| 62ª Reunião Anual da SBPC |
| G. Ciências Humanas - 7. Educação - 2. Currículo |
| CÍRCULOS DE EDUCAÇÃO E CULTURA: UMA EXPERIÊNCIA COM GESTANTES PERNAMBUCANAS |
| Anna Lúcia Miranda Costa 1 Maria Cândida Sérgio 1 |
| 1. Secretaria de Educação de Pernambuco |
| INTRODUÇÃO: |
Os altos índices de mortalidade materna e infantil no Estado de Pernambuco justificaram a implantação do Programa Mãe Coruja Pernambucana em outubro de 2007. De caráter intersetorial e instituído enquanto política de estado, o Programa promove ações de diversos atores representantes das sete secretariais estaduais envolvidas. Coube a Secretaria de Educação sob a coordenação de educadores ligados a Educação de Jovens e Adultos, colaborar com a consolidação da alfabetização e letramento das gestantes cadastradas no Programa. Este resumo apresenta uma experiência que se fundamenta nas idéias de Paulo Freire, utilizando como orientação metodológica os Círculos de Educação e Cultura que são espaços educativos que visam favorecer o processo de aprendizagem da leitura e da escrita a partir de questões centrais da cidadania e do mundo do trabalho. Os resultados da experiência são indicativos de que o currículo construído pelos autores que se inserem nos Círculos de Educação e Cultura norteados por uma perspectiva crítica e emancipatória é também composto por questões relativas aos cuidados com a criança que está sendo gerada ou que nasceu, nesse sentido, atribui significado ao aprendizado dessas gestantes. |
| METODOLOGIA: |
| Os Círculos de Cultura nasceram da essência do Movimento de Cultura Popular, manifestação intelectual e política que marcou a cidade do Recife na década de 1960. Reinventados pelos atores que acreditam na relevância dos saberes, inquietações e desejos das gestantes cadastradas no Programa Mãe Coruja Pernambucana, os Círculos de Educação e Cultura acontecem em diferentes espaços (escolas, residências, postos de saúde ou mesmo sob frondosas mangueiras). Um Círculo é formado por até vinte e cinco gestantes. Tem duração de quatro meses, com carga horária de seis horas/aulas semanais. Cada Círculo é ministrado por um professor que é acompanhado sistematicamente por uma coordenação pedagógica que comprometendo em exercitar a pedagogia do diálogo, garantindo vez e voz as gestantes ainda em condição de oprimidas. Mulheres silenciadas pela cultura machista de dominação do corpo e da alma. Assim, a construção de um currículo crítico que funcione como esfera pública democrática, possibilita as estudantes gestantes um espaço para expressar seus pensamentos, idéias, valores, crenças e expectativas de vida. É nesse contexto dos Círculos que o currículo vai sendo construído e materializado coletivamente. |
| RESULTADOS: |
| Por se tratar de uma experiência em curso no Estado de Pernambuco, os resultados obtidos são de caráter qualitativo podendo ser identificados como significativos avanços no que diz respeito a legitimidade dos direitos humanos, sobretudo, para as gestantes de nível socioeconômico baixo que necessitam como sujeitos de uma educação de qualidade que oportunize como nos afirma Souza (2007) a apropriação da leitura e da escrita, bem como de outros bens simbólicos para melhor inserção na sociedade e no mundo do trabalho. O envolvimento dos atores na construção do currículo para os Círculos de Educação e Cultura possibilita um comprometimento de todos com o aprendizado das gestantes inseridas no Programa. A vez e a voz de cada gestante são respeitadas e representadas por depoimentos. A participação de uma equipe multidisciplinar, como: (enfermeiros, técnicos agrícolas, psicólogos, professores, outros.) enquanto facilitadores das discussões nos Círculos representa um envolvimento de todos com educação, sobretudo, dos professores na elevação do nível de escolaridade, o grande desafio na atualidade para a Educação de Jovens e Adultos na sociedade brasileira e no nosso estado pelos altos índices de taxa de analfabetismo. |
| CONCLUSÃO: |
| Com todas as discussões e avanços que tivemos nos últimos tempos a respeito do currículo formal e não-formal e aprendizagem, ainda não conseguimos de fato estruturar e organizar um currículo que repare a dívida social que se tem com os sujeitos da Educação de Jovens e Adultos que não tiveram oportunidade de concluir seus estudos ou permanecer na escola na idade própria. Considerando o currículo como dispositivo estruturante e fundante de toda a prática pedagógica que possibilita e garante apropriação de conhecimentos e saberes, ressaltamos que a proposta do Programa Mãe Coruja Pernambucana enquanto política de governo tem contribuído de forma significativa para a educação das mulheres gestantes em noventa e cinco municípios pernambucanos. Retomando o contexto dos Círculos de Educação e Cultura no Canto Mãe Coruja, nossa experiência e registro ao longo desses três anos nos indicam que o currículo organizado e vivenciado nos Círculos permite alfabetizar na perspectiva do letramento mulheres grávidas, permite também a construção do confronto de saberes possibilitando novas formas de pensar, sentir a agir. Afirmamos que um currículo para jovens e adultos deve ser flexível, diversificado e participativo, reconhecendo o seu saber no processo ensino aprendizagem. |
| Palavras-chave: Círculos de Educação e Cultura, , Educação de Jovens e Adultos , Alfabetização. |