62ª Reunião Anual da SBPC
B. Engenharias - 1. Engenharia - 2. Engenharia Biomédica
MEDIÇÃO NÃO-INVASIVA DA PRESSÃO VESICAL
João Carlos Martins de Almeida 1, 2
Rodrigo Horikawa Watanabe 1
David Jacques Cohen 3
Carlos Arturo Levi D'Ancona 3
José Wilson Magalhães Bassani 1, 2
1. Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação - FEEC/UNICAMP
2. Centro de Engenharia Biomédica - CEB/UNICAMP
3. Departamento de Urologia da Faculdade de Ciências Médicas - FCM/UNICAMP
INTRODUÇÃO:
Existem diversas anormalidades que podem prejudicar a micção, comprometendo a saúde e qualidade de vida de um indivíduo. Diversas dessas anormalidades estão relacionadas à obstrução da uretra, que pode ser causada pelo aumento da próstata, em decorrência da hiperplasia benigna, cuja prevalência é de 50% em homens com idade superior a 60 anos. A avaliação urodinâmica, em que se mede fluxo urinário e pressão vesical durante a micção, é uma importante ferramenta no diagnóstico dos sintomas, porém é invasiva, demorada, de custo elevado, e não está livre de complicações (ex: hematúria, infecção). Equipe multidisciplinar da Unicamp desenvolveu um método alternativo, minimamente invasivo, para medição da pressão vesical, e consiste em um dispositivo denominado conector uretral (Pat. N. PI 0502171-5, CEB-UNICAMP). Os objetivos do presente trabalho foram aplicar o conector e instrumentação desenvolvida em trabalho anterior em avaliações urodinâmicas, seguindo protocolo experimental aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNICAMP, para comparação entre o método convencional e o método proposto; e desenvolver instrumentação para automatizar o procedimento de uso do conector.
METODOLOGIA:
O procedimento clínico envolvendo as avaliações urodinâmicas foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNICAMP. Após assinatura do termo de consentimento, seis pacientes selecionados, com idade de 66 ± 2 anos, diagnóstico prévio de prostatismo e sem tratamento anterior, foram submetidos à avaliação urodinâmica. Primeiramente foi realizada a avaliação convencional, cujo registro foi feito com equipamento Urolite (Dynamed, São Paulo, SP). Em seguida foi realizada a avaliação com uso do conector, utilizando instrumentação reportada em trabalho anterior. O paciente foi orientado a introduzir o conector na uretra e urinar através do dispositivo. Durante a micção, foi solicitado ao paciente que ocluísse manualmente a saída do conector, gradualmente, permitindo o registro da pressão vesical. Os valores de pressão registrados por ambos os métodos foram comparados por análise estatística com o software Prism 4.02 (Graphpad Software, San Diego, CA). Paralelamente às avaliações clínicas, foi desenvolvido um sistema gerador de pressão microcontrolado para acionamento de um tubo flexível adicionado à saída do conector uretral, ocasionando a oclusão da passagem de urina automaticamente. Foram realizados testes em bancada para avaliação do funcionamento desse sistema.
RESULTADOS:
O conector uretral registra a pressão isovolumétrica (pressão em fluxo zero), e esta é uma boa estimativa da atividade contrátil da bexiga. No caso do método convencional, essa propriedade vesical é estimada pela pressão no fluxo máximo, dessa maneira adotou-se este valor para comparação com o valor máximo de pressão registrado pelo conector. A regressão linear resultou um coeficiente angular de 2,00 ± 0,49 (n = 6, r2 = 0,8016 e intervalo de confiança para 95% de 0,6190 a 3,381) e a correlação, um valor r de Pearson de 0,8953. Embora a correlação tenha sido muito boa e o intervalo de confiança inclua o valor 1, ainda são necessários mais casos (exames com pacientes) para se obter os valores definitivos dos parâmetros. Vale observar que a oclusão gradual do conector durante a micção é um modo de evitar o aumento brusco da pressão dentro da uretra, fenômeno hidráulico conhecido como golpe de aríete, que pode lesionar o sistema urinário. O sistema de oclusão automático foi testado em bancada pela aplicação de diferentes valores de pressão de uma coluna de água ao conector, e realizando a oclusão automática de sua saída. O sistema permitiu o fechamento gradual, sem ocorrência acentuada do golpe de aríete, e permitiu o registro da pressão da coluna.
CONCLUSÃO:
O número de casos clínicos avaliados por meio da avaliação urodinâmica foi bastante restrito, mas permitiu observar a existência de uma relação linear entre o método do conector e o convencional. Não houve relato de dor ou grande desconforto por parte dos pacientes em utilizar o conector, o que mostrou que o dispositivo é uma maneira viável de estimar a pressão vesical de maneira minimamente invasiva. Quando testado em bancada, o sistema acoplado à saída do conector permitiu o registro da pressão aplicada pela coluna de água ao dispositivo, sem ocorrência do golpe de aríete. Um maior número de casos clínicos está sendo programado, o que permitirá obter mais dados para comparação entre o método proposto e o convencional, além de permitir avaliar o sistema de oclusão automático na prática.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Avaliação urodinâmica não-invasiva, Pressão vesical, Instrumentação.