da população e cumprir uma obrigação do Estado. O acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento são eixos referenciais para todas as atividades de atenção à criança sob os aspectos biológico, afetivo, psíquico e social. A partir das consultas de acompanhamento, é possível estabelecer condutas curativas, dirigidas aos processos patológicos, e condutas preventivas, adequadas a cada idade, sobre vacinação, alimentação, estimulação e cuidados gerais com a criança, em um processo contínuo de educação para a saúde (Brasil, 2002). O programa Prá-nenê, de âmbito municipal (Porto Alegre-RS), tem por objetivo promover ações de vigilância, identificar recém-nascidos de alto risco e prestar atenção integral a todas as crianças no primeiro ano de vida, moradoras das áreas sob responsabilidade dos serviços básicos de saúde. O estudo permite analisar o desempenho de uma equipe ampliada de saúde em relação ao programa e subsidiar ações e estratégias voltadas para o aperfeiçoamento do atendimento ofertado.
METODOLOGIA:
A atenção à saúde das crianças inscritas no Prá-nenê, avaliada neste estudo, é prestada por uma equipe composta por técnicos, estudantes de graduação, residentes do Programa de Residência Integrada em Saúde da ESP-RS e profissionais das áreas de Medicina, Enfermagem, Odontologia, Psicologia, Nutrição e Serviço Social, concebendo, assim, um espaço de ensino-aprendizagem. A equipe, pertencente à Unidade Básica de Saúde VI (UBS VI), atende a comunidade do Campo da Tuca, área adscrita da UBS em questão. Para fins de cálculo e amostra, foram selecionadas apenas as informações de crianças que encerraram o acompanhamento (completaram 1 ano) entre março de 2008 e março de 2009. Destas, as que perderam o vínculo com a UBS (15) por mudança de endereço, acompanhamento em outro serviço (planos de saúde, UBS vizinhas, etc), residência fora da área adscrita e endereço não localizado, foram desconsideradas, perfazendo, ao final, um total de 87 crianças. Os dados foram agrupados em tabelas e sucedidos de um comparativo com as metas e indicadores preconizadas pelo Protocolo de Atenção à Saúde da Criança de 0 a 5 anos (Ministério da Saúde, 2004) e pelo Protocolo do Prá-nenê (Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre - SMSPOA, 2001).
RESULTADOS:
A partir da caracterização do risco social e biológico, a ficha de avaliação do Prá-nenê permite à equipe o estabelecimento de um plano de ação para cada criança, especialmente quando a pontuação for ≥ 6, sinalizando situação de alto risco e vulnerabilidade. Neste quesito, a equipe preencheu 58 (66,6%) das 87 fichas previstas e, destas, 23 (27,5%) apontavam crianças em alto risco. Idealmente, a primeira consulta deverá ocorrer antes da criança completar 15 dias e recomenda-se que não ocorra após 60 dias de vida, pois a qualidade do acompanhamento poderá ficar prejudicada. Na UBS, os atendimentos, até 14 dias de vida ("1a semana de saúde integral"), atingiram 34,5%, e 13,8% após o período limite de 60 dias. Das 701 demandas registradas, 29,7% corresponderam à demanda espontânea (pronto-atendimento) e 70,3%, à demanda de rotina (consulta). Segundo calendário do Ministério da Saúde, a criança que comparece a, no mínimo, 4 consultas no primeiro semestre e 3 no segundo semestre, totalizando 7 consultas, é considerada "acompanhada". Neste item, o resultado alcançado pela equipe, 40,2% da meta, foi agrupado por área profissional: do total, a Enfermagem respondeu por 44,1% das consultas; Medicina, 35,7%; Nutrição, 17,3%; Odontologia, 1,8%, Serviço Social, 0,9%; e Psicologia, 0,2%.
CONCLUSÃO:
O nascimento saudável, a promoção do crescimento, desenvolvimento e alimentação saudáveis, com enfoque prioritário para a vigilância à saúde das crianças de maior risco e o cuidado às doenças prevalentes, são ações que não podem deixar de ser realizadas em toda a sua plenitude. Os indicadores de saúde demonstram, entretanto, que falta um longo caminho a percorrer para garantir às crianças brasileiras o direito integral à saúde, como assumido em nossas leis (Brasil, 2004). Neste trabalho, constatou-se que a presença de uma equipe de saúde multiprofissional e ampliada não garante qualidade de atendimento, se o processo coletivo de trabalho não envolver, por exemplo, a avaliação crítica dos resultados obtidos através da vigilância em saúde. Com esta ferramenta, foi possível visualizar lacunas na execução do programa, como o preenchimento incompleto de grande parte das fichas, o curto intervalo entre os retornos agendados, a não priorização de crianças baseada na caracterização de risco, o monopólio do cuidado por determinadas áreas profissionais e o baixo percentual de consultas realizadas até 14 dias de vida da criança. Este último achado dificulta, ainda, a reversão de quadros de desmame precoce, a realização da triagem neonatal, a vacinação em tempo adequado, etc.
Palavras-chave: saúde da criança, vigilância em saúde, equipe de saúde multiprofissional.