62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS PROFESSORES DE ASSENTAMENTOS RURAIS DO RIO GRANDE DO NORTE: LETRAMENTO, ALFABETIZAÇÃO E ESCOLARIZAÇÃO
Antonia de Lima Alves 1
Maria do Socorro Oliveira 2, 1
1. Depto de Letras - UFRN
2. Profª/ Dra.
INTRODUÇÃO:
Este trabalho tem como objetivo discutir as representações dos professores sobre letramento, alfabetização e escolarização. Escolhemos uma abordagem qualitativa de natureza etnográfica crítica por ser mais adequada aos objetivos de nossa investigação. Conforme descrita por Thomas (1993), essa abordagem se caracteriza por um tipo de reflexão que examina a cultura, o conhecimento e a ação. Ela permite ainda ver o aspecto de mudança e da crítica, principalmente por usar o conhecimento para promover mudanças sociais significativas, através da conscientização e do ´fortalecimento´(empowerment) que leva em consideração aspectos éticos que permeiam qualquer estudo (Cameron, 1992). A relevância desse estudo consiste na contribuição que ele poderá proporcionar à prática profissional de professores ligados à educação de jovens e adultos, ou seja, discutindo e refletindo sobre o que pensam os professores do PRONERA a respeito de sua prática educativa. Isto porque, conforme postulações de Freire (1980), a partilha do conhecimento entre tais profissionais só reforça o engajamento do cidadão nos movimentos sociais e, em decorrência disso, buscam uma melhoria na qualidade de vida desses profissionais e um redimensionamento das práticas sociais.
METODOLOGIA:
A pesquisa se insere em um projeto pedagógico denominado Projeto Saber da Terra/educação de jovens e adultos, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Programa Nacional de Educação para a Reforma Agrária (PRONERA), dentre outros. Para a realização desta pesquisa, contamos com a colaboração de quatro professoras e quatro professores, que, gentilmente, se dispuseram a atuar em conjunto com o desenvolvimento da investigação. Os professores estão identificados pela abreviação PC1, FA2, AM3, AG4, AS5, AL6, RM7 e JC8. Cinco professores cursaram o ensino médio. Um professor possui o ensino fundamental incompleto, uma professora possui o ensino fundamental completo e outra possui o curso superior. A maioria já lecionou em outros projetos de alfabetização, antes de entrar no Projeto Saber da Terra, como o Programa de Alfabetização Solidária. Sete professores residem nos assentamentos onde ministram aulas de alfabetização de jovens e adultos. Somente uma professora não mora no assentamento. Os dados para esta análise foram coletados por meio de uma entrevista individual aberta aplicada pela pesquisadora com os professores colaboradores. Nesta análise, a leitura dos dados foi feita a partir das representações sobre escolarização, letramento e alfabetização.
RESULTADOS:
Para discutirmos os dados tomaremos como base os referenciais teóricos da Teoria das Representações Sociais. Ao analisarmos as representações dos professores, depreendemos que uma das representações mais fortemente presente nos discursos deles está relacionada à visão do senso comum, entendido conforme Moscovici (1984), como um corpo de conhecimentos produzidos espontaneamente pelos membros de um grupo e fundado na tradição e no consenso. Consideramos as representações como forma de conhecimento compartilhado socialmente, que permitem uma rica aproximação com os diversos grupos, principalmente os que estão à margem da sociedade, quase nunca escutados. Que conhecimento é a única coisa que vai diferenciar você hoje de outra pessoa. É a maneira de você conseguir ser alguém depende do conhecimento que você tem e esse conhecimento a gente só adquire estudando (AS5). Para AS5, o domínio do conhecimento só é adquirido através dos estudos. Esta visão é bastante comum em nossa sociedade, sendo o estudo entendido como o responsável pelo sucesso pessoal, uma vez que abre oportunidades sociais para quem o adquire. Para AS5, são as instituições escolares que dirigem, organizam o conhecimento. Essa visão autoritária e limitada da construção do conhecimento é que regula a educação tradicional.
CONCLUSÃO:
Neste trabalho, propusemo-nos a discutir as representações que o professor tem sobre escolarização, letramento e alfabetização. Esses resultados indicam que os professores entrevistados têm concepções bastante distintas. Nós compreendemos que embora as representações, como objeto de análise, tenham sido olhadas por ângulos diferentes, pelas diversas áreas de estudos da linguagem e das ciências sociais, o que foi observado a partir da análise das entrevistas é que, no discurso dos professores do Projeto Saber da Terra, as representações são diversas. Dessa forma, seja qual for o campo de investigação, para nós, trata-se de compreender um processo de conhecimento específico, prático, que permite ao sujeito situar-se, agir-ser, comunicar-se. Em suma, as representações que os professores têm sobre escolarização, letramento e alfabetização, expressaram a maneira pelas quais eles percebem e interpretam o mundo à sua volta. Tais representações representam o senso comum em torno da realidade que permite compreender valores de diferentes épocas de uma determinada sociedade, bem como suas perspectivas de mundo, diferentes visões sociais, políticas e culturais que interferem no processo social.
Palavras-chave: Letramento, Alfabetização, Escolarização.