62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística
ENSINANDO ESCREVER E LER EM PARKATÊJÊ: ALFABETIZANDO ADULTOS EM LÍNGUA INDÍGENA.
Rafaela Viana Maciel 1
Marília de Nazaré Ferreira-Silva 1
Ricardo Bezerra Sampaio 1
Ana Carolina Reis da Silva 1
1. UFPa
INTRODUÇÃO:
A partir da análise acerca da educação escolar indígena realizada entre os Parkatêjê, observamos que quase nenhuma ação tem-se voltado aos adultos falantes da língua indígena, os quais em sua maioria é não- ou semi-alfabetizado. Aqueles que têm alguma iniciação sabem apenas assinar seu nome indígena. De acordo com as diretrizes da VI CONFITEA (Sexta Conferência de Educação de Adultos / Sixth Conference of Adult Education) é necessário prover alfabetização em língua materna para uma comunidade de língua minoritária por várias razões, dentre as quais, a preservação da língua nativa. O Parkatêjê é atualmente uma língua em perigo de extinção, falada por apenas 9% de uma população de 400 indivíduos, a comunidade está localizada no município de Bom Jesus do Tocantins, no sudeste do estado do Pará. O presente trabalho objetiva descrever as etapas do projeto que está sendo desenvolvido com a finalidade de ser uma resposta primeiramente à necessidade de atender a demanda existente na Comunidade Indígena Parkatêjê, desejosa de contar com jovens instrutores de alfabetização em língua materna. Segundo, oferecer esse atendimento é uma forma bastante concreta de realizar a aproximação da academia a uma comunidade, como retorno pelas pesquisas que ali têm sido realizadas.
METODOLOGIA:
A metodologia utilizada nas atividades do presente trabalho para alfabetização de adultos foi constituída pelos seguintes passos: 1. A primeira etapa pedagógica foi o "levantamento do universo vocabular", "descoberta do universo vocabular", "pesquisa do universo vocabular" e "investigação do universo temático". 2. Com a composição do universo das palavras geradoras (16 palavras), facilitadores do processo de alfabetização (bolsistas) passaram a exercitá-las com a participação ou co-participação dos elementos da comunidade. 3. Foram utilizados cartazes com as palavras escritas e os facilitadores passaram, então, a pronunciar as sílabas em voz alta, o que foi repetido, várias vezes, pelos alfabetizandos. 4. Foram criadas FICHAS DE CULTURA, as quais foram ser acompanhadas dos respectivos desenhos feitos pelos próprios índios. 5. As palavras geradoras selecionadas obedeceram aos seguintes critérios: a riqueza fonêmica da palavra geradora; as dificuldades fonéticas da língua; e o sentido pragmático dos exercícios. 7. A avaliação se deu diariamente por meio da interação entre os alfabetizandos e os facilitadores.
RESULTADOS:
Os indígenas adultos participantes da oficina de alfabetização percebem que há diferenças entre a modalidade oral e a modalidade escrita da língua. Ao lermos os textos em língua indígena, eles admitiram que sua língua materna estava ali, materializada na forma escrita. Isto foi fonte de curiosidade e de desejo de dominar a técnica de escrever e de ler. O despertar para a simbolização do som oral levou os indígenas adultos a aprender o alfabeto parkatêjê e a dominar uma parte da representação de determinadas palavras e frases de sua língua materna. Há a necessidade premente de sistematização do aprendizado obtido, por meio de mais exercícios que reforcem os usos da modalidade escrita da língua materna. Com esse trabalho formou-se um "circuito de cultura" entre facilitadores e alfabetizandos, o que possibilitou a seleção de temas geradores para discussão através do diálogo. Dessa forma, o objetivo da alfabetização de adultos levou os indígenas a uma maior conscientização dos problemas que o cercam, a compreensão do mundo e ao conhecimento da realidade social, no caso de si diante de uma socidedade não-índia e da sociedade não índia.. Fica claro, então, que a alfabetização é o início do programa de educação.
CONCLUSÃO:
A Comunidade Indígena Parkatêjê confia na educação como estratégia de transformação de sua sociedade, especificamente no que se refere à preservação e à manutenção de sua língua e cultura, itens indispensáveis para salvaguardar sua identidade étnica. A realização das atividades propostas proveu aos adultos indígenas participantes da oficina diferentes ocasiões para discussões em língua nativa, levando-os à conscientização de que eles podem fazer uso de sua língua para tratar dos mais diversos assuntos. Por meio da educação é possível se fazer interferências na realidade, o que certamente, gerará novos conhecimentos. Este estudo permitiu constatar que a força criadora e a sabedoria profunda dos povos indígenas brasileiros, presentes em suas histórias orais tradicionais, podem ajudar falantes adultos a enfrentar suas dificuldades, despertando seu poder criativo. O processo de alfabetização de adultos indígenas não pode ser dissociado de sua vivência diária, por esta razão, foi-nos possível discutir determinados temas, sempre que possível fazendo comparações entre as vivências em língua e cultura nativa e as codificadas pela língua portuguesa.
Instituição de Fomento: PROEX/UFPa
Palavras-chave: Parakatêjê, Alfabetização de adultos, Letramento.