62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM MAUÉS: FRAGMENTOS DE RESISTÊNCIA E ECONOMIA SOLIDÁRIA
Ana Cláudia Ribeiro de Souza 1
Maria Ney Corrêa Marinho 2
1. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas - IFAM
2. Professora da Rede Pública de Maués/AM
INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa é referente a metodologias de professores de uma escola municipal de ensino, do município de Maués/AM, que, na tentativa de atrair e manter o alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), criou novas estratégias como fragmento de resistência ao ensino, fazendo com que os alunos tivessem não somente acesso, como também, a garantia de sua permanência na escola por todo o ano letivo. Nas visitas domiciliares e no âmbito escolar, se observou como as pessoas, em especial, os jovens e adultos, buscam diferentes estratégias de sobrevivência à crise de ocupações no mercado de trabalho. Partindo desse princípio, foi sugerido trabalhar o tema economia solidária, como uma forma de gerar trabalho e renda aos aprendizes desempregados, assegurar-lhes uma resposta a favor da inclusão social, e evitar a evasão, pois o desemprego ainda é o fator que mais contribui para que o educando abandone a escola em busca de subsistência para si e para sua família.Pelo Censo do IBGE de 2000 Maués apresentava uma população analfabeta de 3.403 jovens e adultos com 15 anos ou mais. Dessa população, 1.544 foram alfabetizadas pelo Programa "Reescrevendo o Futuro", no período de 2003 a 2008, restando ainda 1859 jovens e adultos com 15 anos ou mais a serem alfabetizados.
METODOLOGIA:
Na zona urbana de Maués, no ano de 2009, a Escola Municipal Francisco Canindé Cavalcante, ofertou uma única turma para o 1º e 2º Ciclo da EJA. Pelos dados iniciais da referida escola foram feitas 76 matrículas, distribuídas em três turmas sendo: 24 alunos no 1º e 2º ciclo, 17 no 6º Ano, 13 no 7º Ano e 22 no 9º Ano do Ensino Regular. Desse total foram transferidos 10 alunos para o Projovem Urbano. Devido à redução do quantitativo de alunos presentes na escola, a SEMED resolveu intervir, sugerindo ao corpo docente a proposta de unir a turma da EJA com a do 6º ano. Após muitas discussões levantadas tanto pelo corpo técnico da SEMED como pelo corpo docente da escola, os professores firmaram o compromisso de conseguir novos alunos e buscar os faltosos através de visitas domiciliares. Nessas visitas verificou-se que muitos alunos desistem de continuar seus estudos por questões financeiras e por serem pais e, não terem com quem deixar os filhos menores em casa, no período da noite. O que impede esses trabalhadores de concluírem seus estudos não é a falta da oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, mas a garantia das condições para sua permanência na escola, que aqui passa pela implantação de creches no período noturno, e de uma atividade de geração de renda.
RESULTADOS:
Para garantir a permanência dos alunos na escola criou-se uma sala de apoio infantil para atender a demanda dos filhos dos alunos da turma da EJA, inclusive definindo distribuição de carga horária para os professores ficarem tomando conta das crianças enquanto seus pais permaneciam em sala de aula, dando assim segurança a essas crianças das mais diferentes faixas etárias, e adequadas condições de estudo para seus pais. Outra estratégia foi o transporte coletivo para os alunos que moram em bairros distantes da escola. Esta é uma alternativa para que os educandos freqüentem as aulas no período noturno, sem se preocuparem com a violência urbana que surge no retorno da escola para os seus lares. Em sala de aula, muitos alunos queixavam-se de problemas visuais, o que dificultava o processo ensino aprendizagem dos mesmos, e foi feito agendamento para atendimento dos estudantes com problemas de visão. Dos 20 alunos necessitados se conseguiu apenas quatro consultas médicas. Esses alunos continuaram freqüentada a escola, enquanto que aqueles que não foram contemplados com o atendimento médico não mais freqüentaram. Outra ação foi um curso de crochê para geração de renda.
CONCLUSÃO:
Como o conjunto das ações anteriormente descritas à prática da Economia Solidaria foi uma das formas eficaz de permanência do aluno no curso da EJA na zona urbana de Maués. Os educadores desta escola, apesar do baixo salário, mas conscientes da importância do cooperativismo, procuram suprir algumas necessidades como a compra das linhas de crochê para que o curso não sofresse interrupções por falta desse material. O ato de fazer crochê gerou espaços de interdisciplinaridade. Valorizando o interesse dos alunos se trabalhou em língua portuguesa a propaganda para venda do produto; em artes as habilidades artísticas dos alunos, em matemática o custo dos materiais da confecção dos produtos, as medidas e quantidades empregadas na composição do artesanato, assim como também o lucro e a divisão do mesmo entre os participantes; em ciências a reciclagem - um processo de transformação do lixo em luxo que muito contribui com a conservação do meio ambiente. Além de gerar renda para os alunos, serviu para despertar a criatividade, aliviar o estresse e ocupar o tempo praticando algo que é útil para suas vidas. No fazer crochê está inserida a proposta pedagógica de educar o discente para ser um homem livre e crítico, apropriando-se da sua vida, apreendendo a cultura em que vive e a cidadania.
Palavras-chave: Maués , Economia Solidária , Educação de Jovens e Adultos .