62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 9. Imunologia - 5. Imunologia
COMPARAÇÃO ENTRE OS NÍVEIS DE IMUNOGLOBULINA A SECRETORA (SIgA) NO COLOSTRO DE MÃES DE RECÉM-NASCIDOS A TERMO E PRÉ-TERMO ATENDIDAS EM UMA MATERNIDADE PÚBLICA
Mayara Santa Rosa Lima 1
Ana Caroline Perez Medeiros 2
Lahyana Rafaella de Freitas Cunha 2
Evellyn Câmara Grilo 1
Júlia Karinne Costa de Oliveira Freitas 1
Roberto Dimenstein 3
1. Departamento de Nutrição, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
2. Departamento de Bioquímica - UFRN
3. Prof. Dr. / Orientador - Departamento de Bioquímica - UFRN
INTRODUÇÃO:

O leite humano é a melhor forma de alimentação do recém-nascido (RN), por possuir benefícios nutricionais, imunológicos e econômicos. Sua composição varia consideravelmente nas duas primeiras semanas de lactação, sendo o colostro o primeiro produto da secreção láctea, que permanece até o 4º ou 7º dia pós-parto e funciona como imunização passiva, pela qual a mãe transfere anticorpos ao filho, cujo sistema imune é imaturo.

A SIgA é o principal anticorpo do colostro e, por não ser absorvida pelo trato gastrointestinal, protege a superfície das mucosas do RN. Nenhuma IgA é detectada nos primeiros dois a três dias de vida, o que torna importante a transmissão de SIgA ao RN através do colostro.

O RN pré-termo (abaixo de 37 semanas) apresenta o sistema imune ainda mais imaturo que o a termo (acima de 37 semanas), criando maior dependência do suporte imunológico fornecido pela amamentação. Há poucos dados disponíveis na literatura acerca do teor de IgA no leite de mães de RN prematuros, mas alguns autores têm encontrado maiores níveis de SIgA no colostro destas mães, comparado às a termo. Com a finalidade de contribuir para o conhecimento deste assunto, foram investigados e comparados os níveis de SIgA no colostro de mães de RN pré-termo e a termo durante os dois primeiros dias pós-parto.

METODOLOGIA:

O estudo foi do tipo transversal e a amostragem obtida por conveniência, composta de parturientes voluntárias atendidas na Maternidade Escola Januário Cicco, Natal-RN. Foram 84 mães - 49 de RN a termo e 35 de RN pré-termo - sem patologias, com concepto único sem má-formação. Os dados do pré-natal e parto foram obtidos no prontuário.

Após esclarecimento e autorização da pesquisa, pelo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, 2mL de colostro foram coletados por expressão manual de uma mama, pela manhã e em jejum. O transporte das amostras foi feito sob refrigeração.

Para análise de SIgA, centrifugou-se o leite por 10 minutos e retirou-se o soro, que foi diluído na proporção 1:20 com solução salina de NaCl 0,9%. Da amostra diluída, foram retirados 20 μL e adicionados 1000 μL de antisoro IgA. As amostras, o padrão e o branco foram incubados por 10 minutos a 37°C em banho-maria. A turbidez gerada foi medida a 340 nm em espectrofotômetro Femto. A concentração de IgA foi calculada usando o padrão de IgA (IgA Cat. 11002) e os resultados dados em mg/dL.

Os valores de imunoglobulina A foram expressos em média e desvio padrão. Para testar as diferenças entre as médias dos dados numéricos paramétricos, foi usado o teste t de Student e estas foram consideradas significativas quando p <0,05.

RESULTADOS:

A média de SIgA no colostro das mães (n=84) foi de  680,0 ± 267,7 mg/dL, sendo o valor médio em parturientes a termo (n=49) de 641,97 ± 204,18 mg/dL e em parturientes pré-termo (n=35) de 810,88 ± 262,77 mg/dL. No 1º dia pós-parto, as mães de RN a termo apresentaram média de 760,27 ± 170,15 mg/dL e as de RN pré-termo de 920,42 ± 235,62 mg/dL (p= 0,0059). No 2º dia pós-parto, os valores foram de 470,46 ± 101,61 mg/dL e 571,90 ± 124,33 mg/dL, para mães de RN a termo e pré-termo, respectivamente (p=0,02). Portanto, houve uma diferença estatisticamente significativa (p=0,001) nos níveis de SIgA nos dois grupos, sendo maiores no colostro de mães de RN pré-termo, ou seja, a idade gestacional mostrou interferir na concentração de SIgA no colostro.

Vários estudos têm demonstrado que o colostro produzido por mães de prematuros tem níveis mais elevados de SIgA do que os de mães de RN a termo. Considerando que o sistema imunológico é mais imaturo em RN pré-termo, acredita-se que o valor de SIgA é mais elevado neste caso por uma adaptação fisiológica, a fim de prover as necessidades aumentadas do RN, mas as bases fisiológicas para essa diferença permanecem desconhecidas. O que fica evidente é que essa diferença é potencialmente benéfica para o prematuro durante as primeiras semanas de vida.

CONCLUSÃO:

O objetivo principal deste trabalho foi avaliar e comparar os níveis de SIgA em amostras de colostro de mães de recém-nascidos a termo e pré-termo durante os dois primeiros dias pós-parto. Os resultados sugerem que os prematuros alimentados com o leite da própria mãe têm uma maior proteção, provavelmente por uma adaptação fisiológica para prover maiores defesas ao lactente pré-termo, uma vez que este possui um sistema imune mais imaturo do que o RN a termo. Isso ressalta a importância do início imediato da amamentação, que deve, se possível, acontecer ainda na sala de parto. Tal atitude é extremamente importante como fator de proteção para o RN, pois esta mamada fornece quase o dobro de SIgA, se comparado ao 2º dia, constituindo uma adaptação imunológica às necessidades de proteção antiinfecciosas e nutricionais destes lactentes.

Instituição de Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES
Palavras-chave: Leite Humano, Imunoglobulina A Secretora, Idade Gestacional.