62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 7. Enfermagem
AMPLIAÇÃO DA CLÍNICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA ACERCA DA PERPECÇÃO DOS PAIS SOBRE OS CUIDADOS DAS FILHAS QUE APRESENTAM EPIDERMÓLISE BOLHOSA NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ/RN.
Linda Kátia Oliveira Sales 1
Rúbia Mara Maia Feitosa 2
Arisa Nara Saldanha de Almeida 3
Maria Suely Mesquita Xavier 4
Priscila Lima Ribeiro de Melo 5
Danielle Gomes da Rocha Silva 6
1. Profª da Fac. de Enfermagem, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
2. Profª do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Potiguar ,UnP, Mossoró
3. Profª Ms/.Orientadora. Graduação em Enfermagem da Universidade Potiguar-UnP.
4. Preceptora de Enfermagem da Universidade Potiguar - UnP/RN, Campus Mossoró.
5. Enfermeira da Estratégia de Saúde da Família do município de Tibau do Sul, RN.
6. Preceptora de Enfermagem da Universidade Potiguar - UnP/RN, Campus Mossoró.
INTRODUÇÃO:

Epidermólise bolhosa (EB) compreende em termos clínico-patológicos, doenças hereditárias raras, caracterizadas por fragilidade cutânea, originando formação de bolhas por disjunção dermo-epidérmica, conseqüência de pequenos traumatismos ou fricção. Ocasionam-se dor e sofrimento para as crianças portadoras e os familiares envolvidos com o cuidado. Pensar na produção do cuidado é trilhar novos caminhos acerca da concepção de clínica. Assim, é visualizar o cuidado além da doença, tendo a percepção da atuação no sujeito. A clínica ampliada trabalha a subjetividade do paciente, articulando ferramentas de escuta do sujeito na prática profissional. Porém, é necessário que o profissional de saúde possa ampliar a escuta, estar atento e desarmar-se para ser capaz de compreender a singularidade da situação vivenciada por cada ser. Durante a inserção dos acadêmicos de Enfermagem nas atividades de uma Unidade Básica de Saúde de Mossoró/RN, estes acompanharam o caso de duas crianças gêmeas, sete meses de idade, com EB congênita. Este trabalho constitui-se em um relato de experiência para compreender, na perspectiva da clínica do sujeito, as interações e a subjetividade dos pais mediante a situação vivenciada.

METODOLOGIA:

Foi durante o desenvolvimento das atividades práticas realizadas em uma Unidade Básica de Saúde da cidade de Mossoró/RN, proporcionada pela disciplina Enfermagem no Processo Saúde/Doença da Criança e do Adolescente, ministrada no quinto período, semestre letivo de 2006.1, da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - FAEN/UERN, que um grupo de acadêmicos aproximou-se do contexto familiar. Para elaboração do trabalho foram realizados dois encontros. O primeiro deles constituiu-se de uma observação direta, na perspectiva de identificar à dinâmica das interações e o cuidado dos pais para com as filhas. O segundo momento foi destinado para a entrevista semi-estruturada com os pais, na tentativa de perceber como se estabelecia o vínculo afetivo, o medo diante do desconhecido, o estigma, a relação com os profissionais de saúde e as práticas de cuidado.  Em seguida, buscou-se instituir um diálogo a parir das informações colhidas com os autores que abordam a discussão referente à clínica ampliada, como por exemplo, SILVEIRA (2009); FEUERWERKER (2007).

RESULTADOS:

As informações dos pais trazem conteúdo que delineia movimento de vidas que clama por atenção, cuidado para suas dores, configurando em aspectos físicos e psíquicos. Após nascimento das filhas, os olhares dos profissionais de saúde estavam direcionado para a patologia, traduzido por questionamento sobre a morfologia da doença, fragmentando a realidade e buscando apenas instrumentais para diagnosticar. Excluíam do contexto de cuidado, as histórias de vida e a escuta do sofrimento dos pais diante situação vivenciada. Estes ao deparar com a situação não a aceitavam, sentindo-se culpados pelas filhas terem adquirido a doença. Os pais sofrem diante da possibilidade de rejeição das filhas ao associá-los ao sentimento de dor, pois são estes que realizam todos os cuidados, caracterizados como dolorosos para as crianças. Acariciar, dar banho, trocar fraldas, demandam esforços suficientes para provocar a formação de bolhas. Os pais temem a discriminação que a sociedade poderá manifestar, pois o estigma e receio de contágio da doença permeiam o pensamento das pessoas. Evidenciaram-se discursos emocionais, cuja fé torna-se mecanismo de conformação, seja como fonte de forças para enfrentar as dificuldades das filhas, como nos processos de cuidados psíquicos dos pais.

CONCLUSÃO:

Relata-se que o nascimento de uma criança com Epidermólise Bolhosa Congênita afeta profundamente a família e acarreta conseqüências de ordem psíquica e, ainda, que a condição econômica desfavorável agrava inevitavelmente a situação. A clínica ampliada torna-se um instrumento imprescindível para efetivar a integralidade do cuidado. Para isso, é necessário que a escuta qualificada faça-se presente durante a relação estabelecida entre os acadêmicos de enfermagem e os usuários, na perspectiva de tomar a clínica em sua dimensão ampliada, qualificando a escuta acerca do padecimento do doente, procurando ir além do diagnóstico de sinais e sintomas, auscultando as subjetividades produzidas na condição do adoecimento.

Palavras-chave: Clínica Ampliada, Cuidado, Epidermólise Bolhosa.