Com base na análise crítica do discurso, este estudo objetivou demonstrar de que forma os sujeitos históricos de nossa época utilizam-se de suas imagens (construídas discursivamente e identificadas com as massas) para lograr êxito em suas ações políticas. Os discursos proferidos por Luís Inácio Lula da Silva a trabalhadores brasileiros no ano de 2009, divulgados em mídia eletrônica e impressa, foram o foco da análise.

O corpus foi formado por discursos proferidos por Luis Inácio Lula da Silva no ano de 2009, levando em consideração a forma de construir sua imagem ao relacionar-se com trabalhadores através de suas ações discursivas. Os dados foram obtidos a partir dos materiais produzidos pelas mídias eletrônicas e impressas. A análise incidiu sobre o processo pelo qual o sujeito histórico e a população brasileira aproximam-se pelas significações de seu discurso e sobre a infraestrutura dos textos selecionados.

O fato de o atual presidente brasileiro haver sido operário e sindicalista foi e continua sendo ressaltado e utilizado por publicitários, jornalistas, críticos, parlamentares e até mesmo por líderes sindicais, desde a campanha eleitoral estendendo-se até o exercício do poder petista. Nesse sentido, torna-se incontestável que o papel representado por Lula na sociedade brasileira não só contribuiu para que ele fosse eleito, mas para que se destacasse pela aprovação e boa aceitação de seu mandato, tendo em vista a notável identificação do povo brasileiro com sua imagem. Portanto, surge o seguinte questionamento: de que forma tal identidade é construída discursivamente?

        Com o presente trabalho, buscou-se não somente analisar o caráter linguístico das declarações políticas, mas deflagrar mais uma discussão no âmbito político: que artifícios discursivos são utilizados atualmente pelos chefes de Estado  na reprodução do discurso dominante para influenciar conhecimentos, saberes, atitudes, ideologias socialmente partilhadas (Pedro, 1997). Dentre os autores consultados, destacam-se Courtine (2006), com sua contribuição sobre como analisar o discurso político; e Pedro (1997), no que diz respeito ao papel do discurso na (re)produção da dominação.

Ao examinar os elementos discursivos mais empregados como mecanismos da argumentação e persuasão por Lula, paralelamente à busca dos efeitos de sentido pretendidos pelo locutor com relação a seus interlocutores, constatou-se a construção de processos discursivos pautados em práticas lingüístico-discursivas imbricadas de estruturas sociopolíticas mais abrangentes de poder e dominação (Pedro, 1997). Considerando ser um dos objetivos da Análise Crítica do Discurso analisar e revelar o papel do discurso na (re)produção da dominação (Pedro, 1997), pode-se afirmar que as estratégias discursivas empregadas pelo ator ideológico Lula divulgadas em mídias eletrônicas e impressas  no ano de 2009 demonstram que ele legitima seu controle político buscando promover a boa aceitação da exploração da classe trabalhadora brasileira por parte dos próprios trabalhadores por meio do discurso da conciliação entre as classes, pautado no regime de colaboração de classes, em que exploradores e explorados, empresários e trabalhadores, possam estabelecer uma relação harmônica, não somente dando continuidade, mas aprofundando o exercício do poder das elites econômicas no Brasil.