62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia
SOROPREVALÊNCIA DA INFECÇÃO PELO Trypanosoma cruzi NA ÁREA RURAL DO OESTE POTIGUAR.
Daniela Ferreira Nunes 1
Carlos Ramon Nascimento Brito 1
Antônia Cláudia Jácome da Câmara 2, 6
Lúcia Maria da Cunha Galvão 3
Paulo Roberto Medeiros de Azevedo 4
Egler Chiari 5
1. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, CCS, UFRN.
2. Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas, CCS, UFRN.
3. Programas de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e Ciências Farmacêuticas, UFRN
4. Departamento de Estatística, CCET, UFRN.
5. Departamento de Parasitologia, ICB, UFMG.
6. ORIENTADORA
INTRODUÇÃO:
No Rio Grande do Norte, os dados sobre a epidemiologia da doença de Chagas se resumem aos inquéritos sorológicos e aos dados entomológicos nacionais. O primeiro inquérito nacional em 1980 revelou 1,8% de prevalência e o segundo, realizado em escolares mostrou uma reatividade sorológica de 0,20%. Dados prévios realizados em moradores da zona rural no seridó potiguar demonstraram que o percentual de soros reativos foi de 3,7 e 5,1% nos municípios de Caicó e Serra Negra do Norte, respectivamente. Em Caraúbas, município do oeste potiguar, a positividade alcançou 9,1%. Por outro lado, as espécies transmissoras no Estado que predominam no peridomicílio com altos índices de infecção pelo Trypanosoma cruzi e baixa infestação domiciliar são o Triatoma brasiliensis e T. pseudomaculata, (CASTRO-FILHO & SILVEIRA, 1979; SILVEIRA & VINHAES, 1998; CÂMARA et al., 2003), mas apresentam elevada capacidade de re-infestação e difícil controle (DIOTAIUTI et al., 2000). A ausência de dados recentes sobre o número de indivíduos infectados nos levou a realizar um novo inquérito soroepidemiológico para infecção pelo T. cruzi em moradores da zona rural da mesorregião oeste neste Estado.
METODOLOGIA:
Os municípios foram escolhidos após sorteio aleatório das localidades, delineamento estatístico e determinação do cálculo amostral baseado em "amostragem aleatória simples". Todos os moradores acima de oito anos de idade foram convidados a participar do trabalho concordando de forma livre e espontânea com o estudo por assinatura do "Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE". Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (COEP/UFMG Nº 312.2006). Foram sorteados 15 municípios em uma população estimada de 77.204 moradores rurais com previsão de 1.429 amostras coletadas. O período de coletas variou de 2007 a 2009. Para cada participante foram coletados 5ml de sangue venoso em tubo a vácuo e a pesquisa de anticorpos anti T. cruzi foi realizada com o kit Chagatest ELISA (Wiener Laboratórios, Argentina) e reação de imunofluorescência indireta (RIFI) com formas epimastigotas da cepa Y do T. cruzi. A sorologia foi considerada reagente quando os dois testes foram reativos, não reagentes quando nenhum dos testes foi reativo ou indeterminado quando apenas um dos testes foi reativo.
RESULTADOS:
De 1950 amostras coletadas nos municípios a prevalência para a mesorregião oeste foi estimada em 5,69% (111/1950). Os municípios com soroprevalência mais elevada foram, Severiano Melo 10,43% (17/163); Caraúbas 8,79% (42/478), Lucrécia 8,32% (3/34), Governador Dix-Sept Rosado 8,04% (9/112) e Apodí 7,76% (26/335). A distribuição da sorologia reativa por faixa etária revelou que a infecção foi crescente a partir da 3ª década de vida, atingindo índices mais elevados nas 4ª, 5ª e 6ª décadas de vida. A ausência de indivíduos infectados na primeira década e o baixo índice na 2ª década (1,8%) sugere tendência na redução da prevalência da infecção em função da eficácia das ações do programa de controle. A distribuição da sororeatividade nos indivíduos do gênero masculino se mostrou aparentemente mais elevado do que aqueles do feminino, 6,7% (57/856) e 4,9% (54/1094), respectivamente. Este fato pode estar relacionado aos aspectos culturais da população da área rural como, o hábito de caçar animais silvestres ser mais freqüente na população masculina.
CONCLUSÃO:
Estes dados revelam que apesar de a infecção pelo T. cruzi ser endêmica na mesorregião oeste a transmissão vetorial parece estar sob controle. No entanto, a população infectada constitui um importante problema de saúde pública, sobretudo pelas faixas etárias atingidas o que representa uma sobrecarga para os serviços de atenção e assistência à saúde. O semi-árido é uma importante área de risco com a presença freqüente de vetores de hábitos silvestres participando dos ciclos de transmissão peridomiciliar e domiciliar. Este comportamento dificulta o controle vetorial devido à elevada capacidade de reintrodução desses insetos aos domicílios. Estes dados sugerem que a vigilância epidemiológica deve ser direcionada e contínua para consolidar o controle da doença de Chagas no Estado do Rio Grande do Norte.
Instituição de Fomento: Edital MCT/CNPq/CT Saúde/SCTIE/DECIT Nº034/2008; CNPq/Bolsa de Iniciação Científica; FAPERN/PPSUS, PROPESQ/UFRN; Bolsas CNPq: DCR/FAPERN e PQ
Palavras-chave: Doença de Chagas, Trypanosoma cruzi, Soroprevalência.