62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística
DOIS MUNDOS, DUAS LÍNGUAS: ASPECTOS DO CONTATO LINGUÍSTICO ENTRE PARKATÊJÊ E PORTUGUÊS
Marília Ferreira-Silva 2, 1
Cinthia Neves 1
1. Faculdade de Letras - Universidade Federal do Pará - UFPA
2. Profa. Dra./Orientadora
INTRODUÇÃO:
A situação do contato entre línguas pode desencadear a ocorrência de atrito linguístico em maior ou menor grau. Segundo Aikhenvald (2002, p. 6), o resultado do contato de línguas pode ser atrito linguístico, obsolescência e mudança de uma língua para outra. No caso da língua Parkatêjê - língua do tronco Macro-jê, usada por aproximadamente 9% da população de cerca de 400 pessoas que moram em uma aldeia localizada no sudeste do Pará - por exemplo, pode-se afirmar que há alto grau de atrito, com consequências de mudança linguística. O objetivo deste trabalho é apresentar algumas manifestações decorrentes do contato entre as duas línguas, que ocasionou mudanças fonético-fonológicas e lexicais, bem como o processo de alternância de código e empréstimo na fala de indivíduos bilíngues da comunidade. Este tipo de análise revela os tipos de mudança predominantes no contato entre línguas e suas relações com a obsolescência de um dos sistemas, pois permite observar se tais mudanças são resultados de processos internos à língua ou influência de outra.
METODOLOGIA:
As análises deste trabalho foram realizadas a partir de dados coletados e observados por Ferreira de 2000 a 2005 e Ferreira e Neves nos anos de 2008 e 2009, em viagens de campo. Os dados de Ferreira consistem em traduções livres de textos em parkatêjê ou conversas entre os falantes, ou entre os falantes com a pesquisadora. Quatro indivíduos (três homens e uma mulher), que pertencem à primeira e a segunda gerações, foram seus auxiliares de pesquisa. Um dos indivíduos, da segunda geração, esqueceu parcialmente a língua por ter ficado distante da comunidade por cerca de dez anos, voltando a falá-la fluentemente quando em contato novamente em seu povo. O material coletado Ferreira com a presença de Neves durante as entrevistas é composto por listas de palavras, narrativas tradicionais e narrativas do cotidiano (em língua indígena e em língua portuguesa), traduzidas livremente pelo chefe parkatêjê, Capitão Krôhôkrenhum, informante principal. Com auxílio de um aparelho Hi-MD, uma câmera de vídeo, um microfone de mão e outro de cabeça, as gravações ocorriam na casa do informante, entre três e seis horas da manhã.
RESULTADOS:
De acordo com Aikhenvald (2002, p.1), se línguas estão em contato, com muitos falantes de uma língua tendo conhecimento da outra, eles tipicamente emprestam traços linguísticos de uma delas para a outra e vice-versa, como hábitos de pronúncia, fonemas, categorias gramaticais, itens vocabulares e mesmo algumas formas gramaticais. Ferreira (2005) aponta como exemplo a descentralização de vogais do parkatêjê na fala dos mais jovens: uma vogal central como /ɨ/passa a ser pronunciada como a posterior /u/ do português. Nos dados analisados também foram encontradas algumas das estratégias por meio da qual, segundo Silva-Corvalán (1994), indivíduos bilíngues podem lembrar e utilizar os sistemas linguísticos envolvidos no contato, dentre as quais estão a simplificação de categorias gramaticais e oposições lexicais e o Code-switching, ou alternância de código, que envolve o uso de duas ou mais línguas em qualquer lugar no nível da estrutura sintática sem necessariamente haver mudança de interlocutor ou tópico.
CONCLUSÃO:
O objetivo deste trabalho foi apresentar alguns fenômenos decorrentes do contato linguístico entre as língua parkatêjê e portuguesa. A partir da análise dos dados coletados, e utilizando como fomento teórico os pressupostos de Aikhenvald (2002), Grosjean (1981) e Poplack (2004), concluímos que as mudanças no sistema linguístico, principalmente na fala dos mais jovens, ocorrem nos campos léxico, fonético-fonológico e morfossintático, processos que, como apresentados por Ferreira (2005), facilitam a utilização de ambos os sistemas linguísticos pelo sujeito bilíngue.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: línguas em contato, parkatêjê, mudança linguística.