Os primeiros estabelecimentos de educação infantil no Brasil surgiram no final do século XIX, com caráter assistencialista, hospitalar, higiênico. Em decorrência disso, no que diz respeito à educação de "crianças pequenas", a sociedade tratou de definir o papel destes profissionais: sexo feminino, caridosa, simpática, que tem amor às crianças, vocação e dom para exercer a profissão, relegando à educação infantil como tarefa de tios e tias, que poderia ser exercida por qualquer pessoa sem formação. Era suficiente ter boa vontade e afinidade com aquelas, o que consequentemente, preenchem as atribuições de mãe/educadora nata, o que muito tem suscitado debates a respeito dos significados atribuídos aos professores desse nível de ensino. Cientes disso realizamos uma pesquisa com uma professora da rede pública municipal de ensino da Prefeitura de Bom Jardim com o intuito analisar as suas concepções sobre o que é ser professor de educação infantil. Tal investigação teve grande importância, uma vez que nos levou a reflexões mais precisas e sistemáticas a respeito de quais significados vêm sendo atribuído ao trabalho docente neste nível de ensino: o de mãe ou professora?

A atividade científica de investigação se deu de forma bastante organizada. Tendo como paradigma orientador a abordagem qualitativa da pesquisa, realizamos uma investigação de caráter exploratório, descritivo, explicativo, interpretativo, dialético e etnográfico que teve como sujeito uma professora da rede municipal da Prefeitura de Bom Jardim que lecionava em uma turma de educação infantil. A escolha do sujeito foi feita com base em critérios diversos, dentre eles, a sua formação superior - curso de Graduação em Pedagogia e Especialização em Psicopedagogia. Esse critério levou-nos a acreditar que o trabalho da referida professora não denotaria o significado de mãe, de tia, ou de uma pessoa que trabalha nesta área porque "gosta de crianças". Assim, para coletar os dados necessários, foram usados os seguintes instrumentos: a entrevista semi-estruturada e o diário de campo, os quais foram analisados à luz dos estudos sobre os conhecimentos necessários para a docência na educação infantil (ALVES, s/d ;FRIGOTTO, 2001). 

A especificidade da educação infantil e as suas funções definem o perfil destes profissionais, que devem ser responsáveis pelo cuidar e educar das crianças, requerendo dessa forma, ações muito bem planejadas. Constatamos uma primazia da educadora no que diz respeito às qualidades pessoais e à afetividade nas relações educativas, chegando a afirmar que o senso materno supre as lacunas da formação. Para ela, o prazer pelo trabalho é primordial, destacando, o amor e a afinidade pelas crianças, o que relega para o segundo plano questões meramente profissionais. Nesse prisma, a professora alinha-se na concepção de mãe/educadora nata, que está de certa forma, arraigada nas instituições de educação infantil, que, algumas vezes, chegam até mesmo a desvalorizar os profissionais desta área, por acreditarem que estes realizam atividades que privilegiam apenas contatos sensoriais e afetivos.

A partir dos resultados, percebemos que "o amor à profissão" se sobressai na prática da professora pesquisada, pois a mesma apresenta a visão de que as qualidades maternais são mais importantes que o trabalho pedagógico com os alunos. Mesmo com a formação acadêmica necessária para lecionar na Educação Básica, a educadora tem concepções distorcidas sobre essa etapa de ensino. Queremos deixar claro que consideramos a afetividade como fator importante nas relações interpessoais na escola, entretanto, não deve se sobrepor às questões pedagógicas.  Acreditamos ser necessário discutir mais sobre a formação de professores da Educação Infantil para que a docência seja reconhecida como trabalho qualificado.