62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL: SUAS INFÂNCIAS E SUAS CONDIÇÕES DE SOBREVIVÊNCIA.  
Luiza Andréa Araújo Braga Alves 1
Edineide Maria de Souza Santos 1
Maria Luiza Ferreira Duques 1
Débora Alves Feitosa 2
1. Universidade de Estado da Bahia - UNEB, campus XII
2. Universidade Federal do Reconcavo Baiano- UFRB
INTRODUÇÃO:

As infâncias são múltiplas e inventadas como produtos históricos e sociais, de modo que não é mais possível tratar de uma única infância, uma vez que estamos diante da existência de muitas outras, que de modos diversos sobrevivem. Assim, políticas públicas de atendimento à infância são básicas neste processo, tendo em vista que muitas crianças são vítimas do descaso do Estado na garantia dos direitos e benefícios sociais, da exclusão social, e, da má distribuição de renda. Como forma de amenizar a situação de abandono e sofrimento, surgiram nos últimos anos iniciativas da Sociedade Civil destinadas à sua assistência e cuidado. Procurando compreender como se constitui a infância das crianças assistidas por um Projeto Sócioeducativo, nos propomos conhecer a infância e as condições de sobrevivência a que estão submetidas. Dessa forma, buscamos entender como vivem essas crianças, onde estão, o que fazem, que espaços ocupam em nossa cidade? Como principais aportes teóricos utilizamos as idéias de Ariès (1981); Bazílio e Kramer (2003); Del Priore (2006); Dimenstein (1994); Dornelles (2005); Nunes (2003); Passett (2006); Ramos (2006); Rizzini (2006); Vasconcellos (2005); Volpi (2006) dentre outros.

METODOLOGIA:

Inicialmente empreendemos uma pesquisa bibliográfica a fim de nos apoderarmos da referenciação teórica pertinente ao estudo. Fundamentamos no pressuposto da linha qualitativa, por ser ela "aquela que envolve a imersão do pesquisador no campo, considerando este como o cenário social em que tem lugar o fenômeno estudado em todo o conjunto de elementos que o constitui e que por sua vez é constituído por ele" (GONZÁLES 2002, p.81).  Apropriamo-nos de alguns fundamentos da etnografia e os procedimentos de coleta de dados adotados foram observação com registro em diário de campo e entrevistas semi-estruturada. A investigação ocorreu no Projeto Sócioeducativo Monte Pascoal e Sol Nascente, na cidade de Guanambi-BA, e teve como objetivo conhecer a infância e as condições de sobrevivência das crianças assistidas pelo projeto. A amostra foi composta por 09 crianças na faixa etária de 05 a 10 anos de idade e suas famílias, 03 educadoras e 01 funcionária do projeto, totalizando-se 22 sujeitos entrevistados.

RESULTADOS:

No enfoque da constituição da infância de crianças em situação de vulnerabilidade social, identificamos que os espaços ocupados pelas crianças são múltiplos, variando de acordo a formação familiar. Averiguamos uma série de fatores da estrutura socioeconômica das famílias, começando pelas práticas assistencialistas, que não são suficientes para contemplar a população de baixa renda, o que reflete diretamente nas crianças, por ser elas, as mais necessitadas de amparo e cuidados. Para tanto, problema como baixa escolaridade, desemprego, número expressivo de habitantes por residências, foram indicativos que justificavam a insuficiência de recursos que garantam a sobrevivência das crianças. Não apenas questões de ordem financeira, mas também fatores de ordem psicológica e cultural foram percebidos como empecilhos para uma estruturação familiar satisfatória. O modelo das famílias não condiz com a configuração familiar tradicional, pois há crianças que vivem em um universo familiar heterogêneo. Os olhares lançados sobre estas crianças preocupam-se muito pouco em refletir suas particularidades, visto que, as ações desenvolvidas em torno das mesmas, não são mais que reflexos daquilo que o adulto considera prioridade para si, em detrimento ao que a criança verdadeiramente necessita.

 

CONCLUSÃO:

Constatamos que as crianças pesquisadas, como tantas outras, passam por negligências, e quando são lembradas, são como ameaça à sociedade. Diante das desigualdades que existem no terreno da infância, mais reforçada ainda com a exclusão e violência, as crianças criam estratégias de sobrevivência que mais constituem uma resistência às práticas dos adultos que uma especificidade da condição de criança. Verificamos que, salvo pouquíssimas exceções, as crianças são expostas a todos os tipos de violências. Tanto no meio familiar, quanto nas ruas, os pequenos sofrem e praticam atos de violência, demonstrando está presente em todas as esferas da vida social.

Com base nessas afirmações, esperamos que a pesquisa alerte os órgãos responsáveis pela proteção e seguridade das crianças a olhar mais atentamente para esta população. As considerações que estamos apresentando não constituem um fechamento definitivo, uma vez que se oferecem basicamente como possibilidades que se abrem para a infância no contexto social. Essas possibilidades trazem consigo significados que mais se apresentam como chamamento a novas reflexões. Como aponta Rousseau (apud SANTOS 2006, p. 27) "não se conhece a infância; no caminho das falsas idéias que se têm, quanto mais se anda, mais se fica perdido [...]".

Palavras-chave: Infância, Cuidados, Políticas Públicas.