62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 4. Antropologia Rural
AMAZÔNIA E FRONTEIRA: OS INDÍGENAS DE SANTA ROSA DO PURUS/AC E A GESTÃO PÚBLICA LOCAL
Uriens Maximiliano Ravena Cañete 1
Thales Maximiliano Ravena Cañete 2
1. Universidade da Amazônia - UNAMA
2. Universidade Federal do Pará - UFPA
INTRODUÇÃO:

A Amazônia, desde o século XVIII, ingressou no imaginário do ocidente como uma área de fronteira marcada pela idéia de espaço vazio. Essa perspectiva conservar-se até os dias atuais, tanto nas concepções dos indivíduos que migram para essa área, quanto para os tomadores de decisão que operam nas políticas públicas. Ao mesmo tempo a Amazônia mostra-se como uma das áreas do planeta com maior diversidade e disponibilidade de recursos naturais. A qualidade desses recursos, no entanto, está ameaçada pelo crescente uso desordenado dos mesmos. Tal cenário, cria uma interdependência de políticas públicas que demanda desenhos institucionais capazes de contemplar as especificidades da região. Nesse cenário de realidades diferenciadas, a região amazônica deve ser vista e pensada a partir de realidades locais. Uma descrição das observações realizadas em trabalho de campo no município de Santa Rosa do Purus, no qual interfaces entre a sociedade maior e etnias indígenas são estabelecidas pela gestão local, compõe o objetivo central deste trabalho. Descreve-se, ainda, o quadro de mudança vivenciado pelos grupos indígenas frente às políticas públicas implementadas pela gestão municipal.

METODOLOGIA:

Os dados apresentados resultam de entrevistas junto às lideranças indígenas Kaxinawá que participam da gestão municipal de Santa Rosa do Purus, assim como transitam em território peruano.O trabalho de campo foi realizado aplicando instrumentos de coleta de dados específicos para o cenário de participação política e de gestão da etnia Kaxinawá na esfera local. Duas semanas de pesquisa cumpriram essa etapa, com viagens diárias pelo Rio Purus a duas aldeias indígenas, em especial: Aldeia Canamary da etnia Kulina e aldeia Nova Mudança, pertencente aos Kaxinawá. Ademais do questionários e entrevistas semi estruturadas, um vasto acervo fotográfico foi construído de forma a evidenciar o cotidiano indígena na relação com os recursos naturais e na interação com a sociedade do entorno.

RESULTADOS:

Santa Rosa do Purus encontra-se bastante isolada. De seu total populacional, mais de 50% é constituído de indígenas, já que a sede municipal encontra-se próxima à Terra Indígena Alto Purus onde as etnias Kulina e Kaxinawá compõem as 34 aldeias que integram essa TI. As aldeias contam normalmente com Professor, Técnico de Enfermagem, Agente Indígena de Saúde - AIS e Agente Indígena Sanitário - AISAN. Tal quadro interno de serviços criado para as aldeias origina recursos que garantem uma relação mais próxima de consumo com artigos oriundos da sociedade maior. Agregado a esse cenário as políticas públicas sociais do governo federal, como bolsa família, potencializam ainda mais esse quadro de consumo. Muitas famílias permanecem às vezes por vários meses do ano em Santa Rosa do Purus. As estratégias de sobrevivência entre os indígenas voltam-se para a demanda de auxílio junto ao poder público local. Este mostra-se bastante receptivo para esse tipo de atendimento, já que é através dessas relações que situações clientelistas se estabelecem e marcam o cenário da gestão municipal e dos processos eleitorais.  Enquanto que na década passada a TI Alto Purus apresentava menos de 15 aldeias somando as duas etnias que compõem a área, após uma década esse número saltou para mais de 30 aldeias.

CONCLUSÃO:

A abertura de novas aldeias demanda um aumento populacional que justifique tais criações. Considerando que a divisão geopolítica entre Brasil e Peru não é reconhecida pelos Kaxinawá e Kulina, a busca pelo aumento dos grupos através da migração da área peruana para o Brasil vem se mostrando como uma estratégia bastante eficaz. para crescer seu contingente populacional. Se por um lado os Kaxinawá, especificamente, obnubilam suas tradições, seus costumes e mesmo seu conhecimento e técnica de trato com a natureza no contato com a sociedade maior, por outro lado a estratégia de migração Kaxinawá no sentido Peru/Brasil, realimenta essa sistema cultural. É evidente o reconhecimento entre as lideranças Kaxinawá brasileiras da importância da memória de seus ancestrais e que muitas vezes pode ser acessada apenas entre os mais velhos, no caso aqueles que se encontram em território peruano. Ao mesmo tempo, a experiência em território peruano permite estabelecer comparações entre políticas públicas dos diferentes países. Nesse sentido, tanto os Kaxinawá que migram para o Brasil percebem a disponibilidade de serviços oriundos de políticas públicas específicas para os indígenas, ou mesmo aquelas de redistribuição de renda, como o caso da bolsa escola como uma vantagem do território brasileiro.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Pesquisa - CNPq/PPG7, Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia - FIDESA, Universidade da Amazônia - UNAMA
Palavras-chave: Rio Purus, Indígenas, Fronteira.