O presente trabalho é fruto de uma pesquisa realizada no segundo semestre de 2009, em uma escola pública de ensino fundamental da cidade de São Sebastião, localizada no Distrito Federal, a 30 quilômetros do centro de Brasília. A baixa condição econômica da população em geral pode ser percebida pela carência de recursos básicos à sobrevivência. Destaca-se ainda o traço de que a mesma é formada predominantemente por jovens, pois 47% da população, ou seja, 42.000 pessoas, possuem menos de 20 anos de idade.

Segundo dados do IBGE (2007), a televisão está presente em 94,8% dos lares do nosso país, o que a qualifica como uma expressiva influência na educação de crianças e jovens, sendo ainda o meio de comunicação com a maior representatividade na vida das pessoas. Acrescente-se a esse aspecto da cultura contemporânea a evidência divulgada em meios científicos de que o contato com as mídias se dá de forma cada vez mais precoce, seja por meio da televisão, jornais, revistas ou internet. Assim, do ponto de vista da Educação, se faz necessário compreender como se dá o contato dos estudantes com as mídias, a fim de identificarmos possíveis relações dos processos midiáticos com a educação formal que se desenrola no interior da instituição escolar.

Para a realização da pesquisa privilegiou-se o método descritivo, em nível exploratório. Foram aplicadas duas técnicas de produção de dados: o desenho e o formulário. Participaram estudantes de uma turma do 6º ano do ensino fundamental de uma escola pública, escolhida de forma aleatória. Preliminarmente, solicitamos a todos os estudantes da turma que representassem por meio de um desenho aquilo que costumavam fazer no seu dia-a-dia fora do horário escolar.

A partir desses trabalhos foram selecionados 6 estudantes, sendo 3 deles do sexo feminino e 3 do sexo masculino, entre 11 e 12 anos de idade. Estes últimos colaboraram mais diretamente ao responder o formulário de práticas culturais de consumo de mídias, buscando-se identificar o seu contato com diferentes manifestações midiáticas, como rádio, computador, Internet, revistas, cinema e televisão. Os mesmos residem em casas, sendo que 4 participantes em imóveis próprios e 2 em residências alugadas. Ressalte-se ainda que 3 deles moram com o pai e a mãe e os demais apenas com um dos pais ou uma irmã mais velha, além dos outros irmãos

Os 6 estudantes que responderam ao formulário foram unânimes em dizer que gostam de morar na cidade, porém reclamaram da falta de segurança, o que ficou explícito na preferência de brincar na própria casa, no quintal ou bem em frente à residência.

Nenhum dos estudantes possui vídeo-cassete, nem aparelhos portáteis de MP3 ou MP4, mas todos possuem pelo menos um aparelho de rádio. A música mais ouvida é o Funk, bastante difundido pela grande mídia. Nem um deles tem acesso a cinemas e apenas dois já foram ao teatro uma única vez, levados pela escola. Todavia, todos possuem aparelho de TV em casa, com acesso somente à programação aberta, no qual 5 jovens assistem todos os dias, variando de 2h a 4h30, o tempo de consumo. Apenas um deles não consegue identificar algum tipo de aprendizado por meio da TV. Nos desenhos houve representações explícitas da TV no tempo livre.  Assim o acesso às manifestações culturais é bastante restrito, ficando refém da programação cultural da grande mídia por meio majoritário da TV aberta.

Em relação ao computador (desktop), apenas 2 o possuem, sendo que esses tem acesso a internet em casa. Os demais acessam em lan house e/ou na casa de amigos, sendo que a freqüência semanal varia de uma a três vezes. O que os estudantes mais acessam são orkut e o msn.

Pode-se concluir que o acesso ao computador e a internet não são tão simples, pois a maioria tem que pagar pelos serviços em estabelecimentos privados ou acessá-los na casa de amigos. Além disso, o contato com a internet centraliza-se em redes de relacionamentos com os amigos pelo orkut e msn, ficando em segundo plano a utilização para estudos e pesquisas, desperdiçando-se grande potencialidade educacional.

O ambiente violento da cidade tem contribuído para os estudantes fiquem mais em casa, o que pode influenciar no maior tempo de consumo das mídias, que nesse contexto ocorrem mais pelo contato com a TV, confirmando os dados do IBGE anteriormente assinalados. Os jovens estudantes conseguem perceber o processo educativo que a TV pode ter, quando afirmam terem aprendido sobre o perigo das drogas, do sexo sem proteção e da violência, informações sobre a cidade, lições de vida como reflexões sobre preconceitos (por meio de novelas, bem como sobre esportes). Assim as influências que a mídia exerce nos estudantes ocorre mais pelo fácil acesso a TV do que por outros aparelhos midiáticos, que tem um caráter elitista. Os conhecimentos e aprendizados advindos da TV chegam à escola, que deve questioná-los, refleti-los, problematizá-los e possivelmente ressignificá-los quando necessário.