62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 8. Teatro e Ópera
relações entre o corpo sem orgãos e a experiência do tai chi na preparação do ator para a cena.
Ana Carolina Strapação Guedes Vianna 1
Larissa Kelly de Oliveira Marques Tibúrcio 1
1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte
INTRODUÇÃO:

Entendemos que o corpo do ator é "suporte" da sua arte e de suas possibilidades de comunicação através do atuar cênico. Desse modo, o presente estudo está focado na investigação de uma técnica de manipulação da energia, no nosso caso o Tai Chi, buscando uma reflexão acerca das possibilidades de utilização dessa técnica na preparação do ator para a cena. A escolha por trabalhar o Tai Chi se deve ao contato com essa técnica no desenrolar da pesquisa, bem como pela observação a partir das leituras e discussões realizadas no âmbito acadêmico, que a sua prática suscita "estados corporais" que podem favorecer o desenvolvimento do corpo sem órgãos "idealizado" por Artaud no poema Para acabar com o juízo de Deus (1948). "Criar espaços para a vida, eis o que evoca a idéia do corpo sem órgãos. Espaços que implicam no esvaziamento de certas representações do interior do corpo" (QUILICI, 2004). Objetivamos, dessa maneira, relatar e refletir acerca de uma experiência na prática do Tai Chi; investigar e discutir o corpo sem órgãos a partir da perspectiva artaudiana e suas relações com os princípios que embasam a prática do Tai Chi; e apontar as possíveis contribuições da utilização de técnicas de manipulação da energia na preparação para a cena e seus possíveis desdobramentos no atuar cênico.

METODOLOGIA:

Trata-se de um estudo de natureza qualitativa que considera a experiência do corpo na prática do Tai Chi como uma referência para dialogar e refletir acerca da preparação do ator e os seus desdobramentos no atuar cênico (TELLES, 2007 e TIBÚRCIO, 2005). Adotamos um trajeto metodológico em que a construção teórica do estudo foi sendo realizada concomitantemente e de modo complementar à vivência do Tai Chi, que foi experienciada duas vezes por semana, durante todo o percurso do trabalho. Realizou-se uma descrição e reflexão dessa experiência, ao mesmo tempo em que no diálogo com autores como Eugênio Barba, Renato Ferracini e José Gil, podemos compreender melhor os elementos de aproximação entre o corpo do Tai Chi e o corpo sem órgãos, idealizado por Artaud.

RESULTADOS:

Essa busca de uma sistematização do trabalho do ator, de um rigor técnico ausente no teatro do ocidental, levou, a partir do século XX, a utilização de recursos do teatro oriental por parte de alguns dos artistas-pesquisadores como Artaud, Brecht, Grotowski, Barba, além de Peter Brook, Bob Wilson, entre outros. Em 1931, Artaud conhece o teatro do Bali, um teatro físico, plástico, não verbal, o qual a linguagem corporal corresponde a idealizada por ele para o seu novo teatro, o teatro da crueldade. A partir de então, embora não tenha sistematizado qualquer método ou técnica de trabalho para o ator, Artaud passa a defender um treinamento sistemático e objetivo que possibilite ao espírito "assumir atitudes profundas e eficazes de seu próprio ponto de vista" (ARTAUD, 1984, p. 91), um treinamento que permita as relações do corpo físico com os mais profundos estados da consciência. Portanto, é necessário que o ator desenvolva a inteligência e a transparência do corpo assim como os atores orientais. Partindo do ponto de vista artaudiano, talvez, para conquistar o corpo do ator oriental seja necessário um treinamento a partir dos princípios que regem o corpo e a vida no oriente. Entre estes princípios estão presentes práticas corporais tais como o Tai Chi.

CONCLUSÃO:
Na perspectiva do ator, uma das técnicas oriundas do oriente que podem contribuir para a sua manutenção corporal é o Tai Chi, arte marcial chinesa, praticada atualmente, sobretudo no ocidente, com o principal objetivo de desenvolver uma disciplina psicossomática. Possivelmente, a principal contribuição dessa prática para o ator é o desenvolvimento de uma sensibilidade e consciência corporal, no Tai Chi a consciência conduz o movimento independente do pensamento. A prática sistemática do Tai Chi permite experenciar um corpo isento de reações mentais automáticas e condicionadas pela cultura e auxilia o ator "a perceber a origem interior e a forma exterior de seus movimentos" (AZEVEDO, 2004, p. 65 e 66). Por conseguinte, podemos observar e, consequentemente concluir, no decorrer da pesquisa que para o ator, o trabalho a partir de técnicas de manipulação da energia, como o Tai Chi, propicia coordenações físicas nas quais a energia circula naturalmente, favorecendo sua preparação para o atuar cênico.
Palavras-chave: Tai Chi, Corpo sem Órgãos, Preparação do Ator.