62ª Reunião Anual da SBPC |
F. Ciências Sociais Aplicadas - 7. Planejamento Urbano e Regional - 1. Fundamentos do Planejamento Urbano e Regional |
TIJOLO, TELHA E CAL: OS MATERIAIS E AS TÉCNICAS CONSTRUTIVAS UTILIZADOS NAS RESIDÊNCIAS FINANCIADAS PELOS IAPS NO ALECRIM - NATAL (1940 A 1945). |
Clara Ovídio de Medeiros Rodrigues 1 Angela Lúcia Ferreira 2 |
1. Depto.de Arquitetura, CT, Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN 2. Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Arquitetura, Centro de Tecnologia - UFRN |
INTRODUÇÃO: |
Em 1930, o Governo Vargas incumbiu os Institutos de Aposentadorias e Pensões de administrar e distribuir os recursos para financiar residências à classe trabalhadora (BONDUKI, 1998). Em Natal, a produção de habitação financiada pelos institutos foi mais vultosa nos bairros limítrofes ao centro que constituíam as áreas de expansão. Os bairros do Alecrim 39,41% (219 imóveis), Tirol 21,96% (123) e Petrópolis 13,93% (78) receberam a maior parte dos 560 financiamentos registrados no período de atuação dos institutos (1940's a 1960's), com destaque para o pós-guerra (1945 e 1950). O trabalho busca caracterizar as moradias resultantes da atuação dos IAPs em relação aos materiais e às técnicas construtivas utilizados relacionando-os com o ideário em que se inseriam as novas expressões adquiridas pela habitação e com a defesa das melhorias das condições de reprodução da força de trabalho desprendido pela política habitacional de Vargas. O recorte temporal diz respeito ao período 1945 a 1950, e o espacial ao Alecrim. Ao agregar bibliografia, ainda escassa, sobre o tema, pretende-se contribuir para a discussão das políticas habitacionais desenvolvidas no Brasil, no que tange tanto a matéria, quanto a técnica para se construir moradias de qualidade. |
METODOLOGIA: |
Para alcançar os objetivos propostos foi necessário sistematizar os dados levantados, anteriormente, pelo Grupo História da Cidade e do Urbanismo nos processos do Arquivo do Patrimônio Imobiliário do INSS-RN, em uma tabela do programa Excel. Além das informações gerais sobre o empreendimento, destacou-se as que se relacionavam à fundação, estrutura, fechamento, cobertura, piso e revestimento de parede, viabilizando a elaboração de gráficos e tabelas específicas para, conseqüente, análise dos dados. Tais tópicos podem refletir diretamente na condição de higiene - configurando um habitat moderno - e/ou na qualidade da habitação disponibilizada para o trabalhador e, ainda, relacionar as características dos materiais e técnicas construtivas à perspectiva da "taylorização da moradia" e à redução dos custos de construção. Concomitante, realizou-se uma revisão bibliográfica para conhecer as condições históricas que possibilitaram a elaboração de uma política voltada para os trabalhadores urbanos no Brasil, assim como as especificidades do processo de mudanças relativas à urbanização de Natal à época. Sobre o tema específico da história da habitação no Brasil, foram fundamentais estudos de autores como BONDUKI (1998), BLAY (1985) e CORREIA (2004); e autores do HCUrb no referente a Natal. |
RESULTADOS: |
A partir das especificações contidas nos 139 processos analisados fez-se a caracterização das habitações predominantemente disponibilizadas para os trabalhadores que se fixaram no Alecrim por intermédio dos IAPs. Esse predomínio se reflete na fundação de pedra (45 unidades) ou de tijolo (14 habitações); na estrutura de tijolo (37 casas) - vedação autoportante, pela predominância de residências térreas -; no fechamento de tijolo (56 exemplares) ou de taipa (3 unidades); no piso também de tijolo (13 residências), na cobertura em telha canal (70 domicílios) com madeiramento roliço (24 processos) - utilizado na cobertura conforme extraído da natureza, sem acabamentos prévios - ou apontado apenas como madeiramento (23 habitações); e no revestimento de parede feito com argamassa de areia e cal (52 exemplares). Dessa forma, percebe-se a prioridade na redução imediata dos custos, por meio da utilização de materiais disponíveis na região mesmo que de qualidade inferior, descartando o sistema construtivo racional, com controle de qualidade e produção em larga escala. Essa estratégia, porém, não condizia com a produção necessária e almejada para sanar o problema habitacional, como defendido pelas discussões técnicas da época, coerente com a posição do Governo (BONDUKI, 2008; CORREIA, 2004). |
CONCLUSÃO: |
Os materiais empregados nas habitações - excetuando-se a pedra, indicada para fundação - em geral, refletem a baixa qualidade da moradia produzida por construtores da iniciativa privada, que visam apenas o lucro. Logo, negligenciou-se a qualidade dessas casas financiadas como interesse social, sendo repassadas aos associados, em sua maioria, com materiais de menor durabilidade, como no piso, e menor qualidade de acabamento, como no telhado e no revestimento de parede. Desconsideram-se, então, discussões acerca da "taylorização da moradia", que destacava a diminuição dos custos pela produção em larga escala com tecnologia adequada. O escoamento das águas nas áreas molhadas garantido pelo uso de azulejos e cimentado, diminuía as infiltrações na edificação, prevenindo a proliferação de mofo e bactérias. Essa preocupação com o excesso de umidade, observada na capital desde 1922, era fruto das ações higienistas. Consolidava-se, assim, a significação do que se considerava uma "casa contemporânea", embora ainda se usasse taipa, material rechaçado pelos sanitaristas que difundiam tais preceitos. Dessa maneira, verifica-se que a produção dos IAPs no Alecrim de 1945 a 1950 não abarcou a "taylorização da moradia" sustentada pelos técnicos, mas reforçou os indícios do "habitat moderno". |
Palavras-chave: IAPs, Política habitacional , Alecrim-Natal. |