Algumas espécies do gênero Cayaponia são utilizadas na medicina popular, entre estas a C. espelina e a C. tayuya (atividade antimicrobiana, antiofídica, tonificante, diurética, antiasmática, purgativa, depurativa e no combate da dor, diarréia, bronquite, epilepsia, etc.), a C. pilosa (atividade antimicrobiana, emenagoga e purgativa) e a C. cabocla (purgativa, depurativa em doenças cutâneas e emenagoga). Além disso, estudos farmacológicos já demonstraram a atividade antiinflamatória da C. tayuya (Correa, 1985; Lorenzi et al., 2002; Recio et al., 2004; Rodrigues; Carvalho, 2001) e a atividade tripanocida da C. Podantha (Truiti et al., 2005).

Estudos realizados em nosso laboratório têm demonstrado que o extrato bruto das folhas de Cayaponia podantha (Cp), conhecida popularmente como taiuiá, provoca uma redução da permeabilidade vascular e da migração de células induzida por agentes flogísticos, quando administrado em animais por via oral, indicando um efeito antiinflamatório do extrato. O objetivo deste trabalho foi investigar o efeito do extrato bruto da Cp sobre a resposta inflamatória tópica em camundongos, sendo este estudo fundamental para uma melhor caracterização da atividade antiinflamatória deste extrato.

O extrato bruto foi diluído em solução de acetona (acetona/água 7:3), imediatamente antes do uso. A atividade antiinflamatória do extrato foi avaliada através da inibição do edema de orelha induzido por óleo de cróton. Em um grupo de camundongos Swiss foi administrado topicamente o óleo de cróton na superfície interna da orelha esquerda. E como controle, o veículo foi administrado na orelha direita. Imediatamente após a aplicação do agente flogístico, outros grupos receberam o extrato bruto de Cp ou dexametasona, na superfície interna da orelha esquerda. Na orelha direita foi aplicado solução de acetona/água. Após 6 horas, os animais foram anestesiados, submetidos à eutanásia, as orelhas seccionadas e pesadas. O índice de inibição da resposta inflamatória foi calculado. A atividade da mieloperoxidase (MPO) foi avaliada no sobrenadante de homogenados das secções de orelhas, que foram colocadas em tampão fosfato de potássio, contendo brometo de hexadeciltrimetilamônio em homogeneizador de Potter. O homogenado foi agitado em vórtex e centrifugado. O sobrenadante obtido foi colocado em microplaca para determinação da atividade da enzima através da medida de absorbância.

A aplicação de óleo de cróton na orelha esquerda de camundongos induziu uma resposta inflamatória bastante evidente na 6ª h. Como observado, o peso da orelha aumentou duas vezes quando comparada à orelha direita (controle, sem aplicação do óleo de cróton). O extrato bruto de Cp nas doses de 2,5 e 5,0 mg/orelha inibiu significativamente a intensidade do edema (Cp_2,5=48,2% P<0,01; Cp_5,0=63.7% P<0,001) quando comparado com o grupo de animais que receberam somente o óleo de cróton. A aplicação do extrato, na dose de 1,25 mg/orelha não interferiu no desenvolvimento da resposta. O tratamento dos animais com a dexametasona, fármaco antiinflamatório de referência, provocou uma redução pronunciada do edema de orelha. Para avaliação do efeito do Cp sobre a migração de neutrófilos, foi realizada a quantificação da enzima MPO presente nos neutrófilos. A aplicação do óleo de cróton induziu um aumento na ordem de 20 vezes na atividade da MPO, na 6ª hora após a aplicação do estímulo. O extrato de Cp nas doses de 2,5 e 5,0 mg/orelha, mas não de 1,25 mg/orelha, provocou uma redução pronunciada na atividade da enzima (95.3% P<0,001 e 99.4% P<0,001, respectivamente), sendo este efeito semelhante ao da dexametasona.

Em resumo, o presente estudo mostra evidências indicando que o extrato bruto da Cp apresenta uma significativa atividade antiinflamatória avaliada através de edema de orelha e sobre a migração celular. Tais dados justificam a realização de estudos adicionais a fim de identificar os constituintes ativos do extrato e investigar o seu mecanismo de ação.