62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística
ENTRE CORPOS, AVENTURAS E HERÓIS: DISCURSOS DE/SOBRE MASCULINIDADE NAS REVISTAS A ESPADA SELVAGEM DE CONAN, O BÁRBARO
Maria do Socorro Correia Lima 1
1. Universidade Estadual de Campinas
INTRODUÇÃO:

As histórias de Robert Ervin Howard sobre Conan, o bárbaro - e também sobre Kull, o rei da Valúsia, uma criação anterior a Conan - ajudaram a determinar a disposição e o aspecto da fantasia heróica como subgênero da fantasia: a ênfase em um herói que é um guerreiro poderoso, hábil espadachim, de configuração violenta e contrária às hipocrisias e fraquezas da civilização, e que sempre se defrontava com ameaças sobrenaturais, e sobre as quais sempre preponderava (feiticeiros, demônios, sacerdotes e/ou outras criaturas de eras perdidas no tempo). Conan é um bárbaro de olhos ferozes, saqueador, assassino frio, com gigantescas crises de melancolia e não menores fases de alegria e mãos eternamente crispadas sobre o cabo de uma formidável espada, pronta a ser brandida na luta e humilhar os frágeis tronos da Terra. Ele materializa, nos quadrinhos, um aspecto característico dos contos de fada: o ser humano que, diante de uma situação aparentemente insuperável, domina-a e ressurge ainda mais forte. O corpo másculo, a aparência brutal do macho e o ambiente aparentemente hostil são apenas alguns dos exemplos que podem ser salientados com a finalidade de evocar a cenografia presente nos quadrinhos das revistas A espada selvagem de Conan (Editora Abril).

METODOLOGIA:

Este trabalho se inscreve na Análise de Discurso Francesa (AD), ancorado sob os postulados de Michel Foucault, e pretende analisar os efeitos de sentidos construídos/veiculados de/sobre masculinidade nas histórias em quadrinhos da espada selvagem de Conan, o bárbaro. Tendo como ponto de partida o material analisado - revistas em quadrinhos que incluem textos verbais e imagens -, adota-se uma perspectiva discursiva verbo-visual. Portanto, a atividade analítica será norteada pela concepção de prática intersemiótica, proposta por Maingueneau (1984), na qual textos de domínios semióticos diferentes (verbal e não verbal) derivam das mesmas restrições discursivas e, portanto, devem ser interpretados tendo por base a mesma grade semântica; e pelo conceito de intericonicidade proposto por Courtine (2005), em que toda imagem se inscreve em uma cultura visual, e essa cultura visual supõe a existência para o sujeito de uma memória visual, de uma memória das imagens e toda imagem tem um eco.  

RESULTADOS:

As histórias encenadas nas revistas A espada selvagem de Conan destacam não só cenários heróicos e de aventuras inusitadas, mas também enfatizam o vigor físico, a robustez do macho e a aparência brutal como modelo de masculinidade desejável. Os recortes  analisados de algumas aventuras de Conan sugerem que a forma de enunciação constrói um corpo constitutivamente relacionado à robustez e à virilidade. Assim, as associações são tecidas entre corpo, força, insensibilidade e crueldade. Em uma palavra: força corporal está intimamente relacionada com masculinidade, potência muscular e narcisismo, haja vista que o herói (Conan) dirige seu olhar (e chama a atenção do sujeito-leitor) para seu corpo milimetricamente esculpido. Um corpo musculoso, forte e viril vem histórica e culturalmente se tornando ponto de referência de corporeidade masculina, enquanto corpos que se desviam deste padrão estético são em geral ridicularizados ou, até mesmo, excluídos dos meios de comunicação. Assim, músculos são sinônimos de masculinidade, legitimando um ideal de virilidade e força, potencializado através da mídia sobre o imaginário de jovens homens.

CONCLUSÃO:

A valorização da masculinidade na cultura ocidental atual tem seus alicerces estabelecidos sobre a explicação bíblica de Eva sendo criada, do homem e para o homem, a partir da costela de Adão. No livro do Gênesis, disse Deus à mulher, como castigo pelo pecado original: Multiplicarei os teus trabalhos e teus partos. Darás à luz os filhos com dor e estarás sob o poder do marido e ele te dominará. Estabeleceu-se, pois, na esfera simbólica, a dominação masculina e as mulheres passaram a ser definidas como o segundo sexo, entendidas este não apenas no sentido da ordem cronológica da criação, mas ainda no sentido de secundário e submisso.  Na revista A espada selvagem de Conan, a masculinidade está relacionada ao homem extremamente forte fisicamente. Mas a palavra forte tem outros efeitos de sentidos, pois pode ser entendida de diversas formas: vigoroso, robusto, seguro, instruído, poderoso, nutritivo, substancioso, sólido, consistente, dentre outros. No caso das histórias em quadrinhos de heróis, observa-se uma heterogeneidade de representações corporais masculinas que demonstram variar conforme a configuração do personagem.

Palavras-chave: Corpo, Masculinidade, Histórias em Quadrinhos.