62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Gestão e Administração - 4. Gestão de Negócios
MICROCRÉDITO E GÊNERO: UMA POSSIBILIDADE DE RENDA
Ana Letícia Vieira Pizzi 1
1. CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE MACEIÓ - CESMAC / FAC. CIÊNCIAS SOCIAIS APLIC -FCSA
INTRODUÇÃO:

Esta pesquisa teve como objetivo analisar a relevante inserção das mulheres como atrizes fundamentais na solicitação de microcrédito. O microcrédito tem o papel de atender camadas sociais menos favorecidas, devido aos baixos valores emprestados e à facilidade burocrática, se comparado com as instituições financeiras tradicionais. Os microcréditos populares têm servido também para aumentar a renda das mulheres e seus dependentes, uma vez que essas aparecem como seu público majoritário. Nesse sentido, o propósito foi analisar se o acesso ao microcrédito por parte das mulheres vem garantido a subsistência e aumentado as alternativas de trabalho, seja na ampliação de seus negócios ou na criação de novas oportunidades financeiras. Quanto à questão de gênero, que busca problematizar as relações entre homens e mulheres e os papéis que cada um desempenha na sociedade e o poder estabelecido entre eles, a intenção foi avaliar o impacto nas relações de dependência dessas mulheres em relação aos seus companheiros.

METODOLOGIA:

         A pesquisa foi de natureza qualitativa utilizando como método de pesquisa a História de Vida, também conhecida como Narrativa de Vida, o que possibilitou uma maior aproximação com o cotidiano das atrizes que fizeram parte desta pesquisa. Foram entrevistadas 4 mulheres, que vem utilizando o microcrédito para aumentar suas rendas e alavancar suas oportunidades de negócios. O interesse na história de vida dessas mulheres foi o de buscar levantar questões subjetivas e particulares, abordando as singularidades da participação feminina diante de um segmento menos favorecido e com menos oportunidades de acesso ao mercado de trabalho formal. O perfil sócio-econômico dessas mulheres é de classe baixa, com padrão de vida e de consumo baixo em relação às demais camadas sociais. Das 4 entrevistadas, 3 tinham mais de 50 anos de idade e coincidentemente com nível escolar até a 4ª e 5ª séries do ensino fundamental. Apenas uma entrevistada, cuja faixa etária era de 30 anos, possui o ensino médio concluído. Todas possuem companheiros e apenas uma não tem filhos. Todas afirmaram ter tarefas domésticas, com maior ou menor auxílio dos companheiros.

RESULTADOS:

A idéia do microcrédito surgiu inicialmente em Bangladesh, na Índia, em 1976, através do Professor de Economia Muhammad Yunus. Com seu próprio dinheiro e com ajuda dos alunos, iniciou um trabalho de concessão de empréstimos para mulheres que viviam na zona rural, fato que ficou conhecido no mundo todo. O Brasil teve sua primeira experiência em 1973 destinando empréstimos para o setor informal urbano, especialmente na região Nordeste. Segundo dados recentes da ONG Portosol, a demanda por este tipo de empréstimo no Brasil, é composta por 52% de mulheres e 48% de homens, com inadimplência geral de 4,8%, considerada baixa. Os dados coletados mostraram que em todos os 4 casos, o agente de crédito foi à suas comunidades para apresentar a proposta. Constatou-se também que todas mulheres trabalham desde muito jovens, em geral a partir dos 12 anos de idade, junto com algum membro da família. Uma característica importante foi o tipo de atividade escolhido por essas mulheres, que facilitavam conciliar as atividades domésticas com as financeiras. Uma era artesã, outra confeiteira de bolo, doces e salgados, outra vendedora de lingerie e outra proprietária de uma lan house na residência de sua mãe. Todas trabalhavam em casa, não tanto por opção, mas por condição colocada por seus companheiros.

CONCLUSÃO:

A pesquisa revela que o microcrédito teve um impacto positivo nas atividades econômicas dessas 4 mulheres, uma vez que facilitou o acesso dessas mulheres na esfera econômica, ainda que informal, promovendo certa autonomia financeira, incentivando o empreendorismo e elevando a sua auto-estima, no sentido de sentirem-se produtivas. Foi marcante, sob a ótica do gênero, a influência da família, principalmente de seus companheiros, uma vez que a escolha da atividade a ser financiada pelo microcrédito deveria sempre estar de acordo com os interesses dos mesmos. Percebeu-se uma dupla jornada de trabalho, mas com certa flexibilidade de horários, por serem autônomas na gestão de seus pequenos negócios. O microcrédito serviu para gerar renda e certa autonomia financeira para essas mulheres, mas ainda não é um modelo para ascensão social e erradicação da pobreza. Porém, é notória a melhoria da qualidade de vida, uma vez que o pequeno lucro e a renda gerada são destinados principalmente para a saúde e a educação de seus filhos e de si mesmas.

Palavras-chave: Microcrédito, Gênero, Renda.