62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 9. Imunologia - 2. Imunologia Celular
AVALIAÇÃO DA INTERFERÊNCIA DE ANESTÉSICOS GERAIS NA INJÚRIA PULMONAR AGUDA EM MODELO DE SEPSE
André Luiz Silva Davim 1
Magnaldo Inácio Tavares Medeiros 1
Richard Halti Cabral 2
Elizeu Antunes dos Santos 3
1. Depto. de Morfologia; Faculdade Natalense para o Desenvolvimento do RN/FARN
2. Depto. de Anatomia; Universidade de São Paulo/USP
3. Depto. de Bioquímica; Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN
INTRODUÇÃO:

A inflamação é uma resposta natural de defesa do organismo contra agentes causadores de lesões teciduais, onde através de mediadores pró-inflamatórios atua na tentativa de conter e eliminar agentes causadores de injúrias. Dentre as respostas inflamatórias agudas, a sepse se destaca por ser a patologia que mais causa mortes em unidades de terapia intensiva em todo o mundo. Ela é caracterizada por uma complexa síndrome proveniente de uma descontrolada resposta inflamatória sistêmica de origem infecciosa, caracterizada por múltiplas manifestações orgânicas, como as anormalidades metabólicas e hemodinâmicas, bem como as alterações da microvasculatura e perfusão orgânica, eminentemente responsáveis pela forma fatal da doença. Como conseqüência da sepse, tem-se a injúria pulmonar aguda, uma resposta local a estímulos sistêmicos múltiplos cuja patogênese não está totalmente esclarecida. Estudos recentes levantam a hipótese que os anestésicos gerais podem desencadear quadros de injuria pulmonar aguda devido às alterações da permeabilidade microvascular (Sales, 2006; De Blasi, 2008). Diante disso, o objetivo desse trabalho é avaliar a interferência dos anestésicos gerais propofol, halotano e isofluorano na injúria pulmonar aguda em modelo de sepse.

METODOLOGIA:

Camundongos machos da espécie Mus musculus, linhagem Swiss foram utilizados como modelo experimental, sendo divididos em quatro grupos, um controle negativo e os grupos anestesiados com propofol (endovenoso), halotano e o isofluorano (inalatórios). Após a anestesia, os animais foram submetidos a uma cirurgia para a indução de sepse, com posterior eutanásia após o intervalo de 8h. Em seguida, os animais foram submetidos às lavagens peritoneal e broncoalveolar para a contagem de células em câmara de Neubauer e posterior retirada do pulmão para avaliação histológica do parênquima. Para a análise estatística foi utilizado a ANOVA one-way ou seu correspondente para dados não-paramétricos (Kruskal-Wallis). Quando constatadas diferenças significativas foi utilizado o teste post-hoc Student-Newman-Keuls para comparação entre as médias dos grupos.

RESULTADOS:

A partir dos resultados obtidos na lavagem peritoneal, foi observada diferença estatisticamente significante entre o grupo controle e os grupos propofol, halotano e isofluorano (p<0,05). Quando comparados os grupos anestesiados, não foi observada diferença estatisticamente significante entre o grupo propofol e halotano. Em relação à contagem de células obtidas a partir da lavagem broncoalveolar, também foram observadas diferenças estatisticamente significantes entre os grupos controle e os grupos anestesiados (p<0,05), não sendo observada diferença entre o grupo propofol e halotano. Na avaliação histológica dos pulmões, foi observado no grupo propofol uma maior integridade do parênquima pulmonar, apresentando bronquíolos terminais e respiratórios íntegros e alvéolos com paredes condizentes com o padrão histológico normal. No grupo halotano foi observada uma boa integridade do parênquima com poucos indícios de injúrias. Já no grupo isofluorano foram observados alvéolos, bronquíolos respiratórios e terminais rompidos, e ainda algumas placas de linfócitos em determinadas regiões do parênquima, caracterizando a injúria tecidual.

CONCLUSÃO:

De acordo com os resultados obtidos neste estudo, podemos concluir que em modelo experimental, o uso dos anestésicos propofol e halotano se mostrou mais eficaz na inibição do excesso de migração de células para o sítio de inflamação após a indução da sepse, contrapondo o observado quando utilizou-se o anestésico isofluorano, que não impediu o excesso de migração celular levando à instalação de um quadro de injúria pulmonar aguda. Com isso, este estudo vem corroborar os achados na literatura que associam o uso de anestésicos com a possível interferência na migração de células para o sítio de inflamação, o que pode de alguma forma atenuar ou potencializar a instalação de injúrias em tecidos intensamente vascularizados.

Palavras-chave: Inflamação, Sepse, Injúria pulmonar aguda.