É consenso de todos nós, que trabalhamos em educação com crianças do ensino fundamental, anos finais, que as dificuldades para ler e escrever, assim como compreender o que está escrito fazem parte do nosso cotidiano escolar. Um número grande de alunos não consegue ler nem escrever adequadamente, compondo um quadro preocupante na rede municipal de ensino, na cidade do Natal, Rio Grande do Norte. Observamos que estas dificuldades acompanham as crianças, durante toda sua vida escolar, somando fracassos e prejuízos em relação ao ensino-aprendizagem levando-os à evasão. Partindo do pressuposto de que a escola faz parte da vida do educando, e buscando a melhoria nas condições da prática docente, propomos a diversificação dos textos a serem trabalhados na sala de aula e também a diversificação das atividades no sentido de se abranger muito mais oportunidades de aprendizagem, desenvolvendo o letramento. Neste contexto, a realização do trabalho com crianças do nono ano teve como objetivos possibilitar o conhecimento das ciências naturais através de práticas sociais de leitura e escrita, contribuindo para o crescimento pessoal do aluno, ampliando os conteúdos para além dos conceitos.

Todos os alunos foram capazes de identificar os dados mais simples como o número do medidor e o número do contrato social. Porém 12,5% deles não conseguiram distinguir corretamente os meses de leitura atual e anterior, fazendo alguma confusão entre as datas e os números referentes à leitura do consumo nesses meses, as informações referentes a esses dados estão dispostas em uma tabela exigindo habilidades mais apuradas de leitura.. Quando requisitados a comparar o consumo mensal (consumo ativo em kwh) ao valor final / total a pagar 28% dos alunos cometeram algum erro como colocar apenas um dos valores encontrados na fatura, que estão dispostos em campos diferentes na organização da conta, ou confundiram o percentual com o valor em reais. No item seguinte do questionário, bastante semelhante ao anterior, foi solicitado ao entrevistado a comparação entre os valores já citados e o motivo da diferença entre eles forçando o leitor a buscar elementos que justificassem essa diferença. Neste caso, 81% dos entrevistados identificaram corretamente os valores solicitados e fizeram inferências a multas e tributos fiscais que elevam o valor final da conta.

A análise dos resultados do questionário permite a inferência de que os conteúdos das Ciências Naturais, propostos nos PCN, no caso matéria e energia, podem ser trabalhados na perspectiva do letramento. Para tanto, podemos utilizar gêneros textuais presentes no cotidiano, reforçando desta forma as práticas sociais da leitura e da escrita além de buscar uma interação entre o conhecimento científico e sua aplicabilidade, acrescentando também valores éticos e morais e desenvolvendo atitudes. Portanto, ao ensinar Ciências Naturais devemos levar em consideração o desenvolvimento cognitivo dos estudantes, sua idade, seus interesses, sua identidade cultural e social, respeitando as individualidades e diferenças uma vez que a sala de aula é um ambiente onde predomina a heterogeneidade, pois nesse espaço convivem diversas pessoas com históricos familiares diferentes. Os desafios de uma nova educação se impõem e ela deve ser repensada de maneira a dar aos alunos oportunidades de tirarem o melhor proveito do ambiente educativo em constante transformação. Assim, o educador deve organizar-se buscando e perseguindo as quatro aprendizagens citadas pelos PCN: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser.