62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
QUESTÕES DE LINGUAGEM: FATORES QUE INTERFEREM NA APRENDIZAGEM DOS ALUNOS DA ETNIA TIKUNA
Jorge Luís de Freitas Lima 1
Edinho Lopes Figueira 1
Fernando Andrade da Silva Filho 1
1. INC/BC da Universidade Federal do Amazonas - UFAM
INTRODUÇÃO:
Desafios se apresentam quando se discute a proposição de uma educação inclusiva, principalmente no que se refere à universalização do acesso aos diversos níveis de conhecimento. Por isso, toda ação nesse sentido deve considerar e valorizar os conhecimentos resultantes das práticas e tradições dos diferentes povos. Em se tratando de educação que envolva alunos indígenas, atenção especial deve ser dedicada às questões relativas à linguagem, pois é a partir dela que se viabiliza o acesso ao conhecimento sistematizado por meio de suas modalidades (oral ou escrita) durante o processo ensino-aprendizagem. Assim, este trabalho é o resultado da investigação cujo objetivo foi identificar os fatores relacionados à linguagem que interferem na aprendizagem dos alunos da etnia tikuna que cursam Antropologia, no Instituto de Natureza e Cultura de Benjamin Constant - INC/BC, da UFAM. A opção pelas questões de linguagem conferiu relevância à pesquisa, pois seus resultados possibilitarão aos envolvidos no processo ensino-aprendizagem compreender a realidade vivenciada pelos alunos tikuna no ambiente universitário, para que sejam desenvolvidas ações pontuais que promovam uma inclusão que não se limite a garantir o ingresso deles na universidade, mas a permanência até o final do curso
METODOLOGIA:
O estudo foi desenvolvido no INC/BC, no curso de Antropologia que possui 202 alunos matriculados, dos quais 05 são da etnia tikuna. Desenvolveu-se pesquisa bibliográfica com o intuito de garantir um embasamento teórico que desse suporte à compreensão do objeto de estudo. Realizou-se posteriormente pesquisa de campo. Adotou-se o método de survey e, como instrumento para coleta de dados, a aplicação de questionários 03 (três) alunos da etnia tikuna escolhidos aleatoriamente: Aluno 1 (27 anos de idade, realizou ensino fundamental na comunidade e o médio na cidade, atualmente cursa o segundo período do curso de Antropologia), Aluno 2 (34 anos, ensino fundamental e médio na cidade e, atualmente, cursa o quarto período do curso de Antropologia), Aluno 3 (37 anos, fez ensino fundamental e médio na Colômbia, atualmente cursa o sexto período do curso de Antropologia). Foi realizada a análise das respostas dos questionários numa abordagem qualitativa, com destaque para as informações que apresentavam relevância para a compreensão de quem eram eles, seus objetivos em relação à universidade e para a existência de fatores que interferissem no processo ensino-aprendizagem, com ênfase em questões referentes à linguagem.
RESULTADOS:
Questionados sobre as dificuldades enfrentadas no curso, apontaram: em se expressar oralmente e na leitura, interpretação e escrita de textos científicos. Sobre disciplinas em que tiveram mais dificuldades: Metodologia da pesquisa, Filosofia, Sociologia e Português. Embora a maioria deles tenha convivido parte de sua vida escolar em contato com o português, preservaram a sua língua materna (língua tikuna). Pela análise das respostas deles, a língua portuguesa apresenta-se como um obstáculo ao aprendizado. As dificuldades mencionadas têm relação direta com a linguagem. Marcas na dificuldade de registro da escrita foram evidenciadas em construções como "escolhe porque não habia outro melhor, o seja, a falta de obsão" ou em "onde eu começa a compreender a sociedade entre indígena e civilizando". Ou ainda em "estou sendo bastante informados, creio serei um bom profissional na área cíencia social" (sic). Não se trata aqui de certo ou errado, mas de se considerar o quanto o uso da linguagem implica no processo ensino-aprendizagem. Priorizar a língua portuguesa em detrimento da de origem dos sujeitos desse processo e dos falares resultantes do contato entre elas, pode torná-la um obstáculo ao aprendizado.
CONCLUSÃO:
O uso exclusivo da língua portuguesa apresentou-se como um fator que compromete o processo ensino-aprendizagem dos alunos da etnia tikuna que cursam Antropologia no INC/BC. Os diferentes históricos de vida escolar, o contato maior com a língua tikuna em situações cotidianas nas comunidades, o distanciamento de aspectos de ordem fonológica, morfológica e sintática entre a língua portuguesa e a tikuna, aliados à falta de situações que oportunizem maior familiaridade com a língua portuguesa em contextos formais e científicos, dificultam sobremaneira o processo de leitura e interpretação de textos, bem como a prática de produção de textos. Como conseqüência, a falta de segurança em expressar-se em língua portuguesa, inibe esses alunos, constituindo-se em verdadeiros transtornos apresentações de trabalhos por meio da oralidade. Tudo isso compromete sobremaneira o aprendizado deles. Urge a necessidade do desenvolvimento ações com o intuito de solucionar os problemas detectados, ou pelo menos minimizá-los.
Palavras-chave: Linguagem, Ensino-aprendizagem, Língua tikuna..