62ª Reunião Anual da SBPC
B. Engenharias - 1. Engenharia - 6. Engenharia de Produção
A PONTE EMPURRADA COMO ELEMENTO CONSTRUTIVO DE UMA MANUFATURA ÁGIL
José Barrozo de Souza 2
Antonio Henrique Queiroz Conceição 1
Antonio René Camargo Aranha de Paula Leite 2
José Luiz Alves de Lima 2
José Paulo Alves Fusco 2
José Benedito Sacomano 2
1. Universidade Federal do Amazonas - UFAM
2. Universidade Paulista - UNIP
INTRODUÇÃO:

A progressiva substituição de processos artesanais na construção civil por processos industrializados, buscando maior qualidade, maior produtividade e menores custos é uma tendência moderna e irreversível. A construção de pontes se constitui, dentre as obras civis, em estruturas altamente favoráveis a industrialização, quer pela possibilidade de modularização dos seus componentes, quer pelas características dos seus processos construtivos.

Apresentamos no presente trabalho uma análise da construção das pontes empurradas, construídas pelo método dos deslocamentos ou incrementos sucessivos, sob a ótica do Sistema de Administração da Produção para as empresas de construção civil (SAP-C), desenvolvido na Escola de Engenharia de São Carlos - USP, pelos professores José Benedito Sacomano e Fábio Muller Guerrini.

Para o Estudo de Caso, escolhemos a construção da ponte empurrada denominada Ponte Córrego Lafon 14, construída pela CESP (Centrais Elétricas de São Paulo) em Araçatuba/SP, pois, conforme KIDD (1994), a manufatura ágil pode ser considerada como a integração de organização, pessoas altamente capacitadas e tecnologias avançadas para obter cooperação e inovação em resposta à necessidade do fornecimento de produtos customizados e de alta qualidade aos clientes.

METODOLOGIA:

Cada módulo tinha secção protendida com 8,60 metros de comprimento transversal na face superior do tabuleiro e 3,60 metros na face inferior, permitindo uma pista de rolamento com 7 metros de largura. O comprimento de cada aduela era de 15 metros, ou seja, a metade de cada vão, pois a ponte foi composta por seis vãos de 30 metros.

Cada aduela foi fabricada em duas fases, compreendendo uma primeira etapa de fabricação da ponte inferior, protendida com cabos retos, seguida do seu deslocamento de 15 metros, procedendo-se a seguir a concretagem da 2ª etapa e o deslocamento por mais 15 metros.

O berço de fabricação teve um comprimento total de 30 metros. O equipamento de deslocamento foi composto por dois macacos hidráulicos. Um perfil metálico, tracionado por duas cordoalhas e apoiado transversalmente na parte inferior da secção, formava um tipo de laço que, ao ser tracionado pelos macacos hidráulicos, realizava o deslocamento a cada 15 metros. Assim sendo, a cada incremento de 15 metros correspondia um deslocamento no mesmo valor, com o bico metálico acoplado ao 1° módulo e apoiando-se consecutivamente, nos pilares 1, 2, 3, 4 e 5. Finalmente, no encontro da outra margem, quando deslocado todo o tabuleiro até a sua posição final, o bico metálico é desmontado.
RESULTADOS:

A moldagem das aduelas é beneficiada, em termos de melhoria da qualidade, pela permanência da equipe em atividades tecnológicas conjuntas, integradas, repetitivas e sob controle da produção, permitindo constante avaliação da matéria-prima utilizada, da sua resistência mecânica (fck), do sistema de protensão embutido, da geometria final da peça e de seu grau de conformidade. Controla-se também a qualidade da ligação de uma aduela contra a outra, de modo a garantir a sua monoliticidade.

Ao modular-se o tabuleiro em aduelas garante-se o controle qualitativo e quantitativo dos materiais que compõem cada segmento, ou seja, concreto, aço e o sistema de protensão através dos seus componentes, permitindo, assim, a programação das atividades de suprimentos e a possibilidade de dispor de uma linha de produção.

O processo construtivo apresenta flexibilidade no que se refere ao cronograma de produção, conferindo mobilidade dos prazos de fabricação, bastando para isso, ampliar ou reduzir a jornada de trabalho, utilizar ou não aditivos aceleradores de pega e/ou sílica ativa e/ou concreto auto-adensável e/ou cura a vapor. Estes fatores tecnológicos permitem ajustar os prazos de construção aos aportes de recursos, possibilitando flexibilidade ao cronograma físico-financeiro do empreendimento.

CONCLUSÃO:

Conforme os princípios estudados na manufatura ágil aplicados à industrialização da construção pesada aplicado à execução de pontes empurradas, foram observados os seguintes aspectos vantajosos no método construtivo adotado e que caracterizam a tratativa industrial das pontes empurradas construídas pela CESP: Concentração da mão-de-obra em um único local de trabalho, atividades repetitivas por trabalhador, caracterizando um processo industrial de produção, melhores condições de trabalho e de segurança, visto que os trabalhadores permanecem abrigados em terra firme. Além disso, a quantidade de trabalhadores permanece estável, menor prazo de execução, melhores condições para efetuar o controle da protensão em virtude da equipe trabalhar em local pré-determinado, redução significativamente da distância de transporte de materiais (aço, componentes do concreto, p. ex.), evita ou reduz em zonas urbanas a interrupção do tráfego,

Finalizando, consideramos pertinente acrescentar aos itens anteriores, como aspectos vantajosos, a maior economicidade do empreendimento, sua maior qualidade total e durabilidade e ainda, do ponto de vista ambiental, uma solução mais favorável, pois evita as degradações do meio ambiente que ocorrem nos processos clássicos.

Palavras-chave: Ponte empurrada, Manufatura ágil, Flexibilidade produtiva.