São plenamente reconhecidas as dificuldades existentes nos processos de transferência e apropriação de tecnologias ou inovações tecnológicas na agricultura familiar brasileira. Quando se agregam a esse panorama características comuns aos agricultores familiares da região Nordeste, já citadas em vários estudos, tais como: pequeno tamanho da propriedade, risco e incerteza, capital humano com baixo nível de escolaridade, forma de domínio sobre a terra (arrendamento, parceria, direitos de propriedade), disponibilidade de trabalho, crédito, assistência técnica insuficiente, visualiza-se um cenário de dificuldades ainda maior.

A EMPARN - Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte considera o acesso à informação, à inovação tecnológica e à profissionalização de produtores familiares, técnicos e instrutores multiplicadores, como uma das condições essenciais à melhoria dos índices produtivos da agricultura familiar no semiárido.

O presente trabalho objetiva discutir como estudo de caso, a experiência da EMPARN, na construção, implementação e condução do Circuito de Tecnologias Adaptadas para a Agricultura Familiar, como metodologia voltada ao fortalecimento do processo de transferência e apropriação de tecnologias para a agricultura familiar no Rio Grande do Norte.

Dentre a variada gama de métodos utilizados para a difusão dos resultados de pesquisa, neste trabalho fez-se a escolha pela metodologia de dias de campo, cujo objetivo principal é oferecer aos participantes um dia de atividades, no qual o produtor tem a oportunidade de interagir com pesquisadores, extensionistas e outros produtores, sobre as diversas tecnologias consideradas apropriadas para a agricultura familiar.

      Como recursos audiovisuais são utilizados álbuns seriados, painéis e banner´s. Nas atividades práticas são empregados os materiais e equipamentos necessários aos processos de aprendizagem de cada estação. A metodologia consta de uma apresentação inicial condensada do(s) instrutor(es), sobre as principais tecnologias disponíveis para a atividade em questão, os principais gargalos existentes para o desempenho produtivo, práticas racionais de manejo e informações de mercado. O segundo momento é destinado à participação dos produtores, conduzida de forma a que apresentem um perfil dos principais problemas da atividade e suas experiências nas diferentes regiões. O último segmento é destinado a práticas de manejo na atividade, selecionadas pelos instrutores.

          Eventos como o Circuito compõem apenas um segmento de um programa de transferência e apropriação de tecnologias, torna-se difícil mensurar o impacto, assim como a eficiência e eficácia da proposta. Tem sido discutida a necessidade de continuidade do processo com a implantação e acompanhamento de unidades demonstrativas sobre as temáticas apresentadas, em unidades familiares nas diferentes regiões.

Em 2007, Pinheiro & Fonseca (2007) coordenaram a aplicação de 3.293 questionários aos participantes do Circuito com perguntas específicas destinadas a cada uma dos temas estudados. Nesses questionários foi incluído um segmento de avaliação de Circuitos anteriores, para ser aplicado somente com agricultores com participações nesses eventos, em que 640 agricultores avaliaram as informações recebidas e o impacto por elas ocasionado em seus estabelecimentos.

Quadro 1 - Avaliação dos produtores sobre o alcance e resultados do Circuito

Fonte: Pinheiro & Fonseca (2007)

O Circuito de Tecnologias pode ser considerado uma importante ferramenta em ações de sensibilização e socialização do conhecimento técnico e científico para a agricultura familiar potiguar.

            O processo necessita ser complementado por atividades como unidades demonstrativas das tecnologias disponibilizadas, estabelecidas em unidades familiares regionais, incorporando também os saberes locais, com maior participação do extensionista no campo e maior formação de instrutores multiplicadores.

            Para fortalecimento das ações são fundamentais o planejamento e o desenvolvimento de ações coletivas locais, importantes para realimentação de demandas de pesquisa e para redirecionamento e ajustes da metodologia dos eventos, como forma de garantir uma renovação anual das informações disponibilizadas e maior participação dos agricultores familiares.