62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
"O JOGO DA PIZZA": UMA EXPERIÊNCIA INVESTIGATIVA A RESPEITO DA FUNÇÃO ENERGÉTICA DOS NUTRIENTES COM ALUNOS DE 8º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Maria de Fátima Alves de Oliveira 1
Maurício Roberto Motta Pinto da Luz 1
1. Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz
INTRODUÇÃO:

O principal motivo para o desenvolvimento desta pesquisa centra-se no fato de detectar-se especificamente na Educação Básica, uma abordagem superficial de temas relacionados à nutrição. Tais abordagens são comumente baseadas em mera reprodução do que é veiculado em livros didáticos resultando em concepções incorretas sobre os nutrientes e o metabolismo, entre alunos e mesmo entre professores (Oliveira e cols. 2003, Luz, 2008, Luz e cols. 2008). Os conceitos presentes nos livros didáticos de Ciências, freqüentemente determinam o conteúdo e a metodologia utilizada em sala de aula, valorizando o ensino informativo e teórico (Krasilchik, 2005). Por outro lado, atividades investigativas requerem do aluno diferentes habilidades. Nesse estudo, utilizamos uma atividade de ensino sobre atitudes e prática alimentares dos alunos envolvendo a construção de uma pizza e a identificação da função energética dos nutrientes. Acreditamos que concepções incorretas sobre as funções dos nutrientes, em especial sobre suas relações com a produção de energia pelo organismo, podem representar barreiras para a construção de atitudes e práticas alimentares adequadas. Nesta pesquisa, tratamos de uma ação educativa sobre as funções dos nutrientes e de sua possível influência nos hábitos alimentares.

METODOLOGIA:

A atividade de ensino envolveu a participação dos alunos do 8º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública situada na zona oeste do município do Rio de Janeiro, numa abordagem investigativa a respeito da composição nutricional dos alimentos, baseada na construção de uma pizza. A turma foi dividida em duplas e cada uma recebeu um kit do jogo que era constituído de 30 rótulos de alimentos industrializados, um prato de papelão, que representava a massa da pizza e uma tabela denominada de Placar Alimentar, onde cada dupla deveria listar os nutrientes presentes nos rótulos. Os rótulos deveriam ser colados no prato de papelão. Foi dado um tempo de 20 minutos para que todas as duplas construíssem a pizza de sua preferência, com os rótulos de alimentos industrializados que receberam. Após esse tempo, cada dupla deveria relacionar na tabela recebida os nutrientes que se encontravam em maior ou menor freqüência, na pizza por ela construída. Após o preenchimento da tabela por todas as duplas, foi discutido sobre os nutrientes que mais se destacavam e aqueles que menos apareciam. Após a discussão sobre os mesmos, o valor calórico dos nutrientes foi calculado. A partir desse ponto, discutimos com as duplas a função energética dos nutrientes e o valor calórico das pizzas era calculado.

RESULTADOS:

Como os alunos construíram uma pizza como atividade de ensino para identificar o valor calórico dos nutrientes, a nossa expectativa era de que percebendo que os alimentos apresentavam diferentes valores calóricos, os alunos pudessem optar ao menos em situações de sala de aula, por uma alimentação menos calórica e mais diversificada. Isso refletiria uma mudança de atitude em relação à alimentação. Havia uma variedade de ingredientes o que por si só implica numa variedade de escolha para compor a pizza. Os dados obtidos em relação ao valor calórico das pizzas revelaram que as pizzas construídas pelas duplas apresentavam alto valor calórico devido à grande quantidade de ingredientes ricos em carboidratos, proteínas e gorduras. Em contrapartida possuíam poucas vitaminas e sais minerais, com exceção do sódio, que se apresentava com um percentual bem elevado em todas as pizzas construídas. Como muitas duplas utilizaram números diferentes de ingredientes em cada pizza, calculamos valor calórico médio dos ingredientes (VMIs), o que torna irrelevante o número de ingredientes utilizados em cada pizza. A proposta contribui para a identificação de outros nutrientes energéticos além dos carboidratos e que as atitudes dos alunos frente à sua própria alimentação poderiam estar sendo influenciadas pelo aprendizado.

 

CONCLUSÃO:

A atividade de ensino envolveu a participação dos alunos numa abordagem investigativa a respeito da composição nutricional dos alimentos. A proposta desenvolvida em dupla a partir de uma situação lúdica e de interesse para os alunos mostrou-se eficaz no ensino da função energética dos nutrientes, em contraste com o ensino classificatório muitas vezes utilizado no ambiente escolar. Durante o desenvolvimento da atividade do "Jogo da Pizza", os conceitos formados pelos alunos a respeito dos nutrientes eram revelados pelas suas atitudes quando utilizavam o cotidiano para exemplificar determinadas situações durante as discussões, por exemplo: "A minha avó tem pressão alta e não pode comer sal" e "A minha mãe está fazendo dieta para emagrecer e o médico disse que ela deve evitar frituras e massas".  Correlacionar o conteúdo com o cotidiano do aluno é uma estratégia que evita a simples memorização de conceitos. De um modo geral as atividades investigativas podem auxiliar na formação de conceitos, fomentarem o desenvolvimento cognitivo do aluno e podem criar um ambiente favorável à aprendizagem pelas interações professor-aluno e aluno-aluno, estabelecendo uma relação entre Ciências e o cotidiano de modo que o mesmo possa entender o que acontece ao seu redor.

Palavras-chave: atividade investigativa, nutrientes, função energética.