62ª Reunião Anual da SBPC

F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 2. Comunicação e Educação

DISCURSOS EM (RE)VISTA: POSSIBILIDADES PARA PESQUISA SOBRE MÍDIA E EDUCAÇÃO

Micheli Venturini ^{1, 2, 3}

1. Universidade Federal da Bahia/UFBA
2. Universidade do Estado da Bahia/UNEB
3. Faculdade Social da Bahia/FSBA

INTRODUÇÃO:

Trata-se de um estudo sobre o discurso apresentado durante a campanha nacional de divulgação da implantação da TV digital no Brasil, que circulou em horário nobre na grade de programação das 4 maiores emissoras de televisão do país. A campanha lançou mão de uma estratégia de aproximação popular entrecruzando cenas do cotidiano de famílias brasileiras com superficiais informações técnicas sobre os novos equipamentos televisivos, com evidente prioridade pelo consumo em detrimento da relevância social da chegada da TV digital. A presente investigação visou analisar o discurso das peças de propaganda da referida campanha e entender esse momento ímpar de avanço cultural e tecnológico. A implantação da TV digital no Brasil ainda está em curso e precisa ser mais bem estudado e compreendido pelos pesquisadores dessa área de conhecimento com vistas a refletir criticamente sobre o jogo de interesses que se desenrola por trás das campanhas publicitárias. Assim, o objetivo do estudo foi discutir as tendências subjacentes nas campanhas publicitárias da TV digital e contribuir para o debate acerca da mídia televisiva como concessão pública e espaço de educação informal.

METODOLOGIA:

A pesquisa em tela é de natureza qualitativa e de perspectiva dialética. Optou-se pela Análise do Discurso como caminho metodológico capaz de responder ao problema apresentado e entender as falas no seu contexto historico. Para levantar informações do conjunto das peças publicitárias veiculadas e respectivos discursos, os vídeos das propagandas veiculadas pela TV foram capturados num sitio de compartilhamento de vídeos disponíveis na Internet (www.youtube.com) e em seguida, transcritos ipsis literis. A freqüência das propagandas e a forma pela qual foram apresentadas a sociedade imprimiu se constitui em objeto do presente estudo. A campanha constituiu-se de 5 comerciais, através de cenas do cotidiano da vida da família Nascimento: o 1º ocupou-se em apresentar a família "Nascimento" e galga uma identificação com a ideologia coletiva da família genuinamente brasileira; o 2º comercial lançou o produto TV digital como uma novidade que está chegando; no 3º o foco está na qualidade de som e imagem que a novidade oferece; no 4º comercial, a centralidade está nos benefícios e facilidades, como interatividade e portabilidade da TV digital; por fim, o 5º comercial é centrado no conversor de sinal analógico em digital.

RESULTADOS:

Observa-se o cumprimento do objetivo estabelecido com esse material publicitário: informar que a TV digital está chegando, chamar a atenção da população para algo importante que está acontecendo acerca da sua televisão. Porém, como é característico desse tipo de texto, traz o movimento de persuasão dos desejos e necessidades da sociedade, cumprindo também o papel de não perder a oportunidade de estimular o consumo, afinal é disso que depende o mercado publicitário inteiro. Através do exercício de constituição de identidade, reconheço a formulação ideológica capitalista inscrevendo-se no discurso: estabelecendo uma relação de identidade com a família, esta será consumidora em potencial, ou seja, ela irá movimentar-se no sentido de manter a lógica do mercado, nesse caso, consumindo um novo aparelho de TV ou um conversor. A construção discursiva é tão bem articulada, que a entonação e o destaque recaem sobre as qualidades da nova TV e as qualificações que chegam com ela e não sobre o rebatimento disso na vida social das pessoas ou na produção de conteúdos. Subscreve-se, nesse diálogo, o poder da "persuasão" do discurso publicitário, quando o autor-sujeito (emissoras com consentimento do Estado), inscrevem seus interesses nas respostas ocultas presentes.

CONCLUSÃO:

A investigação apontou tendências nas campanhas publicitárias da TV digital e pautas para ampliação do debate sobre o papel da mídia televisiva diante da abertura de canais, além da experiência de educação informal. Ficou evidente no estudo: comportamento interativo diante dos acontecimentos contemporâneos, pela sociedade destituída das condições de interpretação que lhe permitiriam fazer cair alguns véus. É preciso "estudar" a TV nos seus distintos lócus, pois ela avança, configurando-se cada vez mais como o maior meio de informação e comunicação das massas. Há perspectivas de grandes mudanças, de mudanças significativas e de mudança nenhuma, quer dizer, pode ser também que passemos ver os apresentadores com alguma ruga por causa do sistema digital. No entanto, não é algo significativo, pois as perspectivas poderiam ser de potencializar a condição de cada telespectador ser um produtor de conteúdo. Em outras palavras, a sociedade, sem interatividade na TV, continua sujeita à condição de passividade, de mera telespectadora e submetidas aos donos da informação no Brasil. Sem um canal de retorno que permita e até instigue o telespectador a fazer circular sua produção e tecer suas críticas num espaço aberto, definitivamente, os avanços não contribuem para a emancipação humana.

Palavras-chave: Discurso, TV Digital, Educação.