62ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 3. Geografia Física
CARACTERIZAÇÃO DA DINÂMICA AMBIENTAL DA REGIÃO COSTEIRA DO MUNICÍPIO DE GALINHOS, LITORAL SETENTRIONAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Zuleide Maria Carvalho Lima 1
Helenice Vital 1
1. Dep. de Geografia/ Geologia/ Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN
INTRODUÇÃO:

Inserida numa paisagem costeira recente, a área em apreço é caracterizada pela complexidade de suas feições geomorfológicas, representada por praias, recifes, estuários, mangues, lagoas, laguna, dunas e esporões arenosos (spit). O modelamento dessas feições é fruto da atuação conjunta de ondas, correntes costeiras e ventos, relacionados com as variações do nível do mar ocorridas durante o período Quaternário (Lima et al. 2001). Esse trabalho visa um melhor entendimento dos processos dinâmicos atuantes na região de Galinhos, porção setentrional do Estado do Rio Grande do Norte, a fim de dar subsídios às medidas de proteção ambiental e monitoramento costeiro. Desta forma, o spit de Galinhos constitui-se em um ecossistema frágil, passível de modificações rápidas tanto naturais como antrópicas. Este ecossistema encontra-se inserido na área de influência do Pólo Petrolífero de Guamaré, estando também submetida à intensa atuação da atividade salineira e, mais recentemente da carcinicultura, além da previsão de implantação do Pólo Gás-Sal. Este megaprojeto envolve a exploração maciça de quatro produtos que existem em abundância na área: sal, gás natural, petróleo e calcário; por conseguinte é prevista a implantação de um grande complexo industrial, com perfil de pólo químico e petroquímico (FIERN, 1998). Uma termelétrica e uma fábrica de barrilha serão as âncoras deste megaprojeto. Empreendimentos deste tipo apresentam grande potencial para alterar o equilíbrio dos ambientes envolvidos. Portanto, a área de estudo é importante, tanto do ponto de vista ambiental, já que abrigam ecossistemas de alta fragilidade como dunas, praias e manguezais, quanto do ponto de vista da exploração petrolífera.

METODOLOGIA:

 

O levantamento bibliográfico foi executado durante todo o período da pesquisa. Os trabalhos de campo tiveram como principal objetivo o reconhecimento geológico-geomorfológico e a determinação de pontos a serem monitorados e avaliados em detalhe. O monitoramento por meio de perfis praiais e coleta de dados hidrodinâmicos foi iniciado em dezembro de 1999 e encerrando-se em agosto de 2001, totalizando 21 meses monitorados.  Para a determinação de perfis transversais ao longo do litoral de Galinhos, foram escolhidos três pontos: Perfil A - Galos; Perfil B - Galinhos e Perfil C - Farol. Os nivelamentos topográficos mensais foram realizados nas marés de sizígia (lua cheia) em todos os meses de monitoramento. A caracterização ambiental da praia foi realizada concomitante aos levantamentos topográficos e coleta de sedimentos. Com o objetivo de caracterizar os sedimentos praiais de Galinhos, foram executadas amostragens ao longo dos três (3) perfis topográficos, descritos anteriormente. As amostras foram coletadas em três compartimentos do perfil praial, coletando apenas os primeiros 5 cm superficiais, para observar o momento de deposição atual, totalizando 189 amostras para os procedimentos laboratoriais. A aquisição de dados hidrodinâmicos foi realizada no período de junho de 2000 a agosto de 2001, sempre na preamar de acordo com as tábuas de maré confeccionadas para o Porto de Macau/RN - DHN. Para executar este levantamento foram determinados dois pontos de observação: ponto AB e ponto BC, localizados entre os perfis praiais. Os parâmetros observados foram: altura das ondas, período das ondas, velocidade da corrente litorânea, direção dos ventos, direção da corrente litorânea e o ângulo de incidência das ondas.

 

RESULTADOS:

