62ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia Florestal - 4. Conservação da Natureza
POSSIBILIDADES PARA A EXPLORAÇÃO DO MULATEIRO (Calycophyllum spruceanum) EM UM FRAGMENTO FLORESTAL SECUNDÁRIO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL RAIMUNDO IRINEU SERRA, RIO BRANCO, ACRE
José de Ribamar Bandeira 1
João Bosco Nogueira de Queiroz 1
Evandro José Linhares Ferreira 1
Janice Ferreira do Nascimento 2
Anelena Lima de Carvalho 3
Cleison Cavalcante de Mendonça 1
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA/Núcleo de Pesquisa do Acre
2. Universidade Federal de Lavras - UFLA
3. Fundação SOS Amazônia
INTRODUÇÃO:
O mulateiro (Calycophyllum spruceanum (Benth.) Hook. f. ex K. Schum. Rubiaceae) é uma espécie de médio a grande porte e rápido crescimento, típica de florestas primárias e secundárias de ambientes úmidos ou temporariamente inundados da Amazônia. Sua madeira tem grande valor comercial e é usada na elaboração de artigos torneados, esquadrias, tábuas, caibros e lenha. Na Área de Proteção Ambiental Raimundo Irineu Serra (APARIS), localizada nas cercanias de Rio Branco-AC, já foi observado que o mulateiro ocorre em alta densidade em alguns fragmentos florestais em avançado estádio de regeneração. A APARIS, que conta com uma área 843 hectares e tem entre os seus objetivos a proteção da biodiversidade e a promoção da exploração equilibrada dos seus recursos naturais, sofre pressão antrópica de moradores e invasores, que, entre outros produtos, retiram ilegalmente dos fragmentos florestais uma grande quantidade de madeira para ser usada como lenha. Neste contexto, o presente estudo objetivou a avaliação da abundância, distribuição espacial e estrutura diamétrica do mulateiro no maior fragmento florestal da APARIS para determinar se a população local da espécie tem potencial para ser explorada de forma racional para suprir a atual demanda de lenha.
METODOLOGIA:
O fragmento florestal da APARIS onde o estudo foi realizado possui cerca de 200 hectares de floresta em diferentes estádios de regeneração. Originalmente, toda a região onde se localiza a APARIS era coberta por floresta primária classificada como Floresta Ombrófila Aberta com Bambu e Palmeiras no sub-bosque. Hoje, apenas 30% da área possui cobertura florestal. A coleta dos dados foi feita em seis parcelas de 20 m x 250 m (0,5 hectares) alocadas de forma sistemática, resultando em uma área total estudada de 3 ha. Todos os indivíduos arbóreos com 10 ou mais centímetros de diâmetro a altura do peito (DAP), inclusos os de mulateiro, foram marcados com placa de alumínio e tiveram o diâmetro medido com auxílio de trena diamétrica. A altura comercial e total foi estimada por um único observador durante a realização do trabalho. A identificação botânica foi realizada com o auxílio de um identificador botânico prático com larga experiência em trabalhos similares na região. A análise dos dados foi feita com o software Mata Nativa versão 2.0, a partir de dados tabulados no programa Microsoft Office Excel 2007. Para a análise da distribuição espacial foi utilizado o índice de McGuinnes.
RESULTADOS:
Foram inventariados 856 indivíduos arbóreos classificados em 143 espécies, 98 gêneros e 43 famílias botânicas. O mulateiro apresentou o sétimo maior VI (7,9) e DoA=2,8 m²/ha (n= 44). Schizolobium amazonicum foi a espécie de maior VI (20,6) e DoA=20,8 m²/ha (n=28). Esta relação inversa se deve à menor quantidade indivíduos com diâmetro muito maior. O mulateiro apresentou distribuição espacial agregada, o que era esperado visto que a espécie muitas vezes é encontrada em agrupamentos quase homogêneos. Sendo uma espécie higrófita, sua ocorrência está condicionada à dinâmica de rios e igarapés, fato confirmado na APARIS pela maior presença do mulateiro em parcelas próximas ao igarapé São Francisco. A estrutura diamétrica do fragmento estudado seguiu o padrão usual de florestas tropicais inequiâneas (J-invertido), sugerindo a existência de um balanço entre o recrutamento e a mortalidade. A estrutura diamétrica, com 13 classes distintas, mostrou que 60,4% dos indivíduos estão na primeira classe (15 cm), 23,83% na segunda (25 cm), 9,11% na terceira (35 cm), e 3,39% na quarta (45 cm). Os demais se dividem em classes acima de 50 cm. O mulateiro foi a espécie mais numerosa na primeira classe de diâmetro (41), indicando que além da distribuição agregada, seus indivíduos são de pequeno porte.
CONCLUSÃO:
A exploração do mulateiro para a produção de lenha no fragmento florestal estudado parece ser factível em razão das excelentes características silviculturais da espécie, especialmente seu rápido crescimento e a tendência de formar aglomerações homogêneas, que teoricamente contribuem para diminuir o custo da exploração e minimizam o impacto nas outras áreas do fragmento. Entretanto, a condição diamétrica da população encontrada na APARIS sugere que a mesma ainda é muito jovem e que sua exploração poderia resultar em baixo aproveitamento de madeira/unidade de área explorada. Outro aspecto que não favorece a exploração da espécie é a limitação das áreas de várzea existentes na APARIS, fato que inviabilizaria qualquer tentativa de ampliar a densidade de indivíduos/hectare via expansão da população para áreas adjacentes.
Instituição de Fomento: ZEAS/Prefeitura de Rio Branco e Secretaria Municipal de Meio Ambiente/PMRB
Palavras-chave: Calycophyllum spruceanum, potencial de exploração, Acre.