62ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 7. Oceanografia - 3. Oceanografia Geológica
FEIÇÕES SUPERFICIAIS DA PLATAFORMA CONTINENTAL ENTRE FORTALEZA E ICAPUÍ, LITORAL LESTE DE ESTADO DO CEARÁ - BRASIL
Leonardo Hislei Uchôa Monteiro 1
Bruno Nogueira Catunda 2
Valdir Vaz Manso do Amaral 3
Luis Parente Maia 4
1. Pós-graduação - Doutorado em Geociências UFPE
2. Grad. em Oceanografia - Inst. Ciênc. do Mar Labomar UFC
3. Prof.Dr/Orientador - Departamento de Geologia UFPE
4. Prof. Dr./Orientador - Inst. Ciênc. do Mar Labomar UFC
INTRODUÇÃO:

O mapeamento da superfície marinha constitui uma importante ferramenta para a compreensão da distribuição dos sedimentos e organismos associados, uma vez que possibilita a visualização do mosaico formado pelos diversos habitats marinhos.  A utilização do sensoriamento remoto associado às imagens de campo adquiridas por um mini-ROV resultou na identificação de feições submersas como recifes, campos de dunas, planícies arenosas e recobertas por algas, entre Fortaleza e Icapuí, litoral leste do Estado do Ceará.

O Ceará tem duas principais atividades de exploração marinha que são os hidrocarbonetos e a pesca. A pesca tem sua importância vista a grande variedade da ictiofauna presente na águas cearenses. Em destaque, a pesca da lagosta é o recurso mais importante desse setor, devido o Estado ser o maior produtor brasileiro dos últimos anos. Essas e outras potencialidades estão diretamente associadas ao fundo marinho, daí a importância do aprimoramento do conhecimento da área de estudo. Baseada nessa técnica de mapeamento é possível avaliar as compartimentações da Plataforma Continental em função dos aspectos ecológicos associados à sedimentologia, feições submersas, influência da hidrodinâmica e a ocorrência de organismos.
METODOLOGIA:

O estudo realizou uma descrição de zonas de sedimentos e formas de fundo associadas aos padrões morfológicos identificados a partir de imagens orbitais. Foi utilizada a banda espectral 1 (450-520nm) dos Landsats 7 e 5, dos anos de 2002 e 2008 cena 216/63, que forneceu uma visão regional da distribuição e formas das feições de fundo. Através do processamento digital das imagens orbitais e interpretação visual foi possível visualizar as formas de fundo até a profundidade de 40 metros. Dessa forma, foi possível individualizar zonas em função da forma de fundo, cor, textura, linearidade e tamanho. Após a interpretação das imagens, foram realizadas quatro campanhas oceanográficas entre os anos de 2006 e 2010, direcionadas para o levantamento de dados de confirmação das áreas identificadas por satélite. Nessa etapa foram utilizadas técnica de amostragem sedimentológica pontual, registros visuais através de ROV (remotely operated vehicle) e mergulhos autônomos. O trabalho de campo foi baseado em uma base cartográfica digital, estruturada em ambiente de sistema de informação geográfica (SIG), que suporta dados pretéritos de sedimentos superficiais, batimetria, pontos de registro de mergulho e imagens de satélite multitemporais.

RESULTADOS:

A primeira interpretação realizada teve como foco os padrões de lineamentos identificados através da técnica de filtragem direcional (45° e 315°) onde caracteriza duas direções principais de ocorrência de formas alongadas. As maiores ocorrências de lineamentos foram linhas com orientação NW-SE e NE-SW e os comprimentos das linhas apresentaram valores até 7 km, mas se concentraram entre as classes de 100 a 3.000 metros. A análise sedimentológica revelou três principais classes: Areias siciliclásticas (<15% CaCO3) encontradas abaixo da isóbata de 15 m, Areias/ou Cascalho Carbonáticos (15>x<70% CaCO3) entre as profundidades de 15 e 30 m e Areias carbonáticas (>70% CaCO3) acima de 30 m. O ROV mostrou os diversos habitats entre as profundidades de 8m a 60m, os quais foram comparados com a interpretação das imagens orbitais. Foram identificadas áreas recobertas por sedimentos com marcas de ondas (até 15 m), por algas predominantemente Halimeda Incrassata (entre 15 e 30 m) e planícies arenosas sem marcas de ondas com bioturbações superficiais (acima de 30 m). Em Icapuí, foram identificadas duas linhas de recife arenítico entre as profundidades de 20 e 40 metros, subparalelos a costa com poucos metros de largura e com 12 e 20 quilômetros de extensão.

CONCLUSÃO:

De acordo com o mapeamento realizado, as imagens orbitais informaram detalhes do mosaico da superfície submersa da Plataforma Continental em escala espacial de 1:50.000, que associadas com as imagens do ROV, em escala de afloramento, possibilitam a observação das principais variações entre as feições encontradas. Este trabalho eleva bastante o nível de detalhe de visualização em comparação às técnicas de mapeamento por amostragem pontual. Tornou-se evidente a divisão da Plataforma Continental em zonas entre 0 a 15 metros compostas por planícies arenosas com marcas de topo, 15 e 30 metros zonas das algas Halimeda e sedimentos cascalhosos oriundos da quebra dos ramos dessa alga e 30 a 60 metros composta por planícies de sedimentos areno-cascalhosas e lama enriquecidos de CaCO3. Outro ponto alcançado pelo estudo foi a observação da movimentação de algumas feições encontradas como marcas erosivas em bancos de algas sobre a zonas das Halimedas e bancos de algas móveis orientados pelos movimentos orbitais das ondas sobre o fundo. Porém, as grandes feições de fundo como campos de dunas ou as linhas de recife apresentam condições hidrodinâmicas específicas e pretéritas, as quais em estudos mais detalhados poderão servir de indicadores paleoambientais.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e Inst. de Ciências do Mar LABOMAR - UFC
Palavras-chave: Geologia Marinha, Plataforma Continental, Riscas de Icapuí.