62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 3. Sociologia do Desenvolvimento
O RIO SÃO FRANCISCO NO SEMI-ÁRIDO ALAGOANO: FATOR ESTRATÉGICO DE DESENVOLVIMENTO OU ELEMENTO DE CONTRADIÇÃO NA PERCEPÇÃO DOS ATORES SOCIAIS DO MUNICÍPIO DE PIRANHAS.
José Jenivaldo de Melo Irmão 1
Andrea Gomes Santana de Melo 2
1. Doutorando Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
2. Mestranda em Saúde e Ambiente, Universidade Tiradentes - UNIT
INTRODUÇÃO:

Historicamente o sertanejo do baixo São Francisco, particularmente a porção do semi-árido alagoano, apoiou sua economia no potencial do rio, devido a um ambiente com baixa precipitação pluviométrica, predomínio da pecuária e culturas agrícolas de subsistência, como mandioca, feijão e milho. Este quadro passa a ser modificado com as intervenções das esferas governamentais através de projetos de uso do rio, como a geração de energia hidrelétrica, fornecimento de água potável para uso múltiplo, atividades de irrigação de pequenas colheitas e meio de transporte de longa distância. Neste contexto, a pesquisa procurou identificar a importância e o uso mais qualificado da água do rio para esta sub-região, enfocando o município de Piranhas-AL, analisando de forma crítica e histórica os modelos de desenvolvimento implementados na localidade, caracterizando as suas estruturas econômicas, sociais e ambientais; além de verificar até que ponto a importância da água foi considerada nos projetos para reversão do quadro negativo no âmbito sócio-ambiental. 

METODOLOGIA:

O universo espacial da pesquisa foi o semi-árido alagoano, circunscrito no município de Piranhas-AL, como amostragem da realidade local. A primeira parte da investigação tomou como base o levantamento bibliográfico, utilizado para consubstanciar a elaboração do referencial teórico e caracterização do semi-árido alagoano e município de Piranhas. Em relação à coleta de documentos, foram utilizados relatórios, projetos e sínteses de programas dos órgãos públicos das três esferas governamentais voltados ao rio São Francisco e aplicados em torno do município de Piranhas. A coleta de informações primárias foi obtida através de entrevistas semi-estruturadas, colocada em prática a fim de esclarecer aspectos pertinentes ao objeto do estudo, a partir das percepções dos agentes sociais que não puderam ser detectadas em documentos. Os critérios de seleção das entrevistas e o número de entrevistas dos agentes sociais passaram pela análise de representatividade e contribuição para o desenvolvimento local. Os entrevistados foram divididos em cinco classes: membros de órgãos oficiais (Federal - quatorze, Estadual - sete e Municipal - oito), membros de setores da sociedade civil - três e Iniciativa Privada - seis, perfazendo um total de trinta e oito entrevistas.

RESULTADOS:

Os dados extraídos dos documentos e das percepções dos atores sociais do município demonstraram o caráter de décadas de intervenção predatória no rio, exercida pelos três níveis da esfera pública e seus inúmeros órgãos; pela iniciativa privada e seu complexo industrial (hidrelétrica de Xingó) e, pela comunidade urbana, e seus efluentes domésticos, têm levado o rio a um processo de degradação progressiva. Deve-se, também, ressaltar que os avanços obtidos ao longo dos anos no campo econômico, como a produção de energia elétrica, turismo rural, piscicultura, aqüicultura, pecuária leiteira e apicultura, não foram transformados em melhorias sociais, pois verificam-se nos projetos implementados, a persistência de erros que se sucedem, sobretudo decorrentes da não participação dos elementos da sociedade diretamente interessados e afetados. O caso da hidrelétrica chama atenção pela possibilidade do seu sistema de regularização provocar efeitos na atividade pesqueira e na cultura do arroz, atividades tradicionais dos ribeirinhos. Desta forma, as ações não parecem considerar o rio como um elemento estratégico, mas sim como uma fonte inesgotável de recursos.

CONCLUSÃO:

A expectativa ao realizar-se um trabalho de pesquisa em uma região semi-árida, mas que possui um rio perene como o São Francisco, seria encontrar condições para se atingir qualidade de vida, já que os discursos oficiais para legitimar as dificuldades das regiões semi-áridas, estão referenciados nas restrições do balanço entre oferta e demanda de recursos hídricos, com déficits constantes no sertão brasileiro. Além do mais, no decorrer do trabalho, foi possível verificar que o discurso do fenômeno da seca, como a maior calamidade da área semi-árida não se sustenta: o problema não é a água é a política da água. Tanto assim que, observa-se bolsão de pobreza em Piranhas, uma das cidades mais antigas da margem do rio São Francisco. Este rio que deveria ser um elemento estratégico do desenvolvimento vem sofrendo degradações com sérios impactos sobre a qualidade da sua água, bem como na saúde e atividades produtivas do ribeirinho. Portanto, os projetos estudados denotam que os interesses de curto prazo parecem ter prevalecido sobre o longo prazo e a comunidade local foi excluída do processo de discussão e solução.

Palavras-chave: Desenvolvimento , Semi-Árido, Rio São Francisco.