62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 4. Saúde Pública
QUALIDADE DE VIDA DAS PESSOAS COM A Sídrome Lipodistrófica (SLD)  E AIDS
Carla Glenda Souza da Silva 1, 2
Paulo Roberto Medeiros de Azevedo 1
João Carlos Alchieri 1
1. PPGCSA-UFRN
2. Secretaria de Estado da Saúde Pública do RN
INTRODUÇÃO:
Em 2005 das 164.550 pessoas que viviam com HIV/Aids (PVHA) e estavam em tratamento com Anti-retrovirais no Brasil, o MS estimou que pelo menos 49% dessas pessoas poderiam desenvolver a Síndrome Lipodistrófica (SLD). A SLD caracteriza-se por alterações metabólicas e redistribuição da gordura corporal, modificando a estrutura corporal, e consequentemente, repercutindo na vida psicossocial dos portadores do HIV/Aids, o que pode influenciar na "qualidade de vida" das PVHA. Contraditoriamente, os benefícios da terapia anti-retroviral parecem reduzir a qualidade de vida das pessoas portadoras do HIV na medida em que os efeitos colaterais das medicações repercutem na sua vida afetivo-emocional. A qualidade de vida pode ser entendida como "as percepções do indivíduo a partir de sua posição na vida, no contexto cultural e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação às suas metas, expectativas, padrões e preocupações". É medida pela satisfação, com várias variáveis relacionadas, a saúde física, psicológica e social. Portanto, o estudo buscou avaliar a relação entre desenvolvimento da SLD, conseqüente ou não ao uso de Anti-Retrovirais (ARV) e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV/Aids.
METODOLOGIA:
Participaram do estudo PVHA, em uso de ARV, com indício de alteração na distribuição de gordura corporal, que caracterizasse a SLD, indicados pelo médico infectologista que os assiste. Os participantes foram entrevistados individualmente, visando garantir a privacidade, após preenchimento do TCLE tiveram acesso ao instrumento que era preenchido com apoio da pesquisadora. Foi utilizado o WHOQOL-HIV BREF (OMS), com 31 questões abordando 06 domínios da vida humana (físico, psicológico, nível de independência, relação social, meio ambiente e espiritualidade) e 05 facetas específicas das PVHA (sintoma; inclusão social; perdão e culpa; preocupação sobre o futuro; morte e morrer). As questões são individualmente pontuadas em uma escala de Likert de 5 pontos, onde 1 indica percepções baixas e negativas e 5 indica percepções altas e positivas. Dessa forma, as pontuações dos domínios e facetas estão dispostas em uma direção positiva, pontuações mais altas denotam melhor qualidade de vida. Em algumas facetas (dor, desconforto, sentimentos negativos, dependência de medicação, morte e morrer) as pontuações não estão dispostas em uma direção positiva, o que significa que, para estas facetas, escores mais altos não denotam melhor qualidade de vida, estes escores precisam ser invertidos de forma que os valores mais altos reflitam melhor qualidade de vida (QOL).
RESULTADOS:
Foram avaliadas 33 pessoas portadoras do HIV/Aids, sendo 67% Homens e 33,3% Mulheres, com 41,6 anos em média. Quanto ao nível de escolaridade: 39,4% 1º grau, 39,4% 2º grau e 21,2% o 3º grau. Quanto ao estado civil: 45,4% solteiros; 36,2% casados ou vivem como casados e 18,18% separados, divorciados ou viúvos. Todos fazem uso de ARV e apresentam SLD. Quando questionados sobre "Como está sua saúde?" consideram: 42,4% muito boa, 30,3% boa e 27,3% nem ruim nem boa. E sobre "considerar-se doente atualmente?" verificou-se: 87,9% não se consideram doentes no momento, corroborando estudos (WHOQOL-HIV Group, 2003; Herzlich, 2004; Nascimento, 2006) onde quanto melhor a percepção do estado de saúde mais elevada será a pontuação para a qualidade de vida, além de ser um aspecto subjetivo da vida humana. Observou-se a média maior (M=11,1; DP=5,1) no Domínio da Epiritualidade/Religião/Crenças Pessoais (ligados ao perdão e culpa, preocupações com o futuro e morte e morrer), diferente dos demais domínios, podendo sugerir que a infecção por HIV pode afetar a QOL além dos aspectos biomédicos, os aspectos psicossociais e espirituais devem ser observados (Giovelli, 2009;Canavarro, et. al. 2008). O domínio psicológio composto por: sentimentos positivos, pensar, aprender, memória e concentração, auto-etima, imagem corporal e aparência, sentimentos negativos e espiritualidade, religião e crenças pessoais - que nesse estudo era esperado com uma significativa diferença em relação aos demais, devido a presença da SLD apresentou-se dentro da média geral (M=3,85; DP=1,46). Porém, ressalta-se que a espiritualidade/religião/crenças pessoais, nesse estudo, pode estar ligada de forma subjetiva a uma força superior na qual a pessoa acredita (Lukoff, 1992 in Nascimento, 2006).
CONCLUSÃO:
As pessoas que participaram do estudo já vivem com HIV/Aids a 10,5 anos em média, e apresentam a SLD que pode estar associada ou não ao uso dos ARV, afetando dessa forma a QOL das PVHA (Nicholas, et. al. 2005). Nesse estudo ficou patente que a relação com a espiritualidade, religião e crenças pessoais foi mais evidente do que com os demais domínios (físico, psicológico, nível de indenpendência, relações sociais e ambiente). Talvez pelo fato de que a cronicidade da doença, a imprevisibilidade, sentimentos e reações de incerteza e insegurança favoreçam um impacto significativo na QOL.
Instituição de Fomento: Univers. Federal do Rio Grande do Norte
Palavras-chave: Síndrome Lipodistrófica, HIV/Aids, Qualidade de Vida.