62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 9. Imunologia - 1. Imunologia Aplicada
TRATAMENTO DE ÚLCERA VENOSA COM MODIFICADOR DA RESPOSTA BIOLÓGICA
Sarah Dantas Viana Medeiros 1
Jéssica Escorel Chaves Cavalcanti 1
Irami Araújo Filho 2
Keyla Borges Ferreira Rocha 3
Hugo Alexandre de Oliveira Rocha 4
Valéria Soraya de Farias Sales 1
1. Departamento de Analises Clínicas e Toxicológicas, Faculdade de Farmácia, UFRN
2. Departamento de Cirurgia, UFRN
3. Departamento de Patologia, UFRN
4. Departamento de Bioquímica, Centro de Biociências, UFRN
INTRODUÇÃO:
As úlceras venosas são lesões cutâneas de difícil cicatrização que surgem no membro inferior como conseqüência da insuficiência venosa crônica. Representam 75 a 80% das úlceras que acometem tais extremidades e configuram um sério problema de Saúde Pública. Em função da dificuldade no tratamento desse tipo de ferida, novos agentes terapêuticos tem sido estudados. A β-(1→3) glucana insolúvel, um polissacarídeo modificador da resposta biológica, é capaz de estimular o processo de cicatrização, através da ativação principalmente de macrófagos, células "natural killer" (células NK) e linfócitos. Estes biopolímeros podem ser reconhecidos pelo sistema imune via receptores de membrana, em especial o dectin-1, o receptor de complemento tipo 3 (CR3) e os receptores toll-like. A ativação dessas células imunes está relacionada com a produção e liberação de citocinas pró-inflamatórias e quimiocinas, como as interleucinas 1 β (IL-1β), IL-6, IL-8 e IL-12, fator de necrose tumoral α (TNF-α), fatores de crescimento e outros mediadores importantes para que ocorra a repavimentação tecidual. Este trabalho objetivou avaliar o efeito de um modificador da resposta biológica, a β-(1→3) glucana insolúvel, por via tópica, na cicatrização de úlceras venosas.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Onofre Lopes/UFRN (HUOL/UFRN) sob nº de protocolo: 147/07 e seguiu o modelo de um estudo clínico prospectivo, não randomizado com comparações intragrupo. Os pacientes foram recrutados no Ambulatório de Cirurgia Vascular do HUOL, sendo incluídos aqueles com diagnóstico clínico de úlcera venosa e maiores de 18 anos. Foram excluídos os pacientes com transtornos psiquiátricos, neoplasia, doença auto-imune, insuficiência renal ou hepática e que fizessem uso de terapia imunossupressora. A β-(1→3) glucana insolúvel foi extraída a partir do fermento Fleshmann® (Saccharomyces cerevisiae) por hidrólise alcalina e ácida. Após a extração, a glucana, foi incorporada, numa concentração de 3% ao creme crodabase e administrada na úlcera, por via tópica, diariamente por até 90 dias. A evolução do processo de cicatrização foi acompanhada pelo registro fotográfico e pela mensuração da área da úlcera. Este procedimento foi realizado mensalmente, dispondo-se para o primeiro de câmera digital e, para o segundo, do contorno do perímetro da úlcera sobre uma folha plástica estéril, sendo a figura obtida analisada pelo software AutoCAD 2008.
RESULTADOS:
Foram acompanhados 12 pacientes, dos quais 9 (75%) eram do sexo feminino e 3 (25 %) do sexo masculino, cuja média de idade foi de 59 +/- 10,1 anos. A literatura destaca o sexo feminino como sendo o mais acometido com esse tipo de ferida, bem como a prevalência máxima de úlcera venosa a partir dos 60 anos. O estudo avaliou 13 úlceras venosas, das quais a maioria (61,5%) eram recidivantes, sendo o tempo médio de existência das mesmas de 142,9 meses (11,9 anos), verificando-se um tempo mínimo de 8 meses e máximo de 264 meses. Antes de iniciada a terapia (dia 0), as úlceras tinham uma área média de 27,50 cm2 (área mínima de 8,38 cm2 e máxima de 66,89 cm2). No trigésimo dia de seguimento terapêutico, a média na área das úlceras foi de 25,62 cm2 (área mínima de 4,84 cm2 e máxima de 58,02 cm2). Isto revelou uma média no percentual de redução equivalente a 11,3% nas áreas das 13 úlceras entre dia 0 e o dia 30. Vale ressaltar que 7 (58,3%) pacientes permaneceram no estudo por 90 dias, sendo a média no percentual de redução da área das úlceras de 55,2%, entre o dia 0 e o dia 90 (tendo uma úlcera cicatrizada totalmente). A literatura enfatiza que, quanto mais extensa, quanto maior o tempo de existência e a recorrência da úlcera, mais difícil será a cicatrização.
CONCLUSÃO:
Os dados obtidos demonstraram que a β-(1→3) glucana insolúvel, por via tópica, foi capaz de promover a redução na área das úlceras venosas tratadas.
Instituição de Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES
Palavras-chave: Úlcera Venosa, β-(1→3) Glucana, Cicatrização.