62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
USINA CATENDE, ECONOMIA SOLIDÁRIA E EDUCAÇÃO POPULAR
José Francisco de Melo Neto 1
1. Universidade Federal da Paraíba - UFPB
INTRODUÇÃO:

 

Este texto é resultante de pesquisa empírica realizada na Usina Catende, na Mata Sul de Pernambuco, entre os anos de 2003 a 2006. Objetiva mostrar ações educativas desenvolvidas a partir do processo de falência daquela Usina, desafios e conquistas dos trabalhadores na direção desse empreendimento, conduzindo-o para um exercício de autogestão. São resultados no campo da Economia Solidária e da Educação Popular que mostram uma alternativa ao modelo de desenvolvimento dominante, valorizando o trabalho humano e não o produto desse trabalho - a mercadoria - como no capitalismo. Pela Educação Popular vem sendo possível aprofundar valores éticos e práticas que mostram a necessidade de um processo educativo pautado em valores como a solidariedade e o diálogo (educação popular) em todo o empreendimento em Economia Solidária. Ainda mostra que experiências dessa natureza, como a da Usina Catende, podem ajudar a superação do risco do assistencialismo em políticas de assistência do Estado e possibilidades de outro jeito de se viver.

 

METODOLOGIA:

A realização da pesquisa esteve pautada pela metodologia histórico-crítica, em que destacaram-se os momentos em que a Usina Catende tem passado, desde a sua fundação até os dias de hoje, com destaques quando de sua máximo produção, na década de 1950, até o momento de sua falência. Além disso, os momentos da política de investimento no setor do açúcar, na região, nas décadas de 60 até 90, estão presentes. Também, utilizou-se da técnica de entrevistas com dirigentes e trabalhadores, campo e indústria(usina), para maior aprofundamento da interpretação do momento em que vivem aqueles trabalhadores, a partir de suas percepções mesmas. As categorias éticas da cooperação e solidariedade foram marcos na análise do tipo de educação que vem se desenvolvendo naquela experiência. Sempre permeada de momentos da crítica quando se caracterizam avanços e recuos daquele movimento de organização dos trabalhadores. A sua exposição esteve definida pelo método dialético, caracterizando, inicialmente, momentos de síntese, análise e de novas sínteses, expressando perspectivas do viver daquelas gentes.

RESULTADOS:

Os caminhos de todo esse processo de organização dos trabalhadores da Usina Catende, mesmo que não tivessem tido inicialmente a visão explícita de Economia Solidária, ou pensado pela Educação Popular, desde cedo, passaram a valorizar socialmente o trabalho humano e os valores éticos desse tipo de educação.Nesta realidade, salta aos olhos a substituição da noção de força técnica ou material, crescendo a compreensão de relação social, constituindo-se como fundamento da força coletiva daqueles trabalhadores. A Usina, combinando recursos próprios com os de organizações não governamentais e do Estado, conseguiu reduzir o índice alarmante de quase 60% de analfabetos em sua área rural, para 35%, considerado ainda muito alto, isto até o ano 2000, continuando esse processo educativo (Equipe de Educação).É marcante e expressiva a diversidade dos produtos daquela Cooperativa e herdeira de problemas estruturais da cultura da cana-de-açúcar.O educação popular, como fenômeno de ensino e aprendizagem, assume a compreensão de um procedimento que incentiva a participação, ou seja, um meio de veiculação e promoção para a cidadania.Vem sendo um trabalho que urge assumir características geradoras de emancipação, contribuindo para a liberdade humana, tendo como pressuposto dessa realização a igualdade das pessoas. Isto continua muito longe de ser conquistado.

CONCLUSÃO:

No empreendimento Harmonia-Catende não se pode esperar que tudo sejam flores e ocorrendo segundo as formulações teóricas ou mesmo atendendo aos desejos daqueles trabalhadores e trabalhadoras. Os caminhos da autogestão, exercícios de Educação Popular e da Economia Solidária são cheios de contradições. Mas, lições e pistas têm sido fecundas nessa experiência. Desafios são apresentados primeiro para o campo da Economia Solidária, em seus aspectos que merecem destaques: a) à organização do próprio movimento dessa economia torna-se importante a produção, a sua comercialização e o consumo que precisam ser solidários; b) a partir de tantos cursos ocorridos, traz a necessidade de uma discussão geral sobre os processos educativos e sobre o papel da educação na popular na construção de uma outra ética de vida; c) nas relações com o Estado, abre-se a necessidade de programas e políticas que fomentem as finanças solidárias e, d) também mostram que é possível que políticas públicas não se tornem necessariamente promotoras de dependência política e econômica das pessoas. Com todas as dificuldades de catástrofes enfrentadas por aqueles e aquelas trabalhadores/as (incêndios e enchentes), parece que encontram ânimos em nomes sugestivos de seus próprios engenhos como Boas Novas, Porto Seguro, União, Ousadia, Harmonia e Esperança. 

Instituição de Fomento: Usina Catende/UFPB
Palavras-chave: Educação Popular, Emancipação, Economia Solidária.