A dependência química é um transtorno em que predomina a heterogeneidade, já que afeta as pessoas de diferentes maneiras, por diferentes razões, contextos e circunstâncias. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cerca de 10% das populações dos centros urbanos de todo o mundo consomem substâncias psicoativas de forma abusiva. O Brasil está dentro da perigosa média mundial em relação ao número de usuários de drogas ilícitas. Tentando enfrentar esse problema, muitas das intervenções estiveram voltadas ao combate do tráfico, dando pouca ênfase ao problema de saúde. Mais recentemente, já sendo o consumo abusivo de drogas considerado um grave problema de saúde pública, foi implementada uma política ministerial que, além de ter seu foco na redução de danos, considera a necessidade de estruturação de uma rede de assistência centrada na atenção comunitária, ressaltando a atenção psicossocial.  Este estudo objetivou traçar o padrão de consumo de drogas psicoativas em usuários assistidos em Centros de Atenção Psicossocial de Fortaleza-CE (CAPSad). O estudo mostra-se relevante por fornecer subsídios para se pensar a problemática relativa à dependência química e contribuir para a construção e efetivação de práticas preventivas, terapêuticas e reabilitadoras.

Estudo do tipo descritivo, desenvolvido com 63 usuários de três Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas no município de Fortaleza, Ceará. A inclusão dos sujeitos obedeceu aos seguintes critérios: ter idade igual ou maior a 18 anos, estar integrado às atividades propostas pelo CAPSad e apresentar condições físicas e emocionais para participar e consentir  sua participação no estudo pela assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O instrumento utilizado foi um formulário contendo questões fechadas sobre o padrão de uso de drogas.  Os dados foram coletados em janeiro de 2010 e agrupados e organizados em categorias com base nas informações coletadas junto aos usuários. A pesquisa foi realizada de acordo com os preceitos éticos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta a pesquisa envolvendo seres humanos, assim antes da coleta de dados a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa-COMEP-UFC.

O padrão de uso de drogas de 63 usuários em três CAPSad do município de Fortaleza - CE apresentou as seguintes características: idade de início de uso de drogas 11 a 17 anos, 68,2%, todavia é relevante o fato de 11,1% dos participantes terem iniciado com idade inferior aos 10 anos. É preocupante a iniciação precoce do uso de drogas  e seus efeitos na saúde mental e física dos jovens, daí sugerir-se que as ações sejam direcionadas para a vulnerabilidade inerente à idade e intervenções que busquem prevenir o primeiro uso de substâncias químicas. A idade de início de abuso mais prevalente foi de 18 a 31 anos, 53,9%, faixa etária em que há a disponibilidade financeira através do emprego. A droga de início foi o álcool, 52,3%, como também a droga de abuso, 47% e de preferência, 46%. Todavia, como droga que motivou o tratamento no CAPS, após o álcool, com 49,2%, está o crack, 47,6%, o que revela nitidamente uma passagem  das drogas lícitas para as ilícitas.

Os altos índices encontrados revelam que o uso de álcool como droga de início é relevante e preocupante, desse modo urge a necessidade de ações educativas, preventivas e reabilitadoras para jovens usuários, devido às comorbidades associadas a seu uso e a facilitação do acesso e da dependência a outras drogas. É evidente a necessidade de uma efetiva política de prevenção de uso, associada com outras ações de tratamento e inserção do usuário ao meio social. Sente-se a necessidade de uma melhor apreensão desta realidade através da realização de outros estudos.