Diante dos levantamentos, os resultados obtidos mostraram que as maiores alturas de onda foram observadas no ponto AB no mês de fevereiro, com ondas medindo 62 cm. O período das ondas no ponto BC foi o mais alto com 109 s no mês de setembro de 2000. A maior velocidade da corrente litorânea foi observada no ponto BC, com 1,00 m/s no mês de maio de 2001. Os ventos que predominaram foram os ventos provenientes de NE. O sentido da corrente litorânea se manteve entre os quadrantes SW e NW. O ângulo de incidência das ondas apresentou diferença significativa com variação de 0° (ondas paralelas a linha de costa) a 40°. Os resultados das análises granulométricas mostraram que não houve modificações no tamanho dos grãos em relação a sazonalidade (inverno e verão), entretanto foi constatada a predominância da granulometria areia com cascalho esparso no pós-praia e estirâncio, tanto no perfil A quanto no B; já na antepraia do perfil B ocorreu areia a areia siltosa, enquanto o perfil A, por sua vez apresentou areia lamosa com cascalho esparso variando até areia siltosa. Isso nos leva a interpretar que este sedimento de granulometria silte seria remanescente de antigos deltas de maré vazantes uma vez que estes pontos encontram-se localizados na porção frontal do spit onde foram evidenciados paleocanais no continente com o uso do GPR e na área submersa com o Boomer (Caldas 2002). No perfil C - pós-praia areia, estirâncio areia com cascalho na antepraia cascalho arenoso, isso se deve a proximidade com o canal de alta energia. No ponto de observação AB a praia foi classificada como intermediária e refletiva, sendo o estágio intermediário o que ocorre mais vezes, para as marés de sizígia de lua cheia.       No ponto de observação BC a praia foi classificada como refletiva e intermediária, sendo o estágio refletivo mais freqüente. Nas observações do mês de novembro de 2000, constatou-se que em todas as fases da lua a praia foi classificada como refletiva. Do ponto de vista sazonal (verão e inverno) observou-se a mesma tendência do ponto AB, onde durante os meses junho e julho de 2000 (período inverno) a praia foi classificada de intermediária (TBM), mudando para refletiva no inverno de 2001, mostrando variação anual no estágio morfodinâmico da praia. No verão de 2001 (janeiro e fevereiro) a praia foi classificada no estágio refletivo. A partir da análise global dos dados obtidos através dos perfis praiais, pôde-se observar que a área estudada é muito frágil e passível de modificações significativas na sua morfologia tanto no período anual como mensal (fases da lua). As pesquisas realizadas no spit de Galinhos, no período de dezembro de 1999 a agosto de 2001, favoreceram a compreensão da situação atual da morfologia praial desta área.

CONCLUSÃO:

Na caracterização do ambiente praial foi identificado que na zona de pós-praia ocorreu uma tendência a erosão nos perfis B e C, enquanto no perfil A foi observado uma deposição em todos os meses estudados. A interferência antrópica mais evidente ocorre nas proximidades do perfil A onde foi constatado a retirada de fragmentos de beachrocks para construção civil. Este tipo de prática é extremamente desaconselhável, pois os beachrocks constituem-se em uma proteção natural contra erosão provocada pela energia das ondas. Outra interferência antrópica observada foi à construção de casas de veraneio e pousadas no pós-praia do perfil B, o qual se encontra localizado na sede do município de Galinhos. Nos períodos de agosto a outubro, quando são registradas as maiores velocidades de vento, estas casas são invadidas por areias removidas pelos ventos. Através do trabalho de monitoramento dos três perfis (perfil - A Galos; perfil B - Galinhos e perfil C - Farol) pode-se concluir que: No perfil A - Galos, observou-se que embora tenha ocorrido tanto erosão como deposição durante os meses monitorados, a morfologia do perfil praial permaneceu constante com relação ao mês de referência (dezembro de 1999). Este fato foi atribuído à existência de uma linha de beachrock na zona de estirâncio, que atua como proteção natural, diminuindo a energia dissipada pelas ondas sobre o continente. Os levantamentos realizados neste perfil apresentaram um balanço sedimentar positivo, apresentando uma deposição média por mês na ordem de 0,07 m3/m/mês e 0,79 m3/m/ano. Desta forma, ao longo do período monitorado, o volume de material acumulado foi da ordem de 1,39 m3/m. No perfil B - Galinhos, foram observadas mudanças bruscas na sua morfologia, durante os 21 meses de monitoramento, tendo sido identificada uma ciclicidade onde são observadas a formação de barras arenosas longitudinais na porção da zona de estirâncio, seguidas pela ocorrência de uma praia com berma; posteriormente volta a aparecer às barras arenosas longitudinais e novamente a formação de berma. Estas observações nos levam a afirmar que estas mudanças são cíclicas, onde nos meses verãos, período de ventos fortes, ocorrem à formação de barras longitudinais na poção da zona de estirâncio, enquanto nos meses de estação chuvosa, quando os ventos são mais fracos, ocorre a formação de berma. Os levantamentos realizados neste perfil apresentaram um balanço sedimentar negativo, apresentando uma erosão média por mês na ordem de -0,18 m3/m/mês e de -2,17 m3/m/ano.

Desta forma, ao longo do período de 21 meses monitorados, o volume de material erodido foi aproximadamente de -3,79 m3/m. No perfil C - Farol, foi observado o mesmo comportamento do perfil B - Galinhos, com a formação de barras arenosas longitudinais, seguidas pela implantação de berma, evidenciando a ciclicidade na mudança destas formas. Quando comparamos o volume de sedimentos com o mês de referência (dezembro de 1999) foi observada uma tendência à erosão em todo o período de monitoramento. O balanço sedimentar foi negativo, apresentando uma erosão média por mês na ordem de -0,09 m3/m/mês e -1,12 m3/m/ano. Durante o período monitorado, o volume de material erodido foi aproximadamente de -1,95 m3/m. Tendo em vista as modificações observadas durante os 21 meses monitorados, sugere-se um monitoramento de longa duração (pelo menos cinco a dez anos) para avaliação da ciclicidade observada.

 

Palavras-chave: Monitoramento Praial, Galinhos, Rio Grande do Norte, Brasil, Análises Sedimentológicas.