62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 6. Literatura
ENTRE AS ARESTAS DA LITERATURA, AS POSSIBILIDADES DA LÍNGUA: A HIDROGRAFIA NOS MORFISMOS DE FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO
José Antônio Rodrigues Júnior 1
1. Depto. de Letras - CCHLA - UFRN
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho pauta-se em discutir como é estabelecida a utilização da metáfora da água no livro Morfismos, publicado pela poeta portuguesa Fiama Hasse Pais Brandão, procurando entender a maneira pela qual se configura a bacia semântica da água na estruturação do livro. Consideramos que nos poemas, em meio à Grafias, Temas e Sincronias (BRANDÂO: 1991), num construto de catorze poemas, a poeta finda por apresentar-nos um oceano em metáforas que sugerem uma relação direta entre a linguagem verbal e a literatura, investigando suas afluências de possibilidades no que cerca o caráter linguístico.
METODOLOGIA:
Para concretizarmos nosso intento, além da utilização do livro Morfismos (BRANDÂO: 1991), publicado na revista/movimento Poesia 61, corpus do nosso trabalho, fora necessária a pesquisa de referenciais teóricos acerca do tema, nas áreas da literatura, lingüística e demais áreas do conhecimento, o que caracteriza o aspecto transdisciplinar da nossa pesquisa.
RESULTADOS:
Nos poemas publicados em Morfismos (BRANDÂO: 1991) a poeta, aparentemente, organizado seus poemas em uma sequência lógica baseada na teoria das categorias da álgebra matemática, apresenta-nos um crescente semântico da temática de sua obra, retém como cerne nervoso o desenvolvimento da metáfora da água em direção à metáfora do mar. Arquitetado de forma à configurar uma poesia de caráter metalingüístico que é evidenciado em sua poética. Particularmente nesse livro que possui um crescente lingüístico na intitulação dos poemas Grafia, Tema e Sincronia, o que inferimos, respectivamente, por morfema, palavra e semântica. Partindo da reflexão de que o símbolo água "Representando a infinidade de possíveis, contém todo o virtual, todo o informal, o germe dos germes, todas as promessas de desenvolvimento, mas também todas as ameaças de reabsorção. (...) É retornar às origens, carregar-se de novo num imenso reservatório de energia e nele beber uma força nova: fase passageira de regressão e desintegração, condicionando uma fase progressiva de integração e regenerescência (v. banho, batismo, iniciação)." (CHEVALIER: 2009); percebe-se que a água, bem como, a palavra, por pertencerem a um imenso conjunto que se encerra dentro de um universo maior, a linguagem, de maneira geral, apresenta-se eivada de significados que possibilitam à literatura seu aspecto plurissignificativo. Com isso, conclui-se que a literatura organiza e intensifica a plurissignificação que se encontra preexistente e muitas vezes latente na linguagem.
CONCLUSÃO:
Percebemos que Fiama Hasse Pais Brandão, utiliza-se da metáfora da água de maneira à correlacioná-la mais aproximadamente ao uso da mesma na tradição judaica, na qual a água é vista como elemento de natureza primordial, águas primordais. Pro outro lado, o crescente da água ao mar se confirma à medida em que é consabido o efeito da superabundância do elemento água, cujo exagero, ou sua má utilização, acarreta conseqüências desastrosas, sem esquecer de levar em consideração que tudo o que foi dito acerca da água, em sua hidrografia, em seu livro de poemas, Morfismos, se equivale ou pode ser substituído pelo termo linguagem, possivelmente, em toda sua generalização ou especificidade.
Instituição de Fomento: PROPESQ - PIBIC - UFRN
Palavras-chave: Linguagem, Literatura, Plurissignificação.